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Goldfajn é ‘soldado’ liberal no BID, mas pode ter atuação estratégica para Lula, diz analista

Goldfajn atuou como presidente do Banco Central durante o governo golpista Michel Temer e foi indicado para a disputa do BID pelo atual ministro da Economia, Paulo Guedes

Sputnik – O economista brasileiro Ilan Goldfajn foi eleito neste domingo (20) como novo presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) por uma ampla margem. Indicado pelo governo Jair Bolsonaro (PL), o nome sofreu resistências de alas da equipe de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas, no fim, o novo governo acabou avalizando a candidatura.

Goldfajn atuou como presidente do Banco Central durante o governo de Michel Temer, que chegou ao poder após a derrubada da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) e foi indicado para a disputa do BID pelo atual ministro da Economia, Paulo Guedes.

Esse histórico e a conjuntura já dão elementos que mostram uma certa distância do novo presidente do BID para o governo Lula. A equipe do presidente eleito chegou a tentar adiar a votação através de uma solicitação feita pelo ex-ministro Guido Mantega. Diante da negativa e da pressão de aliados de direita e centro-direita, em especial o ex-ministro Henrique Meirelles, o futuro governo sinalizou que não tinha problemas com a escolha do economista para presidir o BID. Esse aval torna possível que haja alguma parceria? Qual deve ser a relação deles e os frutos que o Brasil pode colher?

Para o economista Fábio Castro, doutorando na Universidade Federal do ABC (UFABC) e pesquisador do Instituto Brasileiro de Estudos Contemporâneos, o BID pode ser um instrumento importante para o Brasil, apesar de Goldfajn seguir a “cartilha” liberal e servir como um representante do mercado no banco de desenvolvimento. Castro destaca que a eleição do ex-presidente do Banco Central é “natural” por trazer justamente o perfil buscado pelos Estados Unidos, que possui o maior poder de voto da instituição.

“A escolha de Ilan Goldfajn, a meu ver, é bastante ‘natural’ para uma instituição como o BID. O BID é um banco multilateral com sede em Washington destinado a apoiar projetos de desenvolvimento em países da América Latina e do Caribe desde que se siga a cartilha das boas práticas liberais. Além disso, o peso das decisões pendem para os direcionamentos dos EUA, tendo em vista que o peso do voto dos norte americanos é de 30% sobre o total. Portanto, é um instrumento de disseminação dos interesses do norte, mas que pelo modelo de dependência crônica a que estão submetidos o países do sul, exerce papel importante na economia dos países mais pobres.”

Castro reforça que Goldfajn é um economista da tradição liberal — “um conservador deste modelo de sociedade” —, que ele foi considerado em 2018 o melhor “banqueiro central” do mundo e que atualmente ocupava uma cadeira importante no Fundo Monetário Internacional (FMI).

“Trata-se de um ‘soldado’ bastante experiente e leal à ideologia liberal e à escola ortodoxa da economia. Por isso, seu nome já aparecia como prioridade para substituir o desastre trumpista que ocupou a presidência do BID. E apesar do ‘disse me disse’ da equipe econômica do presidente eleito no Brasil, Lula, seu nome foi aprovado com mais de 80% das indicações da direção do BID.”

O desastre trumpista no qual o economista se refere foi a breve passagem de Mauricio Claver-Carone pela presidência do banco. O norte-americano renunciou ao posto após ser acusado de favorecer uma funcionária com quem tinha relações.

Castro é reticente ao ser questionado se essa eleição pode fortalecer o Brasil no cenário internacional e regional, principalmente pela ampla coalizão que Lula precisou buscar para conseguir derrotar o atual presidente Jair Bolsonaro e que precisará manter para garantir governabilidade.

“O jogo de xadrez que está colocado para o governo Lula 3 tem uma dimensão aberta às surpresas, tendo em vista a frente amplíssima que se formou para derrotar Bolsonaro. Há muitos interesses antagônicos em jogo e, neste sentido, o presidente Lula terá que ter muita habilidade para equilibrar o país internamente a fim de possibilitar a retomada de um protagonismo regional e global do Brasil de outrora. Por outro lado, não é segredo para ninguém que o governo Lula promete um governo moderado, de conciliação nacional. Neste sentido, Ilan Goldfajn pode somar para esta reconstrução do país, fortalecendo a posição do Brasil, desde que os regentes da economia nacional não queiram mudar demasiadamente os rumos da administração atual, de Paulo Guedes. […] A presidência do BID é estratégica e pode ser usada como instrumento de disseminação de políticas que podem beneficiar o Brasil e a Região.”

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Redação DiárioPB

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