Técnica diz ao MPF que foi orientada a aplicar em crianças vacinas para adultos que iriam vencer na Paraíba
MPF abriu um procedimento para apurar responsabilidades pela aplicação indevida da vacina em crianças
Agência Brasil – A técnica de enfermagem, apontada como responsável pela aplicação de vacinas contra a covid-19 para adultos em mais de 40 crianças, em Lucena, na Paraíba, disse em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) que foi orientada a vacinar todas as pessoas que se apresentassem, “pois a validade das vacinas da Pfizer estava para vencer”. No depoimento, a profissional, que foi afastada da função após o caso, e disse ter recebido ordem do setor de Imunização da Secretaria de Saúde do município.
Após o caso, o MPF abriu um procedimento para apurar responsabilidades pela aplicação indevida da vacina em crianças. A técnica, que não teve o nome relevado, prestou depoimento, por meio de videoconferência, na tarde de ontem (16), para procuradora federal Janaína Andrade de Sousa e promotora federal Fabiana Maria Lobo da Silva.
A profissional de Saúde disse que foi contratada pela prefeitura, no final de novembro do ano passado, para “auxiliar médicos e ser vacinadora de crianças, adolescentes, adultos e gestantes” na aplicação de todas as vacinas de rotina, mas que, depois, em dezembro, passou a aplicar também vacinas contra a covid-19.
De acordo com o depoimento, as aplicações indevidas da vacina em crianças ocorreram nos dias 29 de dezembro de 2021 e 07 e 11 de janeiro. A técnica de enfermagem disse que a vacinação ocorreu em dois locais: um na Unidade Básica de Saúde (UBS-5), localizada na Estiva do Geraldo, o outro, foi em um assentamento chamado Outeiro de Miranda, na zona rural da cidade, gerenciado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Ela disse que muitas pessoas apareceram para se vacinar e informou que o volume do imunizante aplicado foi o mesmo para adultos e crianças.
A profissional disse que estava sozinha na vacinação “sem coordenadora, enfermeira, médica ou dentista, acompanhada somente de um Agente Comunitária de Saúde (ACS). Acrescentou que a ordem para vacinar foi do motorista “todos que estivessem para se vacinar”, pois a validade das vacinas da Pfizer estavam para vencer.
A técnica disse que não sabe quantas vacinas aplicou e que não sabia que havia imunizantes já vencidos e que não recebeu da Secretaria de Saúde informações sobre as diferenças nos volumes para adultos e crianças.
A vacina contra covid-19 autorizada para as crianças apresenta diferenças na dosagem, composição e concentração do principal componente, o RNA mensageiro, com a dosagem representando o equivalente a um terço da vacina aplicada em adolescentes, a partir dos 12 anos e em adultos.
Aos representantes do MPF, ela disse ter feito curso de vacinação geral, mas que não recebeu nenhum treinamento específico para vacinação contra covid-19, havendo apenas um treinamento online do qual ela não participou devido estar acompanhando a mãe no hospital.
A profissional informou que, durante a vacinação no assentamento, uma ACS foi quem preencheu os dados dos cartões de vacinação, tendo ela apenas assinado e aplicado a vacina. Ainda de acordo com a técnica, a ACS levou a filha de cinco ano para vacinar.
A ACS também prestou depoimento ao MPF e afirmou que preencheu os cartões, devido à técnica de enfermagem estar sozinha. Ela disse que anotava as datas de nascimento das crianças, mas que não sabe informar se alguma criança menor de cinco anos recebeu o imunizante.
A agente também informou às representantes do MPF não saber que a vacinação de crianças entre cinco e 11 anos ainda não estava liberada e que só soube da indevida aplicação do imunizante após ter visto um vídeo de uma das mães, relatando a situação dos filhos.
A mãe também falou com o MPF e disse ter levado os dois filhos, um de cinco anos e outro de sete anos para vacinar, após ter recebido comunicação da ACS via grupo de WhatsApp. Depois de ter sido vacinada, a criança mais velha apresentou reações adversas como tontura, fraqueza, por dois dias. No depoimento, a mãe disse não ter levado a criança para a UBS, por que “perdeu a confiança, após o ocorrido”.
A Agência Brasil tentou falar com a prefeitura do município, mas não obteve resposta.