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União nacional com a direita – A esquerda deveria ter vergonha de usar a bandeira do Brasil

Ou: como a esquerda renega a luta de classes e presta mais um serviço à burguesia.

Jones Manoel troca a bandeira do socialismo pela bandeira da colaboração de classes – Foto: Twitter/Jones Manoel

Tomei um susto com o barulho produzido pelo copo de vidro que caía no chão. Eu mal havia percebido que o deixara cair. Estava tão perto da minha boca, quando vi aquela cena que custou sair da minha mente. “O que esse idiota está dizendo?”, certamente questionaram muitos que também viram o triste espetáculo.

Enquanto varria os cacos de vidro, concordava com os questionamentos. “Que diabos está passando na cabeça desse primata?”

Iago Montalvão, presidente da UNE e, portanto, membro do PCdoB, discursava no ato de 19 de junho na Avenida Paulista. Pregava que o povo brasileiro deveria prestar continência à bandeira nacional. Seria algo absolutamente natural se saísse da boca de um Médici, de um Brilhante Ustra, de um Bolsonaro. Mas vindo de um militante supostamente comunista me incomodou muito.

Quando vi outro autodeclarado comunista, o treteiro de Twitter do PCB, Jones Manoel, ostentando a bandeira do Brasil no mesmo dia, entendi mais claramente o que estava ocorrendo. E depois que vi as propagandas de Guilherme Boulos nas redes sociais, não tive dúvidas: uma parte da esquerda está caindo na onda da burguesia, convidando a direita coxinha para participar dos atos de massas contra a mesma direita coxinha e bolsonarista.

A esquerda, que deveria reivindicar a luta dos oprimidos do Brasil e do mundo todo, precisa entender uma coisa: a bandeira do Brasil é sua inimiga. Não apenas pelo resultado que vimos recentemente, de sua utilização por aqueles que exploram o povo e entregam o País ao imperialismo. Mas pela própria essência e natureza do significado por trás da bandeira nacional.

O que representa a bandeira do Brasil?

Uma bandeira nacional representa, obviamente, uma nação. Representa o “todo”. Representa a “unidade nacional”. Isto é, a harmonia e a convivência pacífica entre todos os compatriotas. O repúdio ao “divisionismo” – termo tão utilizado pela direita que, em nome da nação, acusa a esquerda de dividir a sociedade.

É um nacionalismo de quinta categoria, abstrato. Esse repúdio ao “divisionismo” não é nada mais senão o combate à luta de classes, a negação da contradição entre as classes sociais antagônicas no País.

Mas como esse combate é impossível, uma vez que vai contra uma lei social que é o embate entre as classes sociais antagônicas, então esse combate só pode se dar em favor de uma classe social contra a outra. É o combate da burguesia contra a classe trabalhadora.

Por que a bandeira, os símbolos e a nação em abstrato assumem, então, o lado da burguesia? Porque a classe trabalhadora, tomando consciência da existência e da necessidade da luta de classes, trabalha, através de sua vanguarda consciente, para salientar a existência dessa divisão, desse antagonismo. A luta de classes é a luta da classe operária pela sua emancipação do jugo burguês. Assim, conforme o desenvolvimento dessa consciência e de sua luta, ela forma seu partido, isto é, separa oficialmente o interesse de sua parte da sociedade do interesse da outra parte antagônica, a burguesia. E, assim, desestabiliza ainda mais a dominação da burguesia, que precisa alimentar a ilusão da “unidade nacional”, da inexistência de interesses antagônicos, da inexistência de conflitos de classes, para manter as classes inferiores subjugadas. Por isso é uma tradição entre todos os partidos que se reivindicam da classe trabalhadora a utilização da cor vermelha em seus símbolos e em sua bandeira.

Por isso que, quando tomaram o poder, os bolcheviques substituíram a bandeira nacional russa, a bandeira do “todo” que era na verdade a bandeira da monarquia, pela bandeira vermelha com a foice e o martelo. A bandeira não representava mais um “todo”, não se tratava mais de uma nação de “todos”, da unidade nacional pela colaboração das classes antagônicas, mas sim da unidade, da aliança, entre as classes oprimidas, os operários e os camponeses.

Na medida em que torna-se simplesmente impossível conciliar os interesses das classes sociais antagônicas, então essa “unidade nacional” serve a um objetivo: submeter a classe oprimida – os trabalhadores, camponeses, juventude etc. – à classe exploradora – a burguesia capitalista.

Essa “unidade nacional” significa não só a tentativa forçada de conciliação entre as classes. Mais do que isso: significa a colaboração entre as classes. Elas não apenas deveriam tolerar-se mutuamente, mas trabalhar em conjunto.

A “unidade nacional” entre as classes antagônicas é, sobretudo, uma política fascista. É o que pregavam os integralistas brasileiros, inspirados pelos fascistas italianos e pelos nazistas alemães. Para os fascistas, a nação está acima das classes sociais. Ou, como diz seu lema, copiado pelos bolsonaristas: “Brasil acima de tudo.”

O chauvinismo barato fabricado pela burguesia levou ao desmoronamento da social-democracia em 1914, quando esta apoiou a pior de todas as desgraças, a guerra inter-imperialista pela dominação do mundo. Aquela que foi uma das maiores traições ao movimento operário internacional se deu exatamente em nome da famigerada “unidade nacional”, em nome do nacionalismo mais reacionário.

O Kautsky de 1914, se fosse brasileiro, estaria orgulhoso de ver o “comunista” Jones Manoel tremulando a bandeira do Brasil. Plínio Salgado, o Hitler tupiniquim, se emocionaria ao ouvir Iago Montalvão chamando o povo a bater continência para a bandeira nacional. A burguesia brasileira e o imperialismo certamente estão olhando essas cenas e dizendo: esses são bons comunistas. Os nossos comunistas. Os comunistas que negam a luta de classes. E que, assim, colaboram com nossa dominação.

Fonte: causaoperaria.org.br

Eduardo Vasco

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Redação DiárioPB

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