Jornalista Dalmo Oliveira estreia coluna semanal no Portal DÍARIOPB
O jornalista, ativista e multimídia Dalmo Oliveira, 50, estreia nesta terça feira (4) uma nova coluna semanal intitulada “Elejó” que circula semanalmente no jornal A União no estado da Paraíba. A proposta é discutir assuntos diversos, da cultura a política paraibana de forma lúdica e de interesse da comunidade.
30 anos de comunicação social
Em fevereiro inteirei 31 anos de Comunicação Social. Lembro da chegada acabrunhada para as primeiras aulas, num fevereiro quente de 1986, no antigo Departamento de Artes e Comunicação (DAC), no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA) ali no campus 1 da UFPB, encrustado no Castelo Branco.
Na verdade, eu já praticava Comunicação profissionalmente, há, pelo menos, três anos antes disso, quando assumi a mesa de controle de som da Rádio Constelação FM, ainda em Guarabira, conquistando meu primeiro contrato de trabalho e inaugurando minha CTPS quando ainda era “de menor”.
Escolher Comunicação e Jornalismo na Universidade acabou sendo uma decisão bastante óbvia e racional naquele momento. Antes de mudar de vez para a Capital, meu pai, Seu Martim Batista, me chamou para um dos poucos papos “de homem para homem” que desfrutei com ele: “Se ligue lá em João Pessoa, nesse curso que você escolheu, porque andei sabendo que é um curso que só tem fresco, sapatão e maconheiro!”, alertou assim, na lata, com aquele jeitão peculiar de um autêntico “cabeça de área” do másculo futebol daquela época. “Ok, papai. Pode deixar!”, respondi meio desconfiado e surpreso com a advertência.
Na graduação, além do Jornalismo, eu fiz uma verdadeira faculdade de diversidades, convivendo com as mais variadas matizes identitárias, muito além daqueles três esteriótipos citados pelo “coroa”. Mas, dos quatro anos e poucos meses de duração do Curso, só pouco mais que dois foram os que eu realmente caí na real e mergulhei no inusitado mundo universitário, pelas mãos do movimento estudantil e pela militância anarco-libertária fascinante que desenvolvi e participei ativamente nesse período.
Em 1991 eu inaugurava minha paternidade, de maneira um tanto quanto involuntária, e já estava completamente inserido na cena intelectualóide por onde gravitavam os “focas” e agitadores ideológicos daquele momento histórico na Cidade do Sanhauá. Foi o veterano petista Sergio Botelho que me ofereceu o primeiro “bico” jornalístico, num periódico impresso que ele editava com foco na UFPB, suas pesquisas e seu cotidiano. Um jornal chamado “Dois Pontos”, diagramado pelo mitológico arte-finalista por Rosemberg Silva.
A experiência no jornal universitário foi suficiente para me dar a cancha curricular e migrar para a imprensa “de mermo”, conquistando uma vaga no time de repórteres do extinto jornal O Norte. Ali da Redação da Pedro II pude colocar em prática boa parte do que vi teoricamente no Curso de Jornalismo, mas aprendi muito, muito mais!
Primeiro pelas companhias fabulosas de caras como Walter Galvão, Nara Waluska, Mana Sousa, Gilberto Lopes, Wallack pai, Agnaldo Almeida, Augusto Magalhães, Célia Leal, Evanice Gomes e outros tantos. Depois, pelos desafios cotidianos da práxis de um jornalismo precário, provincianista, rudimentar, tendencioso, mas feito com espírito desafiador, corajoso e inovador.
Foram apenas quatro anos “no batente”, entremeados com uma atuação radicalizada à frente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Paraíba. Conduzi greves, operações-tartaruga, negociações de classe, num cenário absolutamente desfavorável, tendo que equilibrar fatores sociais complexos, como o fato de que cerca de 60% dos companheiros e companheiras da Redação não possuírem formação acadêmica na área. Ou estarmos submetidos a editores semiletrados, ou (ainda pior) a interventores importados de outras praças que vinham à João Pessoa achando que teriam que coordenar um bando de idiotas ignorantes. Assim era O Norte da minha época!
Antes de me tornar funcionário público, ainda tive a oportunidade de atuar na Redação de um dos jornais mais charmosos do Norte-Nordeste: aqui em A UNIÃO, onde assumi o desafio de produzir para uma página temática sobre Educação. Nesse ínterim, ainda pratiquei um pouco de assessoria de comunicação junto ao Conselho Regional de Contabilidade e ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação da Paraíba (SINTEP).
Confesso que depois dessas três décadas, ainda sou um aprendiz de Comunicação Social. Mesmo com a fantástica experiência em jornalismo científico que adquiri na Embrapa. Até depois do Mestrado em Comunicação na UFPE e a especialização em Gestão da Informação, pela Universidade de Juiz de Fora. Tendo acumulado, mais recentemente, mais experiência na comunicação comunitária, com a militância nas rádios comunitárias e webradios. E ainda com as ações na blogosfera, não consigo me sentir pleno no fazer comunicacional.
Como se a comunicação fosse, cada vez mais, uma impossibilidade humana, uma utopia inatingível. Ao contrário daquilo que pensava que ela fosse, quando comecei a estudá-la, a Comunicação Social (e toda sua parafernália) funciona, muito mais, como um instrumento desagregador. Uma arma perigosa na mão de gente malintencionada. Algo que precisa ser controlado, vigiado de perto. Na prática, a comunicação não passa de uma tentativa.
Hoje procuro usar minha competência comunicacional para tentar promover, na minha comunidade, a promoção da igualdade racial. Para fomentar equilíbrios das diversidades. Jornalismo e comunicação como processos facilitadores emancipação humana e social, portanto, coletiva. É difícil, mas eu tento. Mesmo com os vícios do jornalismo secular, baseado na falácia de uma certa “imparcialidade”.
O comunicador para a igualdade é assim, antes de tudo, um ativista consciente de seu papel e de sua missão no contexto em que se encontrar. Priorizar uma comunicação comunitária, em contraponto à comunicação industrial. Desenvolver uma mídia social voltada para o desenvolvimento local. Gosto de pensar no conceito de “comunicação orgânica”, tomando emprestado de Gramsci a ideia de um fazer comunicacional com base em atores sociais imbricados nas narrativas que produzem para o consumo coletivizado de notícias. Mais ou menos isso.
Leia aqui o primeiro artigo publicado no DPB da coluna Elejó