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O retorno: Lei ou não às vezes “dá as caras”

justiça cegaOs antigos, que sempre tinha provérbios e ditos para guiar a vida e educar os filhos, na falta de formação escolar, diziam sempre: “quem bem fizer/ pra si é”. Isso baseado na crença de que aquilo que é feito aos outros, bem ou mal, retorna ao feitor. Depois a coisa evoluiu, tomou ares acadêmicos, de sortilégio, e de reflexão filosófica, sob o epíteto da lei do retorno. Muitas pessoas acreditam piamente nesse princípio sacro-divino que pesa ou paira sobre os humanos, como uma diretriz geral, orientadora de comportamento para com seu semelhante.

Desde a antiguidade grega, que é de que se tem notícia, não significa que outros povos não já conservassem essa crença ou reflexão, com os estoicos, já se alimentava a ideia do eterno retorno, ou seja, essa concepção filosófica propunha e ensinava que haveria “uma repetição do mundo no qual tudo se extinguia para voltar a criar-se. Sob esta concepção, o mundo era retornado a sua origem através da conflagração, onde tudo ardia em fogo. Uma vez queimado, ele se reconstruía para que os mesmos atos ocorressem novamente”. A ideia de destruição da humanidade na tentativa de surgir uma nova geração melhor, mais honesta é recorrente em várias culturas, inclusive na judaico-cristã. Nada mal, diante de tanta miséria e podridão que nos deparamos diante deste mundo pourri en son essence.

Na idade contemporânea, um outro filósofo, por demais polêmico por não se subjugar aos poderosos inclusive à Sancta Mater Ecclesia, tinha concepção muito próxima ao estoicismo grego: estamos falando de Friedrich Nietzsche, com seu Eterno retorno. Em alemão: Ewige Wiederkunft. Uma síntese bastante densa dessa teoria pode ser encontrada na sua obra A Gaia Ciência.

“E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: ‘Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!’. Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias: ‘Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!’ Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: ‘Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?’ Pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna configuração e chancela”?

Bem ao estilo do grande filósofo proscrito em vida, numa escritura condensada em que escrevia e filosofava em aforismos, ele espõe esta possibilidade de em algum lugar se reviver o vivido uma ou inúmeras vezes. E pergunto: por que não inverter a roda da fortuna, como se concebia no período barroco, e o indivíduo suportar e curtir, isto é, viver aquilo que ele próprio infligiu ao outro? Pelo menos em função de amostragem, como por vezes a natureza age.

Alguns exemplos serviriam de oportuna ilustração: ao que vamos discutir. A Inglaterra atormentou o mundo inteiro invadindo, dominando, pilhado e assassinando. Agora vive o reverso, ainda que em escala mínima. Pois ela sangrou a Índia por séculos, provou a Guerra do Paraguai, implantou o regime do cão na África Sul, transmutou-se como sociedade sangrenta na América do Norte, e isso é só um aperitivo. Agora vive o medo de reincidentes acontecimentos que revela armários plenos de esqueletos mal acondicionados. Nos últimos quatro meses, ocorreu um acontecimento em cada mês. A situação da França não é diferente: em séculos passados invadiu a África, “escravizando” especialmente o Magrebe, apropriando-se indevidamente de toda a riqueza do Marrocos, da Tunísia, do Chad, da Argélia, especialmente nessa, praticando atrocidades inomináveis que os argelinos tentaram se libertar, sendo trucidando-os como se mata moscas. E ainda hoje monopoliza e surrupia toda a riqueza e matérias-primas. E o que dizer da destruição que protagonizou no Haiti? Agora clama por justiça (achando-se injustiçada) porque alguns muçulmanos resolveram cobrar a conta atrasada a séculos que a França tem com o mundo. Ajoelhou tem de rezar!

A Alemanha que no final do século XIX, entre 15 de novembro de 1884 e 26 de fevereiro de 1885, juntou os maiorais da Europa, e iguais a hienas esfaimadas repartiram a África entre si, na famigerada Conferência de Berlim. De modo que uma das resoluções da tal conferência foi a doação do estado Livres do Congo ao Rei Leopoldo II da Bélgica como presente de casamento. O mesmo Congo que era ambicionado pelo colonialista e multimilionário inglês Cecil Rhodes, que como castigo por ser colonialista desalmado simplesmente recebeu como homenagem dar nome ao país da Rodésia, quando este existia. Agora, anda a Alemanha se achando incomodada com alguns eventos que fizeram desaparecer algumas pessoas em seu território.

