GERAL

Percussionista de Varanda (ou um domingo feriado das mulheres)

feriado das mulheresAí você acorda. Domingo, dia internacional da mulher. Sai cedinho pra comprar as coisas na padaria. Um café da manhã especial, talvez na cama. Compra pão fresquinho, brioche, geleia… capricha nas escolhas. Na volta, passa na floricultura e compra uma rosa. Não, espera. Uma rosa não, um buquê.

Chega em casa, prepara tudo e acorda ela com um beijo. Entrega as flores, a parabeniza pela data, a enche de carinhos e afetos. Passam um lindo dia de domingo. Passeio, cinema, parque. Almoçam fora, jantam fora e voltam pra casa.

Aninhados no edredom, assistem ao pronunciamento da presidenta na TV. Ironiza as falas da presidenta, xinga ela, sai da cama e vai buscar uma panela e uma colher de pau pra bater. Percussionista de varanda. Legítimo indignado.

Acaba o pronunciamento. Você, ainda ofegante, retorna à cama e volta à TV. Se acalma e adormece assistindo a desistência de uma participante do BBB, culminando com a formação de mais um paredão.

Desculpa… esse foi o dia das mulheres que você passou?

Domingo. Sua empregada não trabalha hoje, então você tem que se levantar e comprar o café da manhã. Você já notou que as donas da floricultura são lésbicas, e sim, elas não são apenas sócias, são companheiras?! Provavelmente não, estava escolhendo as rosas e preocupou-se apenas em pegar e pagar.

Cumprimentou a vendedora de doces no parque? Não. A moça da bilheteria no cinema? Não. Felicitou as recepcionistas dos dois restaurantes que você passou? Lógico. Que não.

E então, pra encerrar com chave de ouro, finzinho de noite, em frente à TV você xinga histericamente a mulher mais importante do seu país, amassa as panelas em que sua empregada cozinha, e pra aliviar, assiste num reality show uma participante sofrer por se culpabilizar. Sofrer de uma ressaca moral que ela não precisava nem devia sentir, mas que fora estimulada pelos colegas de confinamento. Pura agressão psicológica, disfarçada de audiência.

Percebe? Compreende? Então não dá pra parabenizar ninguém nesse dia, porque esse dia não simboliza outra coisa senão a luta das mulheres por igualdade, onde os homens se acostumaram à supremacia. Luta essa que sua companheira também ignora. Aliás, ela já ouviu falar em sororidade?

Leia e reflita. Policie suas atitudes e combata o machismo dentro de você mesmo. Já dizem as revolucionárias “quando uma mulher avança, nenhum homem retrocede” Esse refrão eu canto, nessa banda eu toco! E você?

Afine seu tom, percussionista. Está dado o recado.

Redação DiárioPB

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