GERAL

Futebol e planejamento

tarjaePauloAlves

Sempre me preparo para não me surpreender mais com as coisas. Mas, não raro, a vida nos empurra a uma viela. Nos últimos dias, o futebol, essa caixa de surpresas programadas, foi responsável por algumas surpresas nadas agradáveis. Quem não teve um ataque de apoplexia, com o fatídico resultado das quartas de final da canarinha seleção, que literalmente amarelou, diante do chucrute bem fermentado? E depois, mais recente, com o anúncio do retorno do senhorCarlos Caetano BledornVerri, em uma palavra: Dunga,ao comando da mesma amarelada seleção? Não ficou, caro leitor? Eu estou.

Pelos últimos dias se o futebol é o sonho que embala os dias dos desafortunados, alguém acionou a alavanca ao contrário, rumando em direção ao pesadelo. Quem imaginaria que, na possível queda do Grande Felipe, subiria ao tronoum dos sete anões, exato o que não usa barba? Bref, ninguém! É além de provável que isso só se deu pelos desígnios de uma divindade moderna chamada CBF.

O problema não é quem sobe o desce de cargo. A questão é: se era para o Dunga ser o treinador da seleção, por que cargas d’água, o despediram na pós-eliminação da Copa de 2010? O que é que nos impede de conservar e aprimorar as coisas que não se apresentem 100%? Achamos melhor atirar fora e depois voltarmos e reaproveitarmos o antes relegado. Ademais que, quando se faz uma análise mais acurada, percebe-se que tiveram carreiras vitoriosas tanto Dunga quanto Felipão. Ou alguém ousa dizer que não? O primeiro, na passagem interior pela seleção, dos 60 jogos disputados no seu comando a seleção logrou 48 vitórias, empatando 12 e perdendo apenas 06.

Dentre as conquistas conta-se uma Copa das Confederações e uma Copa América, nada desprezível, não?O segundo, no seu primeiro comando da seleção pegou um time em frangalhos (sim, porque desta como da primeira vez que esteve no comando, fora chamado às pressas para tentar corrigir distorções do antigo treinador), embora pleno de estrelas, e levou a uma vitória incontestávelda Copa do Mundo de 2002, disputando o título inclusive contra a poderosa Alemanha. Num pequeno retrocesso, em números, nesta última passagem pela seleção, dos 29 jogos disputados foi vitorioso em 19, empatando 06 e perdendo 04. Num aproveitamento de 72,4%. Resultado mais modesto que o de Dunga, cujo aproveitamento aponta 76,7.

Mas se retornarmos a sua primeira passagem,dos 24 jogos, foram 18 vitórias, 05 empates e apenas 01derrota. Tendo como aproveitamento 76,4%. E ainda vale lembrar que sua estreia como treinador deu-se no CSA, em 1982, levando o time alagoano à conquista do Estadual naquele ano. Então, caro leitor, sem ser caudatário nem a gregos nem a troianos, há de ver que não se deve jeterdanslesoubliettes ou à lapoubelle o histórico de nenhum deles. Também não estou defendendo nem canonizando nenhum dos técnicos em questão, tampouco o indivíduo. Sim, porque nesse país uma das coisas mais complicadas porque injusta é a crítica e o elogio: esses sempre vêm motivados pelo ressentimento ou pela afeição respectivamente. Raramente no Brasil é feita uma critica cartesianamente isenta. Uma e outro são sempre levados às raias do pessoal.

