MÍDIA E SOCIEDADE

Simone de Beauvoir e a anatomia do Nazismo

(será que teremos tempo para a indignação?)

As sensações de déjà-vu traem o princípio da Fenomenologia: deixar que os fenômenos se apresentem como são – sem a tentação de nomeá-los. No Brasil, estamos vivendo o fenômeno da ascensão dos grupos neonazistas. Por ignorância ou sobrevivência econômica recalcada no individualismo materialista da classe média, não temos noção do espectro destruidor que ronda nossa sociedade, como a anulação dos direitos sociais. Estamos nos tornando uma nação estéril de afetos. Um dos afetos esterilizados pela propaganda nazista é o medo.

O medo, na Ética de Spinoza, o grande filósofo judeu do século XVII, é um afeto negativo, mas é importante para a construção da coragem. Apenas os corajosos sentem medo. Os irresponsáveis e fanfarrões transformam o medo em suicídio coletivo.
Foi com medo e apreensão que Simone de Beauvoir, escritora francesa, viu a ascensão do Nazismo nos anos 1930 na Europa:  “Vimos em janeiro de 1933 Hitler torna-se chanceler, e a 27 de fevereiro o incêndio do Reichstag (Parlamento) deu início à liquidação do Partido Comunista.

Novas eleições, em março, confirmaram o triunfo de Hitler; a partir de 2 de maio, a bandeira da cruz gamada foi desfraldada na embaixada da Alemanha em Paris. Numerosos escritores, sábios alemães, sobretudo israelita exilaram-se: entre outros, Einstein. O Instituto de Sexologia foi fechado. A sorte reservada aos intelectuais pelo regime hitlerista comoveu profundamente a opinião pública francesa.

Em maio, na praça da Ópera, em Berlim, um gigantesco auto de fé destruía vinte mil livros. Desencadeavam-se as perseguições antissemitas.Se ainda não se falava em exterminação dos judeus, já uma série de medidas assegurava-lhe a proletarização;boicotes sistemáticos impediram-nos de ganharem a vida. Sinto-me hoje estupefata ao lembrar que tenhamos podido registrar esses acontecimentos com relativa serenidade (…). Simone de Beauvoir in A força da Idade.
Será que teremos tempos para a indignação?

Wellington Pereira

Redação DiárioPB

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