“INTERESTELAR”: a imaginação artística e a política de esgotamento de vida na Terra.

INTERESTELARO cinema americano e sua faceta comercial, os blockbusters, apresentam no discurso uma preocupação com os rumos da política que se desenvolvem nas discussões públicas no dito “mundo livre”. É fato que as consequências dessas discussões requerem e têm ritmos de compreensões diferentes: uma no lugar da representação simbólica cinematográfica; e outra no lugar das discussões políticas internacionais. Uma compreende tempos diferentes da outra. O cinema atua com uma narrativa mais curta antecipando, em seu enredo, as tentativas de resolução na política e, ainda, intensificando, metaforicamente, seus problemas, causas e consequências. Se o cinema direciona o discurso fazendo uso da imaginação com o objetivo de revelar um fim catastrófico para a atual forma de existência, a política defende sua postura em meio a hipóteses do discurso (bem planejado) das ciências. Aqui distinguimos arte e política.

Para exemplificar nosso argumento sobre as formas que a política e o cinema narram questões emergentes na sociedade atual, o filme “Interestelar” (2014), de Cristopher Nolan, é marcante. Nessa narrativa, a Terra passa por intensas transformações climáticas, onde apenas a monocultura (no caso o milho) pode ser a saída em um lugar exaurido. A perturbação no clima resulta em tempestades de areia que assolam a região ainda produtiva dos EUA. Há uma preocupação, na comunidade acadêmica e na sociedade, em como resolver o problema que, de alguma forma, tornará a Terra inabitável e inóspita, em tempo muito curto, para o cultivo de todo e qualquer alimento e também para a manutenção da vida humana.

Secretamente, seguindo a ideia das imposturas investigativas da qual o governo estadunidense e o poder sempre foram alvos, porque alimentaram teorias conspiratórias, como a “Área 51” ou um “arquivo X”, o governo estaria procurando uma maneira de conseguir livrar a espécie humana da extinção. Tal saída, pesquisada por um grupo de cientistas, seria buscar, em galáxias distantes, um planeta habitável e que pudesse acolher os humanos.

A partir desse momento faremos também as articulações entre o filme e o contexto político americano. A cultura judaico-cristã-ocidental (usamos esse termo apenas para reduzir o problema de analisar em pormenores a formação da ideologia política da classe dominante americana) tem forte apelo em seu imaginário social. A figura do herói (neste filme são os astronautas) é reincidente na forma fixa dos blockbusters.

A forma fixa está indicada no herói e em seu desprendimento pela vida, em busca da salvação para a humanidade. Está na importância dos valores da democracia e da liberdade. Podemos perceber a crença nesses valores nos discursos dos astronautas Cooper (Matthew McConaughey) e Brand (Anne Hathaway) e, geralmente, em todos os blockbusters, mas que tais discursos poderiam estar na boca de qualquer personagem da política americana atual (o que no cinema é ficção, na política é cinismo). A forma fixa está nas narrativas apocalípticas que afetam o imaginário de um povo ainda muito ligado a crença em mitos. Isso muito se deve pela necessidade, em um mundo à beira de catástrofes ambientais, de manter as ilusões de permanência da vida e de salvação humana através do sacrifício individual do herói em nome de um ideal, ou seja, a ideologia da salvação na exploração por planetas habitáveis.

A cultura homogênea se percebe de duas maneiras: vista na monocultura do milho; e, percebida no discurso em defesa de “uma” causa. As duas têm sempre consequências bem previsíveis. Como mensagem, essa desertificação das áreas onde a vida seria possível torna-se um alerta para o cuidado de manter responsabilidades com o meio ambiente, uma preocupação do G20 (as nações mais ricas do mundo) e que virou pauta para acordos na reunião de 2014, ano da exibição de “Interestelar”. Por outro lado, a aridez das relações entre as pessoas, além dos interesses conflitantes das maiores economias do mundo.

As posições do herói e de sua filha, que o espera durante toda a vida, subscreve o deserto que é a solidão quando se espera um retorno do objeto de desejo: o Messias e o Anjo da Anunciação. O salvador que traz boas novas. Mas essa visão, supomos, está aquém da mensagem do filme que é a preocupação com os rumos da humanidade em um contexto de escassez: nas relações interpessoais e na sinceridade dos governos, tão difícil quanto encontrar um planeta habitável. “A verdade está lá fora”?

Conexão DIÁRIOPB por Jair de Oliveira

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Redação DiárioPB

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