BRASIL

Presidente de Portugal se reune com Lula, janta com FHC e encontra Bolsonaro sem máscara; entenda.

Em sua visita de quatro dias ao Brasil, o presidente português Marcelo Rebelo de Sousa teve uma reunião reservada com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, participou de um jantar com o ex-presidente Fernando Henrique e se reuniu com o atual mandatário, Jair Bolsonaro, que não usava máscara.

AFFP 2021/MARCOS CORREIA

Em sua visita de quatro dias ao Brasil, o presidente português Marcelo Rebelo de Sousa teve uma reunião reservada com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, participou de um jantar com o ex-presidente Fernando Henrique e se reuniu com o atual mandatário, Jair Bolsonaro, que não usava máscara.

O fato foi destacado pela imprensa portuguesa, ressaltando que, apesar da grave situação da pandemia de COVID-19 no Brasil, apenas a delegação portuguesa usava máscaras. O encontro com Bolsonaro, em Brasília, na tarde desta segunda-feira (2), encerrou a agenda de Rebelo de Sousa no país. Ironicamente, a leitura da mídia lusitana é de que o presidente português desvalorizou a reunião.

Na parte da manhã, ele já havia se encontrado com Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, que registrou o evento em seu perfil no Instagram.

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“Brasil e Portugal têm que atuar como pontes para avançar na conclusão do acordo Mercosul-UE”, afirmou Lira à Sputnik Brasil através da sua assessoria.

Já na reunião entre Rebelo de Sousa e Bolsonaro, da qual participaram também os chanceleres de ambos os países, estiveram em pauta a reativação dos mecanismos de diálogo bilateral, em preparação para a próxima Cúpula Brasil-Portugal e as celebrações do bicentenário da Independência em 2022, entre outros temas, conforme a nota enviada pelo Itamaraty à imprensa.

“Os presidentes Bolsonaro e Rebelo de Sousa reafirmaram na ocasião a convergência entre Brasil e Portugal nos campos cultural, econômico, comercial e multilateral e reiteraram o compromisso mútuo de promover a recuperação econômica no contexto pós-pandemia”, lê-se em um trecho da nota.

Questionado pela imprensa portuguesa presente ao encontro em Brasília qual era a sua opinião sobre Bolsonaro estar sem máscara, Rebelo de Sousa desconversou.

“Não formulamos juízo relativamente à postura daqueles que nos receberam”, respondeu.

Conforme assinalou a imprensa portuguesa, o constrangimento era visível também por parte de Bolsonaro, que não escondeu o incômodo do encontro do presidente português com o Lula, líder nas pesquisas para as eleições presidenciais de 2022.

Celso Amorim conta bastidores da reunião com Rebelo de Sousa

A reunião com Lula foi o primeiro evento da agenda e durou 1h30m na noite da última sexta-feira (30), no Consulado de Portugal em São Paulo. Além do cônsul anfitrião, participaram da conversa reservada o chanceler português, Augusto Santos Silva, e Celso Amorim, que foi ministro das Relações Exteriores no governo Lula.

Em conversa com a Sputnik Brasil, Amorim comentou os bastidores da reunião.

“Foi um encontro muito agradável, cordial e amigável. O presidente de Portugal convidou o presidente Lula para ir ao consulado, pois se interessou pelos planos de Lula e pela análise que ele tem da realidade atual do Brasil e dos problemas que a gente enfrenta. Foi uma conversa descontraída, sem uma pauta com item a item”, explica.

No encontro, eles falaram sobre as relações bilaterais entre os dois países e do Brasil com a União Europeia. Questionado se Rebelo de Sousa se mostrou preocupado com a situação brasileira atual, Amorim é diplomático e diz que o presidente português ouviu mais do que falou.

“Você conhece as opiniões do presidente Lula, e ele falou com muita franqueza. O presidente de Portugal se interessou em ouvir de maneira muito simpática. Ele deixou o Lula falar e fez perguntas sobre a visão do presidente”, resume

Questionado pela Sputnik Brasil se uma das pautas da reunião foram as eleições presidenciais brasileiras de 2022 e se Lula se apresentou como candidato, Amorim afirma que o assunto foi abordado apesar de não se recordar completamente de que forma.

“Dentro da análise da conjuntura, falar das eleições é inevitável, mas dentro de um contexto geral. Essa hipótese [Lula ser candidato] terá sido mencionada no meio da conversa”, completa.

O encontro foi registrado pelo próprio Lula, com uma foto ao lado de Rebelo de Sousa, postada em suas redes sociais. Na saída do consulado, o presidente português confirmou que ouviu a visão de Lula, mas, questionado se o líder do Partido dos Trabalhadores (PT) falou de suas ambições políticas e eleitorais para 2022, ele falou que “são conversas para ouvir e não para expor publicamente”.

