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Eleição na Turquia: quem é Kemal Kilicdaroglu, adversário de Erdogan no 2º turno

Candidato da oposição na Turquia, Kemal Kilicdaroglu

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, enfrentará seu principal rival da oposição, Kemal Kilicdaroglu, no segundo turno, confirmou o conselho eleitoral do país. A disputa será no dia 28 de maio.

Erdogan liderou o primeiro turno, com 49,51% dos votos, contra 44,88% de Kemal Kilicdaroglu. O candidato vencedor precisaria ter conquistado mais da metade dos votos.

Quem é o adversário do atual presidente, no poder há 20 anos?

De fala mansa, Kilicdaroglu (pronuncia-se Kilitch-daro-lu), ex-funcionário público de 74 anos, é tão calmo que às vezes irrita seus próprios colegas, diz um confidente próximo.

Ele é visto como a antítese do poderoso presidente da Turquia.

Talvez não fosse um candidato óbvio, mas, mesmo tendo perdido várias eleições desde que assumiu o comando do Partido Republicano do Povo (CHP), em 2010, Kilicdaroglu conta com o apoio de seis partidos de oposição, que veem nele a única pessoa capaz de desafiar Erdogan.

Kemal Kilicdaroglu é um político altamente experiente. Ele foi eleito para o Parlamento em 2002, o mesmo ano em que o Partido AK, de Erdogan, chegou ao poder.

Em seus 13 anos de liderança do CHP, ele ampliou a visibilidade do partido dele e “abraçou todas as cores do país”, como diz.

No período que antecedeu a eleição, ele postou nas redes sociais uma série de vídeos, feitos em sua modesta cozinha, muitas vezes abordando jovens eleitores sobre questões altamente delicadas, como ser curdo ou alevita (seguidor do alevismo, ramo heterodoxo do islamismo).

Na sua campanha, destacou que uniria todas as diferentes vertentes da sociedade turca.

Outras figuras do partido, como o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu (direita) e o prefeito de Ancara, Mansur Yavas (esquerda), também foram vistos como candidatos presidenciais

O CHP foi fundado por Kemal Ataturk, figura venerada considerada o “pai do Estado turco moderno”.

O partido era próximo aos militares, que derrubaram o governo quatro vezes desde 1960. Também sempre foi visto como um partido linha-dura na questão da divisão entre igreja e Estado. Após o golpe militar de 1980, por exemplo, o CHP apoiou a proibição do uso do véu nas escolas e serviços públicos.

Nascido em dezembro de 1948, Kemal Kilicdaroglu foi o quarto de sete filhos criados por uma dona de casa e um funcionário público na cidade oriental de Tunceli.

Ele foi um aluno brilhante nas várias escolas que frequentou – porque a família teve de viajar muito devido ao emprego do pai. Mais tarde, estudou economia na Universidade de Ancara.

Ele trabalhou vários anos como funcionário público em instituições financeiras da Turquia. Quando foi diretor da Instituição de Seguridade Social, ganhou a reputação de ter acabado com a corrupção no órgão.

Depois de sete anos no Parlamento, ele foi escolhido para concorrer a um dos cargos mais poderosos e prestigiados da Turquia, o de prefeito de Istambul. Embora tenha perdido a eleição – obteve 37% dos votos – colheu elogios por sua campanha e seu nome começou o ser cotado para dirigir o CHP.

Um ano depois, após a renúncia do líder do CHP por causa de um caso extraconjugal, Kilicdaroglu se viu como o principal candidato ao cargo.

Kemal Kilicdaroglu tem lutado até agora para aumentar o apoio ao partido dele para acima de 25%

Inicialmente, ele se recusou a concorrer por que não queria tirar proveito de um escândalo. Mas acabou aceitando, obtendo uma vitória esmagadora.

Durante 13 anos no comando do CHP, ele liderou uma revolução silenciosa dentro do partido. Tentou se aproximar de lideranças islâmicas, participando de jantares de Iftar para quebrar o jejum durante o Ramadã, e distanciou o partido de ranços militaristas.

“Quando o conheci, pensei que ele não era um líder revolucionário, mas evolutivo”, disse a ex-colega de partido Melda Onur. “Ele fixa o alvo, agarra-se a ele com uma serenidade incrível e no final você está convencido. Ele é muito decisivo quando pensa que é a coisa certa a fazer.”

É por isso que ela acredita que ele levou 13 anos para reformular o partido e garantir apoio para concorrer à presidência.

Seis partidos uniram forças para desafiar Recep Tayyip Erdogan com um único candidato à presidência na Turquia

Fiel ao seu passado, ele também manteve uma rígida disciplina financeira. “Ele é muito cuidadoso em não gastar com algo desnecessário”, disse um funcionário próximo a Okan Konuralp.

Com o tempo, ele apresentou figuras religiosas, ativistas curdos e ativistas dos direitos das mulheres ao partido — para tentar provar à sociedade turca que o CHP mudou.

“O CHP tem uma estrutura predominante masculina. Ele não conseguiu derrubar essa barreira completamente, mas gosta de trabalhar com mulheres”, disse Onur.

Um colega de partido disse à BBC que ele nunca levanta a voz. “Às vezes, as coisas nos enlouquecem e não podemos deixar de gritar. Mesmo assim, Kilicdaroglu mantém a calma”, diz.

Essa natureza de fala mansa, juntamente com uma semelhança física passageira com o ex-líder indiano, renderam a ele o apelido Gandhi Kemal.

Assim como sua resposta pacífica a ataques físicos.

Ele levou dois socos de um homem que visitava o Parlamento em 2014, enquanto fazia um discurso para os parlamentares de seu partido. Apesar de ter sofrido uma lesão na face e outra no olho, pediu aos colegas que mantivessem a calma: “O caminho para a democracia é cheio de obstáculos”.

Em 2016, o comboio em que viajava foi atingido por um míssil do grupo militante curdo PKK e, no ano seguinte, escapou de um ataque a bomba do grupo militante Estado Islâmico.

Ele sobreviveu a uma tentativa de linchamento em 2019, no funeral de um soldado.

Quando a polícia o levou para um local seguro, ele disse: “Essas tentativas não podem nos parar.”

Mas foi depois do golpe fracassado de 2016 que a reputação de Kemal Kilicdaroglu se espalhou para além da Turquia.

Segurando uma placa dizendo “Justiça” em turco, Kemal Kilicdaroglu reuniu oposição contra o presidente

Enquanto o presidente Erdogan reprimia a dissidência, prendendo e demitindo milhares de turcos vistos como ligados aos golpistas, o líder da oposição lançou uma “Marcha por Justiça”, caminhando 450 km, de Ancara a Istambul.

Apesar da grande repercussão da marcha, ele optou por não disputar a presidência no ano seguinte, esperando mais cinco anos para aproveitar a chance.

Não sendo um candidato óbvio, ele levou meses para convencer outros partidos da oposição a apoiar sua candidatura. O CHP tem melhores oradores e figuras de mais destaque, que ganharam eleições para prefeito em Istambul e Ancara.

Os colegas do partido acreditaram que este poderia ser o momento dele.

Kilicdaroglu também conseguiu unir seis partidos de oposição, que têm pouco em comum, atrás dele.

BBC NEWS BRASIL

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Redação DiárioPB

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