GERAL

O futebol e o cotidiano

tarjaePauloAlves

Em se tratando de futebol impossível não vir de pronto à mente a última e maior de todas derrota sofrida na recente edição da Copa do Mundo: Tupiniquins x Deutsch. Ainda estamos meio anestesiados, bestializados, incrédulos. Afinal de contas brasileiro vive, desde sempre, anestesiado (claro, senão ninguém suportaria esta vida in terra brasilis), falta anestesia, apenas, quando o indivíduo chega a um hospital público necessitando de uma intervenção cirúrgica, aí se procede in natura, ou seja, a cru. Anestesiadopelo álcool ou outras cositas mas, anestesiado quando ver a cor do salário mínimo; anestesia-se quando a seleção “leva um escanteio”, e quando a seleção ganha a anestesia é geral. Na verdade só mesmo anestesiado para continuar “deitado eternamente em berço esplêndido”, não?

Neste interim, o que não é novidade, repete-se à exaustão: que o brasileiro comum, que se estaza no trabalha e sofre no transporte na ida e vinda, têm por única alegria quando ver “sua” seleção campeã. É como se tacitamente afirmasse que em alguma coisa esta sociedade deu certo.

Mas será que não está havendo uma des-compensação, será que não estamos pondo força além do peso. Por que insistimos em condicionar nossa felicidade ou a simples alegria à coisa tão volúvel e passageira, que consiste o objetivo, tout court, em uma esfera oca ultrapassar uma linha traçada no solo, cuja marca no dia seguinte ou no segundo dia subsequente já se apagou? Então a pergunta que não quer calar é: em que base assentamos nossa felicidade? E também não estaríamos nós delegando a causa de nossa felicidade a outrem? (a uma garotada, cuja origem e formação não são das melhores, se bem que essa faixa da população costuma ser fiel e honesta, nem sempre conseguindo ter claro o que significa patriotismo, segundo os “patrioteiros” de plantão, bem como pôr-se firmemente em frente a uma sociedade queescarnecia-os, antes de serem famosos, no seu nicho social originário). Esta última questão nos leva a outra proveniente de uma desconfiança afirmada à boca pequena entre os torcedores, críticos e comentaristas de futebol. De que os jogadores atuais não estariam mais comprometidos com a causa do sucesso da seleção; seriam os chamados jogadores pernas-de-vidro, que ganham milhões lá fora e lá teria que fazer bonito (seu salário estaria em jogo, literariamente), mas ao chegar na seleção fariam “corpo mole”, pois nessa equipe contaria apenas o amor à camisa, isto é, ao país. E que alguns acham melhor denominar de patriotismo.

Estaria ou não o time atual comprometido com a causa da “camisa”? Não possuímos “intensiômetro” para aferir o grau de empenho e comprometimento de cada um e do grupo como um todo, mas uma certeza provável assoma à nossa têmpora, eles (os jogadores) não estariam tão comprometidos quanto envolvido está cada torcedor. O motivo já foi ventilado acima, os brasileiros medianos e comuns têm por única alegria a vitória da seleção, ao passo que os selecionados têm dentre outras coisas uma polpuda conta bancária, cujo montante nós, pobres mortais, nem ousamos avaliar quanto seja. Contudo, é bom lembrar que no bojo desta acusação, comodisse, feito à boca pequena, reside sim o mito da idade de ouro, que consiste em apontar o passado como o tempo perfeito. No caso, a seleção de 1970 como o melhor time já formado no Brasil. Ou, pelo menos, aquele que fracassou em 1982, por muitos considerado o time dos sonhos. Mas aqui o onirismo não tem vez, prefiro e time de 1994: 0x0, mas campeão.

A julgar por uma foto publicada um ou dois dias após a derrota, em que Neymar visita os colegas na concentração e aparece rindo, parece que eles não sentiram o baque que os torcedores sentiram. Mas se isso for verdade incorreriam eles num crime? Não. A obrigação que eles teriam seria moral não profissional. E na verdade, quem joga nenhuma obrigação tem de vencer. Jogo é jogo. Há a possibilidade de três resultados, inclusive a derrota. Então, caros leitores, despertemos do sonho, ou melhor, pesadelo e coloquemos força de acordo com o peso.

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Redação DiárioPB

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