GERAL

Comunidade quilombola do Grilo recebe posse da terra

Grilo Dalmo 3Quarta-feira, 16, passei maior parte do dia num lugar onde nunca havia estado antes: na comunidade quilombola do Grilo, município de Riachão do Bacamarte, na divisa com a área rural de Serra Redonda. Fui por um motivo muito especial, a convite da Associação de Apoio aos Assentamentos e Comunidades Afrodescendentes (AACADE), testemunhar e registrar, jornalisticamente, a imissão de posse de cerca de 140 hectares para 71 famílias daquele lugar.

Em menos de 15 anos, a comunidade fundou sua associação, consolidou o processo de autorreconhecimento das famílias, demandou do INCRA a realização de Relatórios Técnicos de Identificação e Delimitação (RTIDs), mobilizou apoio institucional do Governo Federal, através da Fundação Palmares, e agora obtém a titulação definitiva da terra. Não é pouca coisa, principalmente considerando que, das 39 comunidades quilombolas conhecidas no território paraibano, apenas a do Grilo e a do Bonfim, localizada no distrito de Cepilho, no município de Areia, conseguiram o benefício.

Quando chegamos ao topo da serra, no meio da manhã, os comunitários estavam em êxtase, comemorando a vitória coletiva. Sobre um lajedo de onde se tem uma magnífica visão do vale e da silhueta longínqua dos edifícios de Campina Grande no horizonte, encontrei com Maria Helena dos Santos e Maria do Socorro Freire Tenório, que conversavam animadamente sobre a conquista. “Teve gente aqui que apostou que botava até saia, se essa terra saísse. Agora chegou a oportunidade para ele pagar a aposta, né!?”, comentou Dona Socorro, com um ar de satisfação e euforia no semblante. Alaíde Josefa da Conceição é outra septuagenária aposentada que nasceu naquele território. “A gente trabalhava na terra dos outros, minha mãe, tia, vó, uma família só. Fazia um roçadinho, lucrava umas coisinhas poucas”, rememora. Sobre a divisão da terra ela disse que quer pouca coisa, o suficiente para plantar, feijão, milho, fava e outras culturas comuns na região.

Leonilda Coelho Tenório dos Santos, 55 anos, uma das principais líderes da comunidade, diz que a peleja pela terra foi iniciada em 1998. “Tendo terra, nós podemos viver aqui sem ter que nos deslocar para a cidade grande”, garante Paquinha, como ela é mais conhecida no Grilo. “Era pra ter 180 famílias, mas depois que fez o levantamento ninguém quis ficar. Vieram dizer que aquilo não tinha futuro, que aquilo não ia crescer, e que eu tava criando problema com as terras dos outros. Eu pensei até em desistir de tudo e sair do país”, conta. O Superintendente do INCRA na Paraíba, Cleofas Ferreira Caju, fez questão de ir pessoalmente levar a papelada da imissão da terra do povo do Grilo. Ele chegou à sede da associação da comunidade quilombola, por volta das 10 horas, acompanhado de um oficial da Justiça Federal. No meio do terreiro principal, Caju fez uma rápida fala aos presentes. Depois eles se dirigiram à sede da Fazenda, para que o notificador federal efetuasse a entrega da documentação aos antigos proprietários. “Eles vão ter 30 dias para tirar seus animais e outros bens que não foram objeto da desapropriação”, explicou ao público.

CORRIGINDO INJUSTIÇA
Como se fosse uma procissão, cerca de 100 pessoas desceram a serra em caminhada percorrendo o trajeto da estrada ingrime até o Grilo de Baixo, onde fica a Casa Grande da fazenda coletivizada. “Essa é uma ação social do Governo Federal da maior relevância. Estamos avançando na regularização das comunidades quilombolas no Estado da Paraíba. Essa comunidade é emblemática, porque está localizada bem no Agreste da Paraíba, numa área razoavelmente grande, são mais de cem hectares. O Governo Federal está corrigindo uma grande injustiça que foi feita com o povo negro dessa localidade, que viviam aqui em condições sub-humanas”, diz o gestor. Maria de Lourdes Tenório Cândido é a louceira da comunidade. Aprendeu com a mãe a arte de dar forma ao barro quando tinha apenas 12 anos. Enquanto o pessoal percorria a antiga Fazenda do Américo com os servidores do INCRA e da Justiça Federal, eu aproveitei para trocar uns dedinhos de prosa com ela, que, com mais de 70 anos, exibe uma condição física e de saúde invejável. “Meu pai era pobre, muito pobre, trabalhador de alugado, e agente fazia, vendia pra fazer um dinheirinho para ajudar a família a comprar qualquer coisa”, relembra Lourdes, que diz apurar até uns R$ 200,00 por mês com a venda dos utensílios. Depois que passar a euforia da conquista da terra, os quilombolas do Grilo vão precisar dar um outro passo importante na sua história: garantir sustentabilidade produtiva para os novos donos da terra!

Por Dalmo Oliveira

Redação DiárioPB

Portal de notícias da Paraíba, Brasil e o mundo

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo