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The Intercept: Deltan usou instituto de empresária investigada pela Lava Jato que tem como base uma igreja para captar recursos

Diálogos revelados pelo site The Intercept Brasil e analisados pela Agência Pública, jornal de circulação nacional, revelam que o procurador Deltan Dallagnol captou recursos de uma empresária citada na “lava jato”, que foram destinados a financiar o Instituto Mude, em Curitiba.

Como o nome sugere, a organização foi criada para promover a pauta de combate a corrupção e exaltar os feitos da da força-tarefa. As mensagens analisadas pela agência apontam que Deltan se reuniu com empresários, em muitas ocasiões a portas fechadas, para buscar recursos para a entidade.

Uma das financiadoras da organização foi a advogada Patrícia Tendrich Pires Coelho. Ela seria depois investigada pela “lava jato”, mas não foi denunciada pelo Ministério Público Federal (MPF).

Deltan sabia da proximidade da empresa de Patrícia, a Asgaard Navegação S.A., com o empresário Eike Batista e com o banqueiro André Esteves (BTG Pactual) —dois dos alvos da “lava jato”—e mesmo assim aceitou ajuda financeira da empresária para o Mude. A Asgaard Navegação S.A. fornecia navios para a Petrobras.

Em conversa com Patrícia Fehrmann, do Instituto Mude, Deltan comenta que conheceu a empresária Patrícia Coelho. “Caramba. Essa viagem de ontem foi de Deus. Além dela, estava um deputado federal que se comprometeu a apoiar rs”, escreveu.

Enquanto discutia com a formalização do Mude no chat #mude Delta,Fáb,Pat,Had,Mar, (composto por membros da entidade e o procurador), um dos fundadores do instituto, Hadler Martines, comenta que realizou uma pesquisa sobre a investidora.

“Talvez vocês já tenham feito isso mas sobre nossa investidora anjo, dei uma boa pesquisada sobre seu histórico e realmente ela parece ser uma grande empresária multimilionária e com grande trânsito com grandes empresários nacionais. Hoje ela é sócia de empresa de frotas de navios (Aasgard) e de mineração e portos (Mlog). Algumas coisas que me chamaram atenção: sua empresa fornece navios para a Petrobras; ela é ex-banco Opportunity (famoso Daniel Dantas); ela foi ou é muito próxima do Eike Batista e também do André Esteves (BTG)”, escreveu.

No dia 11 de setembro de 2016, Hadler voltou a compartilhar suspeitas com integrantes do instituto e Deltan. “Sobre nossa reunião com o Anjo, ainda estou com uma pulga atrás da orelha, tentando entender a razão do apoio financeiro tão generoso (sendo cético no momento)”, escreveu. “Me pergunto se ela quer ‘ficar bem’ com o MPF por alguma razão… Ela já foi conselheira do Eike e pelo que li dela, ela o representava em algumas negociações. Sugestão: fiquemos atentos. Desculpem o provérbio católico, mas quando a esmola é demais, o santo desconfia…”.

Diante das novas informações sobre a investidora, Deltan comenta que “mais cedo ou mais tarde descobriremos isso”. Posteriormente, Deltan pergunta ao procurador Roberson Pozzobon se o nome de Patrícia havia aparecido nas investigações.

A investidora Patrícia Coelho apareceu nas investigações e foi Deltan quem informou as pessoas do instituto. “Caros, uma notícia ruim agora, mas que não quero que desanime Vcs. A Patricia Coelho apareceu numa petição nossa e me ligou. Ela disse que tinha sociedade com o grego Kotronakis (um grego que apareceu num esquema de afretamentos da petrobras e que foi alvo de operação nossa), mas ele tinha só 1% e ela alega que jamais teria transferido valores pra ele… Falei que somos 13, cada um cuida de certos casos, que desconheço o caso e que a orientação geral que damos para todos que procuram é: se não tem nada de errado, não tem com o que se preocupar; se tem, melhor procurar um advogado rs. Ouvindo sobre o caso superficialmente, não posso afirmar que ela esteve envolvida ou que será alvo, mas há sinais ruins. É possível que ela não tenha feito nada de errado, mas talvez seja melhor evitar novas relações com ela ou a empresa dela, por cautela”, escreveu.

Deltan ainda cita um trecho da Bíblia: “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas”.

Procurador de recursos

As mensagens analisadas pela Pública entre Deltan e os membros do Instituto Mude revelam também que Patrícia Coelho não foi a única empresária procurada pelo procurador para angariar recursos. “Caros, acho que vou conseguir uma reunião do Flavio bilionário evangélico do WizeUp com o MUDE”, escreveu no dia 3 de março de 2017.

No dia 30 de abril, ele disse que estava agendando um café da manhã com o empresário para 18 de maio: “Caros, estou agendando café da manhã com o Flávio do wise-up para o dia 18/5. Ele vai mudar a data da volta dele para estar conosco. Quem pode ir? Têm sugestão de lugar? Impoertante *(sic) preparar algo bacana pra apresentar a ele”, escreveu Deltan.

Além de convescotes matinais, Deltan também aproveitava encontros casuais para identificar possíveis doadores. “hoje um mega empresário veio falar comigo no aeroporto, um cara de SC com nome diferente. Passei meu e teu tel Pati. Falei pra ele te contatar. Ele tinha uma empresa que acabou de vender com sede em múltiplos Estados, uns 250 funcionários….”.

Deltan ainda revela que poderia pedir recursos a um empresário da Opus Dei em uma reunião na sede da Procuradoria. A conduta é vedada pelo Código de Ética e de Conduta do Ministério Público da União que proíbe “utilizar bens do patrimônio institucional para atendimento de atividades de interesse”.

Instituto com DNA gospel

As conversas revelam também que o Instituto Mude e a igreja Batista de Bacacheri são organizações intimamente ligadas. A primeira sede do Mude foi o templo frequentado por Deltan em Curitiba.

A conta da igreja Batista de Bacacheri teria sido usada para custear o site do Insituto Mude. “Marcos e Deltan. Como o valor de oferta entrou na conta da igreja. A nota tem que ser pra igreja também. A igreja será o pj no caso do site. Calculo 8 mil mas brifei 3 fornecedores e estou esperando o orçamento”, afirmou Patrícia Fehrmann em chat do Telegram.

Outro lado

Em nota pública, a força-tarefa de Curitiba afirmou que “é lícito aos procuradores da República interagir com entidades e movimentos da sociedade civil e estimular a causa de combate à corrupção, inclusive no ambiente da procuradoria”.

O Instituto Mude se pronunciou alegando que, “apesar de não haver nenhum empecilho legal para tal, o procurador Deltan Dallagnol nunca foi integrante ou associado” da entidade. Já a igreja Batista de Bacacheri avisou que não irá se pronunciar sobre o assunto.

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Redação DiárioPB

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