Os que estão no andar de baixo
Os que estão no andar de baixo do edifício social brasileiro, veem sua situação de sobrevivência agravada neste tempo de pandemia. A pobreza e a fome aumentando acentuadamente, em razão da retração das atividades econômicas que a doença impõe com as necessárias medidas de isolamento. E são alcançados pelo falso dilema propagado pelo governo federal: economia versus saúde. É inquestionável que o distanciamento social é imprescindível para que haja um controle do número de infectados. Enquanto não tivermos, pelo menos, setenta por cento da população vacinada, não há como fugir disso.
O que vemos, lamentavelmente, é a perpetração de um jogo demagógico de pronunciamentos, na tentativa de inverter a lógica da essencialidade. Busca-se colocar a economia como prioridade absoluta, desprezando a necessidade de que primeiro será preciso garantir a sobrevivência de todos. Observamos a ausência de políticas públicas que preservem o emprego e renda, principalmente dos mais necessitados. A retórica negacionista da realidade insiste na defesa de teorias econômicas que não se sustentam, quando analisadas racionalmente.
Diante de uma emergência sanitária de tal dimensão esta é uma opção política que pode ser considerada desumana. Estamos assistindo o sistema de saúde sendo colapsado e uma flagrante desassistência social à população que vive em condições de extrema pobreza. Não há planejamento oficial para enfrentamento desse grave problema, a não ser medidas pontuais adotadas por governos estaduais e municipais. A situação econômica das famílias e das pequenas e médias empresas é devastadora, com a pandemia chegando de forma implacável ao andar de baixo.
Um quarto da população brasileira vive em situação de pobreza ou de extrema pobreza. A pandemia vem agravando esse quadro de desigualdade social em nosso país. Sem o devido apoio governamental, o que se vê, numa linha contrária ao que deveria ser feito, são os programas sociais cada vez mais sendo reduzidos. Além das dificuldades que esse pessoal enfrenta em razão da má gestão da crise pandêmica, carente de uma coordenação nacional. A cesta básica vem tendo um aumento de preço de maneira acelerada.
Faz-se necessário implementar ou dar continuidade às transferências de emergência, como medidas excepcionais de proteção social. Está na hora de acabar com a cultura dos privilégios, reativando a economia a partir de uma perspectiva de igualdade e desenvolvimento sustentável. O Brasil está sendo empurrado de volta ao Mapa da Fome. Um terço da nossa população vive sob insegurança alimentar. O combate errático ao novo coronavirus adotado pelo governo federal tem contribuído para que aumentem as dificuldades em conter o avanço da pobreza. É, portanto, uma questão que precisa ser refletida com responsabilidade pelos que estão com a missão de governar a nação.
Rui Leitão