Durante a pandemia da Covid-19 surgiu um número crescente de debates virtuais ou interferências de especialistas nas redes sociais denominadas lives – comunicação direta, virtual com o público.
No vasto território das lives há opiniões sobre tudo, busca de esclarecimento sobre acontecimentos do cotidiano que podem ser de ordem político-econômica, mas também estético-artísticas.
As livres representam uma forma contraditória – neste momento da pandemia – de uma comunicação de massa sem massa, pois a massa urbana está limitada pela necessidade urgente do distanciamento social contra a contaminação.
Dou outro lado, se estabelece a característica de fóruns públicos – ágoras virtuais – nos quais o debate sobre a vida pública se faz em espaços privados mediados pelas novas tecnologias. Isto demonstra a importância das lives, mas também do empobrecimento conteúdístico a que algumas temáticas são submetidas.
Às vezes, chegamos a pensar que a força das lives é tautológica – se estabelece no próprio manejo das tecnologias de áudio e som, mas não contribuem para o enriquecimento de reflexões sobre os fatos sociais, ou seja: a live vale pela live.
Assim, poderíamos pensar: qual a importância de tantas lives? Quem necessita fazer live? Há uma ordem do discurso nas lives?
A importância das live está na produção de reflexões sobre o tempo em que estamos vivendo marcado por uma crise sanitária e política no Brasil e no mundo.
O importante em cada live é guardar o seu aspecto didático-pedagógico, que é capaz de recuperar o fluxo de atividades cotidianas para que o social permaneça vivo.
Os autores sociais envolvidos na produção de lives devem pensar o presente em sua formulação agostiniana (Filosofia de São Agostinho) capaz de recuar ao passado e se alargar para o futuro: verificando o instante e a duração do tempo.
Uma live pedagógica é aquela que apreende, através da intuição do expositor, as formas do tempo, seja como instante seja como continuação.
Com o auxílio da filosofia de Gaston Bachelard, em seu livro, A intuição o instante, poderemos refletir sobre os significados do tempo-quotidiano; como uma live busca resgatar esse tempo.
Dessa forma, Bachelard, procurano definir as características da temporalidade social, nos remete aos filósofos Bergson e Roupanel: 1) a filosofia de Bergson é uma filosofia da duração; 2) a filosofia de Roupanel é uma filosofia do instante.
Portanto, as lives devem demarcar, de forma pedagógica, o que é duração (no sentido de Bergson), mas demonstrar as alterações temporais sofridas pela sociedade no instante (Roupanel) da pandemia.
As lives podem nos ajudar a entender – desde que sejam realizadas fora das doxas – opinião fechada – que é no presente que está a nossa consciência, por isso as modulações temporais em instante e duração dependem do que alimenta nosso imaginário, para que não pensemos num passado de mundo abolidos, tampouco em um futuro onde os abismos abissais serão extintos.
Como o nosso instante é a pandemia, as lives devem ter o caráter de reforçar a importância da duração do tempo (Bergson) das vidas em sociedade.