Evangélicos doam R$ 11 mil para reforma de terreiro
Depois de oito atentados, o terreiro de candomblé Kwe Cejá Gbé de Nação Djeje Mahin, da mãe de santo Conceição d`Lissá, em Duque de Caxias, será reformado com uma doação de R$ 11 mil da Igreja Evangélica. “O valor financeiro não é o mais importante, mas sim o gesto de união. Não é uma igreja reformando outra igreja. Mas uma igreja contribuindo para reformar um templo religioso que parte do segmento evangélico persegue como se fosse demônio. É a prova do amor ao próximo e do respeito à diferença”, comemora o babalawo Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão de Combate à intolerância Religiosa (CCIR).
Um café da manhã com representantes das duas religiões acontecerá no dia 22 de novembro, às 10h, no próprio terreiro (Rua G, lote 9, quadra H. Jardim Vale do Sol, Taquara – Duque de Caxias). “É um encontro para o mundo todo celebrar e seguir”, comemora Santos.
Em 2014, o terreiro tinha sido mais uma vez destruído e a pastora luterana Lusmarina Campos Garcia, então presidente do Conselho de Igrejas Cristãs do Estado do Rio de Janeiro (CONIC-Rio), teve a ideia de reformar o espaço e foi iniciada uma campanha. Depois de um hiato, a iniciativa foi retomada e ganhou ainda novos aportes. “Eu acho que o pessoal do bem deveria copiar esse exemplo. Nem todos evangélicos destilam ódio e eles estão mostrando isso em suas ações”, afirma o interlocutor.
O babalawo reforça que não se pode generalizar, mas que a destilação de ódio, racismo e preconceito são atitudes reprováveis e deploráveis. Segundo ele, o poder público poderia ser mais atuante. “Infelizmente, o poder público não faz nada. As casas estão destruídas e as investigações não chegam ao final. Não vira inquérito, os culpados não são denunciados e não vão à justiça. Isso precisa mudar. Temos que combater o ódio, o preconceito e o racismo religioso com respeito, igualdade e amor”, defende.
Ataque em junho de 2014
Em 26 de junho, o terreiro foi incendiado durante a madrugada. O fogo atingiu o segundo andar da casa e destruiu teto, móveis, eletrodomésticos, roupas de santos e de integrantes do terreiro.
Não é a primeira vez que Maria da Conceição Cotta Baptista – Conceição d’Lissá – é vítima de ataques. “Já atearam fogo no meu carro, que na época estava quebrado e parado dentro do barracão. E dispararam tiros contra a minha casa e no portão do barracão. Deram nove tiros.” Equilibrada, ela evita apontar suspeitos. Cabe à polícia, afirma, descobrir quem cometeu o incêndio e os outros ataques.
Na época, o presidente do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas, o babalaô Ivanir dos Santos, chamou atenção para o fato de as agressões serem persistentes. “Não é a primeira vez. Se as medidas tivessem sido tomadas anos atrás, pode ser que tivessem cessado. A polícia tem de ser mais rigorosa”.
O DIA