Os Estados Unidos podem ser visto como o eixo do mal. Não há lugar na terra em que este país não se meta. Toma riquezas, influencia na vida do povo, pratica ingerência, fomentou, instruiu, financiou e manteve inúmeras ditaduras na América Latina com milhares de mortes e milhões de afetados drasticamente, inclusive a do Brasil, ou seja, eles se acham o xerife e o juiz do mundo. Mas também se acham injustiçados por alguns acontecimentos cujo mais significativos foi os do 11 de setembro. Ora, os mortos em solo estadunidense, não chegam à milionésima parte dos que os EUA já trucidaram em todo o mundo. Mas, segundo a disposição daquele país, ninguém pode morrer em seu solo salvo se eles decidirem tal coisa.

O que resta dizer a partir do constatado no estado de estresse social desses países, é que embora eles não pagando o mal que fizeram nas invasões e assassinatos sistemáticos que espalharam pela terra inteira; eles agora vivem com medo, muito medo. Agora, estão bebendo do mesmo veneno que eles forçaram a inocentes beber, anteriormente e ainda hoje. Mas pelo menos eles já sabem também deste gosto amargo e que mata. Já diziam os antigos que “quem semeia vento colhe tempestade”.

Agora um país que fez o mal, em todos os sentidos, a milhões de pessoas ou à humanidade: Portugal. Este, agora, experimenta o mal natural que a própria natureza lhe inflige. Ao lembrar dos milhões de negros e indígenas, caçados, presos, traficados escravizados, vendidos como gado, gastados, torturados, vilipendiados e por fim trucidados, nos campos de trabalhos forçados, os canaviais, nos pelouros e/ou amarrados e laçados ao sol escaldantes para morrerem crestados… Neste momento, alguns poucos portugueses, também morreram moqueados num incêndio que devastou, e parece que ainda devasta, o interior do país, suas matas e vilarejos; o que os deixou fragilizados, tocados, desamparados. Mas eles pouco lembram e nada reconhecem do mal que causaram aos negros e à África, aos indígenas e a esta terra que se passou a chamar Brasil, aos chineses de Macau, aos indianos de Goa, locais estes, de culturas milhares, em que eles (os invasores) lá chegando devastaram tudo, destruíram tudo, pilharam e roubaram tudo. E tudo reduziram a pó, como fazem lagartas de compasso ao invadir uma plantação. Em Goa, em meio a tanto ouro, Vasco da Gama (o mesmo que deu nome ao time brasileiro) e seus sequazes não se davam o trabalho de desabotoar braceletes, nem desatarraxar brincos, simplesmente cortavam munhecas e orelhas para se apossarem do ouro alheio. Um povo desse tipo, qualquer cosia que a natureza lhes enviar, ainda continua em dívida.

E esta não é a primeira tragédia natural por que Portugal passa. Em 1755, um terremoto seguido de um tsunami devastou Lisboa e adjacências com todos os detalhes episódicos que um acontecimento dessa magnitude implica: milhares de mortos, incêndios e “destroçamento” de zonas urbanas, mas mesmo com esses reveses da natureza, e outros sofridos por imposição de Napoleão, da Espanha e da Inglaterra, Portugal não aprendeu a lição e continuou torturando e trucidando pessoas do outro lado do Atlântico, nos campos forçados brasileiros. Então, se não se consegue aprender com o exemplo e a dor dos outros e nem com suas próprias dores, sempre irão aparecer feridas e esses que as sofrem não têm autoridade moral para recorrer a Deus reclamando, pois como concebemos esse Deus um ser justo, o injusto deveria observar suas ações e a história de seu país… E não se esqueça de que o sangue dos inocentes onde quer que tenha sido derramado, nos antigos campos de concentração brasileiros por mãos portuguesas, tingindo esta terra, continua e continuará a clamar por justiça. E se acreditarmos em um ser justo que tem ascendência sobre todas as coisas, esta justiça há de vir de uma forma ou de outra, total ou pareciam, concreta ou simbólica, completa ou por amostra… Porque o sangue inocente derramado por mãos iníquas continuará a clamar por justiça. Deus e a natureza, sábios que são, providenciará solução.

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Redação DiárioPB

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