Documentário sobre prisão de Caetano Veloso pela ditadura será exibido nesta segunda no Festival de Veneza
247 – -O documentário “Narciso em Férias”, único filme brasileiro selecionado para o 77° Festival de Veneza, uma das mais importantes cerimônias do cinema mundial, será exibido na sala principal do evento. No documentário, o cantor e compositor Caetano Veloso, relembra os 54 dias em que ficou preso por determinação da ditadura militar e diz que o filme possui ligações com o crescimento da extrema direita em todo o mundo. “Essas inflamações da extrema direita são um fenômeno mundial. Talvez o tema seja sentido como oportuno por eventos internacionais”, disse em entrevista ao jornal O Globo.
Caetano foi preso juntamente com o amigo e também músico Gilberto Gil quatorze dias após o decreto que implantou o AI-5 no Brasil e endureceu as ações do regime militar contra opositores. Para ele, a prisão a que foi submetido foi o “sintoma de uma doença terrível”. “Se tivermos em conta os que foram torturados e mortos, as famílias que não tiveram acesso aos corpos dos seus “desaparecidos”, nossa prisão não é senão um sintoma da doença terrível que tomou conta do Brasil em 1964, sobretudo a partir de 1968, com o AI-5”, afirmou.
“Minha vida teria tomado outro rumo, não fosse a prisão. Passei um período com medo de batidas à porta e até de som de telefone. Com o passar do tempo, e psicanálise, esses medos passaram. Não penso frequentemente no que vivi na prisão”, ressalta. “Eu tinha planos de passar a fazer filmes e deixar a música para os verdadeiros músicos. Com a prisão, perdi a força para realizar tão séria mudança”, completa.
O documentário “Narciso em Férias”, realizado pela Uns Produções com coprodução de Paula Lavigne e da Videofilmes, de Walter e João Moreira Salles, será exibido nesta segunda-feira (7) na sala principal do Festival de Veneza, no âmbito da seção oficial Out of Competition, e será exibido de forma simultânea pela Globoplay.