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O Uso do esquecimento

A memória conecta, articula e relaciona elementos históricos. Por ela registramos na mente acontecimentos pretéritos, evitando o esquecimento. Mas há, infelizmente, quem se interesse deliberadamente em promover o ocultamento de confirmações históricas, no propósito de estabelecer uma amnésia social. O esquecimento sendo instrumentalizado para atender conveniências políticas. A conspiração forte contra o “lembrar”.

Evidencia-se um processo de exclusão histórica para que não se tenha conhecimento de realidades consideradas proibidas. O objetivo é fazer com que fatos reprováveis do passado sejam aceitos como normais, porquanto narrados de forma distorcida. O silêncio imposto oficialmente para desresponsabilizar culpados de outrora, no sequestro criminoso da nossa memória histórica.

Os que não sabem conviver com a democracia fazem da desmemória o instrumento para condução à inércia coletiva. É o apagamento intencional. Considerando que a memória nos transmite a história, é natural que alguns registros se tornem incômodos para manutenção de discursos políticos contemporâneos, porque se colocam em confronto com narrativas conhecidas.

Sabemos que se faz necessária uma permanente autocrítica da memória, propondo reconstruções segundo uma lógica de probabilidades. O que não deve, e não pode, é ser efetivada uma deliberada seletividade das narrativas históricas, com o intuito de distorcer verdades inquestionáveis, já consagradas em livros e artigos escritos por historiadores. As feridas feitas pela história não podem ser esquecidas. Elas devem ser relembradas para que não se repitam, preservando, inclusive, o conceito de moral como noção de justiça devida às vítimas.

A ideologização da memória provoca essa estratégia do esquecimento. A sua manipulação estruturada por detentores do poder, constitui-se grave dano de confiabilidade aos relatos históricos. A política do esquecimento, portanto, passa a ser adotada como política pública de anti-memória. Torna-se transparente a vontade de não informar e a de não permitir questionamentos sobre os males cometidos no passado. É a mobilização dos poderes públicos para ativar o “não querer saber”. O estímulo à alienação coletiva, reivindicando claramente a necessidade do esquecimento, buscando construir uma memória hegemônica em detrimento de memórias coletivas até então existentes. É preciso, pois, admitir o pluralismo das expressões memoriais, nas suas versões alternativas, procurando encontrar o equilíbrio entre a obsessão do passado e as tentativas de imposição do esquecimento.

Memórias mal compreendidas despertam os piores sentimentos. A negligência para com a história nos torna um país fraco de lembranças e de identidade. Tem ganhado força nas redes sociais e em declarações de agentes políticos o negacionismo histórico. O revisionismo clássico é necessário e importante. Porém, ele tem que ser realizado respeitando regras metodológicas da área. O revisionismo histórico não pode ser ideológico, porque compromete o conhecimento. Fraudar o passado em função de um projeto político, além de ser prática de má-fé, procura dar voz a discursos de dominação e opressão em virtude de diferenças ou divergências.

Rui Leitao

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Rui Leitão nasceu em Patos e é radicado em João Pessoa. Jornalista, já foi responsável pela superintendência da Rádio Tabajara. Atualmente é Diretor de Rádio e Tv da EPC – Empresa Paraibana de Comunicação.

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