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Forrozeiros em apuros: Duas ou três palavras

trioSobre o texto publicado há alguns dias, neste portal, um leitor fez um comentário sobre o qual gostaria de tecer algumas considerações, à guisa de esclarecimento. A princípio quero afirmar que meu único interesse em publicar, vez por outra, um texto, no referido portal, é o de discutir temas, em nível que me é possível, e que julgo importante para nossa cultura, tornando-a menos artificial e mais benéfica para nossa constituição de pessoas humanas integradas em seu meio e sua cultura.

Meu objetivo, como já disse foi, discutir este tema que julgo candente, centrando o foco nas festas juninas especificamente no forró que agora ganhou sobrenome de Pé de Serra, por oposição ao “breganejo”; que vem açambarcando vales e montanhas e os seus defensores, muitas vezes, nem permitem que se faça uma análise acurada musical ou cultural, ou sequer emitir um comentário. O jornalista Zeca Camargo, por exemplo, foi agredido, nas redes sociais, por achar exagerado a comoção que a mídia criou com a recente morte de Cristiano Araújo. Nessa música artificial, que insistem em chamar de forró estilizado, etc, eu não toquei, salvo en passant.

Quanto à questão de gosto, como o termo atesta, é gosto, tout court. Eu mesmo tenho o meu, mas sou partidário de que se toque de tudo nas rádios e tvs para atender a todos os gostos. Mas tocar apenas um estilo e os seus defensores quererem que os outros aceitem o mesmo pacote, só porque esta música é preferida por um grupo ou região ditos endireitados, e esta outra (música) pertence a uma grupo ou região considerado pobre ou subdesenvolvidos beira o regime de exceção. Coisa que, aliás, nosso país está sendo vítima. Afinal de contas dinheiro nunca foi garantia de qualidade artística nem de bom gosto para apreciá-la. Por exemplo, no Estado de Minas Gerais, a região mais rica cultural e artisticamente é o Vale do Jequitinhonha, a mais pobre do estado. Então, se moçoilas e os mancebos, ficam extasiados ao contemplar botas e chapelões estilizados com nome colonialista de cowboys, e torcem o nariz para botinas de couro-cru, alpercata de rabicho e chapéus de couro, podemos sim questionar e mostrar que nossa cultura nordestina se não mais rica, mais pobre não é de que qualquer outra. É uma questão de vetor da percepção, se não for outros motivos.

Mas voltando ao leitor, ele dizia que a mídia finge-se de bom moço, mas tem sua parcela de culpa. Bem, se por mídia se entender a radiofônica e a televisiva, para mim, já é um caso perdido, salvo raríssimas exceções. Mas quando falei diretamente sobre os festejos juninos é porque acredito que ainda possa haver salvação; basta os envolvidos quererem. Porém, como disse Pascal, o coração tem razões que a própria razão desconhece. Sabe-se lá, então, as razões que têm secretarias de cultura, prefeituras e seus respectivos administradores e empresários em geral em preferi o “breganejo” e as bandas de bregas (que se autointitulam forró) aos forrozeiros, muitos dos quais suam a camisa tanto para defender o pão quanto por amor a arte local.

Em se tratando das mídias televisiva e radiofônica, como disse, já considero um caso pedido. Pois desde os anos 60 que se fala de um problema crônico nas rádios e televisões: o famoso “jabá”, se existia não posso demonstrar, mas os indícios são muito fortes e convincentes de que existe. Nos anos 70 agudizou-se, só se ouvia nas rádios o que se chamou de discoteque e, sobretudo, música estrangeira, digo, em inglês e massivamente estadunidense. Nos anos 80, bateu-se o prego e virou-se a ponta: porquanto os programas, em sua maioria e nos grandes centros passaram a ser gravados. Ao artista, que estivesse fora do esquema, não restava nem a opção de mendigar cinco minutos para divulgar seu disco: o programa está gravado! Dos anos 90 para cá mudou um pouco, chegaram o “pagodebrega”, o “brenanejo”, depois o funk… mas música de qualidade aprimorada, as rádios e televisões, na esmagadora maioria, não tomam conhecimento, salvo um programa ou outro a partir das 23h00. Eu pessoalmente, desde 2007, não ouço rádio, nem assisto a programa de música em tv. Simplesmente não me agradam. É por isso que soube, mas nem tomei conhecimento, de Wesley S…… na Rede Globo, nem de Garota S….. para mim, o nome desses artistas (não cantores) já é motivo para se dispensar pouca atenção. E se a rádio tal ou qual juntamente com seus ouvintes elegem tal ou qual música como o 1º lugar, cada um tem a rádio que merece. Mas daí as festas populares juninas repetirem o mesmo acho forçado porque as prefeituras não estão ou não deveriam estar premidas pela audiência e através dessa, pelo faturamento comercial que é o que faz com que a emissora subsista financeiramente. Ademais o ser humano é passível de educação, se o acostumar a ouvir Música Clássica ou Ópera, ou MPB, Românticas, Pop, Maracatu ou Batidão a maioria tende a gostar dessa música.

Quanto ao fato de eu ter citado Caruaru e não Campina Grande, como exemplo, dessa desvirtuação nos festejos junino, há um simples motivo. Citei Caruaru, porque me senti mais a vontade falando de Pernambuco tanto porque o conheço mais (sou recifense e estou em João Pessoa terminado meus estudos em humanidades) como porque não quis criticar o estado dos outros, como também porque esse ano eu não vi na grade de programação do São João de Campina medalhões do “breganejo”. Mas se for preciso falar do lado de cá, posso dizer que, em 2013, Gilberto Gil veio para o São João de João Pessoa. E neste ano de 2015, no São João de Campina Grande não teve Aurinha do Coco, nem Vanildo de Pombos, nem Jota Sobrinho, nem Amazan, nem Targino Gondim, nem Chico Paraíba, nem Mestrinho do Acordeom… E olhe que alguns desses são bem famosos; em compensação havia várias Bandas Magia dando Cavalos de Pau e fazendo forrós Magníficos juntos com As Coleguinhas, que estavam plenas de Desejo de Menina pelos Solteirões do Forró alumiados pelo Candeeiro Natural.

Redação DiárioPB

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