E agora, José? Para entendermos o problema onde devemos procurar o fio da meada? A priori uma coisa nos salta aos olhos: nossa falta de planejamento, portanto, organização, aliado à urgência de resultados positivos sem muito esforço. Acreditamos mítica e misticamente num talento natural que se devolve por si só. O talento existe sim, creio que obrasileiroé uma fonte de talento, mas para desenvolver-se sem muito esforço e investimento, grandes investimentos e muita paciência, só um que outro se destaca como Guga e Maria Esther Bueno no tênis; Maguila e Éder Jofre no boxe, Daiane dos Santos na ginástica artística, Machado de Assis, Lima Barreto e Graciliano Ramos na Literatura (esses escritores nunca fizeram curso superior) e, por fim Garrincha e Pelé no futebol ou ‘time do Tri’ de 1970. Mas isso num período em que tudo, aqui e lá fora, era meio artesanal e improvisado mesmo. Depois eles evoluíram, aprimoraram métodos, tecnologizaram-se, priorizaram o esporte economicamente.

Aqui se continuou recorrendo à Nossa Senhora do Improviso, e só! Recursos financeiros têm outro destino: o qual não preciso nomear aqui, porquanto todos brasileiros estamos fartos de saber qual é!

Só para efeito ilustrativo, mas que serve como exemplo, tomemos a seleção, ora campeã mundial e decantada por todos,da Alemanha, cujo treinador, Joachim Löw, está na seleção desde 2004, (os dois primeiros anos como assistente) já são dez anos, para chegar a ser campeão. Caro leitor, nós, latinos, descendo culturalmente, por suposto, da antiga Roma, cuja maior contribuição para a humanidade, afora o Código de Direito de Justiniano, são as técnicas de guerra, que serviam apenas para invadir e submeter povos, tendo por fito a pilhagem e a cobrança de imposto, temos paciência de conservarmos um treinador oito anos no cargo para ganhar um título mundial? Honesta e definitivamente não, não é mesmo?

Eles não, entre críticas e reconhecimentos, mantiveram-no no cargo. Mesmo sendo um terceiro lugar na Copa de 2006, o mesmo terceiro lugar em 2010, em casa, foi mantido. Nós simplesmente trocamos Zagalo, em 1998, com um segundo lugar, fora de casa.Essa combinação à la brasileira: não-planejamento+não-investimento+exigência-de-resultados-positivos imediatos e a qualquer custo é fatal!

Neste período (2004-2014) quantos treinadores já passaram pela seleção penta? Quem dá mais?! Só para refrescarmos a memória neste período, sim, porque se se despede o técnico geralmente enxota-se até os gastos que por acaso, no período, venham inadvertidamente rondar a concentração, em números: nada mais nada mesmo que cinco (05); 2003-2006 C. A. Parreira, 2006-2010 Dunga, 2010-2012 Mano Menezes, 2013-2014 Felipão, 2014 até segunda ordem da divindade brasileira do futebol, vide CBF, é Dunga, une fois de plus.

Como se percebe pelos resultados, esta instabilidade no comando, aliada a escolhas, por vezes, muito duvidosas, quanto às motivações e interesses, cobra alto preço tanto economicamente quanto em termos de resultados. Não esperemos milagres dos treinadores eles, pois, não são divinos (e se o fossem,segundo Tomás de Aquino, respeitariam natureza) eles são humanos, aliás, demasiado humanos. Tomemos assim a metáfora da terra: se escolhermos a terra boa, adubá-la e tratá-la bem, colheremos, ainda considerando as intempéries climáticas, pode ser que num ou dois anos apesar de muitos esforços o inverno não ajude, nisto entra em cena a persistência; mas se falharmos em algum desses passos não temos o direito de reclamar.

Já escreveu no séc. XII Tomás de Aquino: “A graça supõe a natureza” não adianta contarmos com o talento (vindo da graça) se não investirmos maciçamente, responsavelmen-te, e pacientemente aguardarmos os resultados, sabendo que esses podem muito bem não serem agradáveis, mas se assim persistirmos a vitória chegará, aliás, as vitórias chegarão! Não divide, isso é uma conta matemática.Cada povo tem sua característica peculiar, a nossadefi-nitivamente não o planejamento responsável nas ações públicas e coletivas.Enfim…!

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Redação DiárioPB

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