Pode ser uma imagem de 2 pessoasDiálogo fraterno de Lula com o presidente de Portugal Marcelo Rebelo de Sousa, que chegou hoje no Brasil para participar da inauguração do Museu da Língua Portuguesa. Conversamos muito sobre as relações Brasil-Portugal e União Europeia. Um agradável encontro. Foto: Ricardo Stuckert

“O importante é registar o ponto de vista de quem foi presidente do Brasil e continua a acompanhar a situação no Brasil, as relações com Portugal e a situação internacional”, disse Rebelo de Sousa na ocasião.

Ausência de Bolsonaro em reinauguração de museu gera ‘saia justa’

No sábado (31), ele participou da reinauguração do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, principal motivo de sua viagem ao Brasil, aprovada pelo Parlamento português com essa finalidade. No entanto, o que era para ser apenas um evento de celebração da lusofonia tornou-se também um palco político para o governador João Dória (PSDB), que aproveitou para destilar suas críticas a Bolsonaro.

O próprio Dória reconheceu que Rebelo de Sousa passou por uma ou duas “saias justas”. A principal delas ocorreu ao ser questionado sobre a ausência de Bolsonaro, que trocou o evento por mais uma motociata em Presidente Prudente, no interior de São Paulo. Hábil com as palavras, o chefe de Estado recorreu a um ditado português.

“Só respondo por Portugal. Gosto muito do que se diz no Minho que é: dança quem está na roda. Eu estou nesta roda, estou muito feliz por estar nesta roda e nesta dança. Esta é uma dança que pensa no futuro da língua portuguesa e de 260 milhões de pessoas. Isso para mim é o mais importante”, ensinou.

Em entrevista à Sputnik Brasil, o sociólogo Moisés de Lemos Martins, professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, avalia que o estadista se esquivou da pergunta com a sabedoria minhota.

“Isso é uma linguagem popular. Quem está na roda é quem está em festa, aqueles que se dispõem a dançar, a esse objetivo, quem sonha da mesma maneira”, explica Martins.

Diretor do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, ele ressalta que, apesar de o Museu da Língua Portuguesa não ser um projeto do governo federal, mas do estado de São Paulo, o empreendimento é de extrema relevância, tanto que estavam presentes também à reinauguração os ex-presidentes Michel Temer e Fernando Henrique Cardoso.

Martins recorda que Bolsonaro também não esteve presente na cúpula de Luanda, onde os chefes de Estado da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) assinaram o Acordo de Mobilidade do bloco. O Brasil foi representado pelo vice-presidente, Hamilton Mourão. O mandatário brasileiro acabou sendo internado na data, mas ele já havia descartado o evento para dar prioridade a uma agenda nacional.

“Esta não é a dança do presidente brasileiro. É uma pena. A partir da língua que [se desenvolvem] ações comuns de cooperação, de raio estratégico para os povos, é um assunto de toda importância. É uma tristeza o que aconteceu em São Paulo, pois o museu é do interesse de todo o espaço da língua portuguesa. Embora seja um projeto do governo de São Paulo, não tem a ver com esquerda e direita, mas com um sonho em comum que temos a desenvolver”, lamenta.

Moisés Martins, professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, em Portugal
© FOTO / DIVULGAÇÃO/UMINHO
Moisés Martins, professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, em Portugal

Jantar com FHC não teve caráter político, alega fundação do ex-presidente

Outro momento delicado na reinauguração do museu foi quando Rebelo de Sousa foi confrontado com o fato de muitos escritores portugueses não seguirem o Acordo Ortográfico selado entre os países. O presidente negou que haja uma guerra linguística, mas apenas a livre opinião sobre adotá-lo ou não, e afirmou que “a nossa língua é feita de democracia no falar e no escrever”.

Após o evento no Museu da Língua Portuguesa, o presidente lusitano participou de um jantar no Consulado de Portugal com convidados, entre os quais o ex-presidente Fernando Cardoso (FHC). Em nota enviada à Sputnik Brasil, a Fundação FHC confirmou o encontro, mas negou que tenha sido de caráter político.

“Eles se encontraram em um jantar organizado pelo consulado português, de caráter social e não político, com a presença de vários convidados”, lê-se na nota.

Durante sua estadia no Brasil, Rebelo de Sousa também ouviu reclamações de 50 luso-brasileiros sobre as limitações de viagens a Portugal. Atualmente, eles só podem fazê-las por motivos essenciais: estudos, trabalho, saúde ou reunião familiar. O presidente revelou que os dois países tentam chegar a “um acordo mútuo” de reconhecimento das vacinas para que a circulação possa ser facilitada.

Questionado pela Sputnik Brasil por que Portugal não segue o exemplo da França, que passou a aceitar viajantes independentemente da origem, desde que comprovem ter a vacinação completa a mais de 14 dias com um dos imunizantes reconhecidos pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA), o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal enviou a seguinte resposta por e-mail.

“Portugal e Brasil já iniciaram contatos bilaterais para perceber como os dois países podem avançar numa maior facilitação das viagens, sempre mantendo todos os cuidados sanitários”, lê-se na nota.

Fonte: br.sputniknews.com/

Por Lauro Neto.

 

Redação DiárioPB

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