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Especialistas apontam lacunas na perícia da gravação de ligação em que Lessa libera entrada de Élcio em condomínio, diz jornal

Uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo apontou lacunas no trabalho de perícia no sistema que registra ligações de interfone no condomínio do presidente Jair Bolsonaro, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio.

As declarações das promotoras sobre o caso, na quarta-feira (30), foram baseadas na perícia feita pelo próprio Ministério Público. Elas informaram que quem autorizou a entrada de ex-PM Élcio Queiroz no condomínio Vivendas da Barra foi o outro acusado de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, o PM reformado Ronnie Lessa – ambos estão presos pelos assassinatos e Ronnie tem casa no condomínio.

Portanto, segundo o MP, a autorização não partiu do presidente Jair Bolsonaro, como tinha afirmado em dois depoimentos o porteiro do condomínio.

O Jornal Nacional mostrou, na terça-feira (29), que o depoimento do porteiro se chocava com a realidade, porque Bolsonaro, então deputado federal, estava em Brasília no dia do crime, 14 de março de 2018. Na Câmara dos Deputados, ele registrou presença em duas votações.

A promotora Simone Sibílio informou que o áudio gravado no sistema de interfones do condomínio revela que a voz não era de Bolsonaro. A prova técnica comprovou que é a voz de Ronnie Lessa, que autoriza Élcio a entrar no condomínio, às 17h07.

A reportagem do jornal Folha de S.Paulo, publicada nesta quinta-feira (31), ouviu especialistas e afirma que a perícia não analisou pontos importantes.

A reportagem diz que as promotoras não perguntaram aos peritos se algum arquivo pode ter sido apagado ou renomeado. A Folha afirma que a perícia foi feita a toque de caixa, no mesmo dia da entrevista coletiva do Ministério Público.

A entrevista coletiva foi um dia depois de o Jornal Nacional revelar o depoimento do porteiro.

A Folha diz que que só na quarta-feira as promotoras encaminharam as perguntas sobre as gravações ao setor técnico, e que o documento indica que os técnicos não tiveram acesso ao computador de onde os dados foram retirados.

O Jornal Nacional apurou que as perguntas que constam no pedido de perícia que está no processo foi protocolado às 13h05, e a coletiva anunciando as conclusões começou pouco depois, às 15h30.

O presidente da Associação Brasileira de Criminalística, Leandro Cerqueira, disse à Folha que, sem acesso à máquina em que os arquivos foram gravados, não é possível identificar se um arquivo foi apagado ou renomeado.

Disse ainda que o arquivo pode ter sido trocado e seria necessário o acesso ao equipamento original.

A Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais afirmou ao jornal que é temerário o possível arquivamento de uma notícia de fato sem o devido exame pericial oficial e que isso abre espaço para uma guerra de versões e opiniões distante dos fatos.

A reportagem diz que o único objetivo da análise nos arquivos entregues pelo condomínio foi confirmar se era de Ronnie Lessa a voz que autoriza a entrada de Élcio Queiroz. E isso foi confirmado.

Os peritos usaram como base de comparação o interrogatório de Lessa à Justiça no caso Marielle, em 4 de outubro.

Segundo a Folha de S.Paulo, o Ministério Público disse também não ser possível confirmar nem mesmo se a gravação registrada na portaria é do mesmo porteiro que prestou depoimento.

O Jornal Nacional também teve acesso ao processo e também fez perguntas sobre a perícia. O Ministério Público não explicou por que não comparou a voz do porteiro com o áudio, já que o depoimento dele foi gravado pela polícia.

À noite, o MP confirmou que o sistema de áudio da portaria e o computador não foram apreendidos porque, a partir do momento em que houve a citação da autoridade com foro, nenhuma outra medida de busca poderia ser adotada. O Ministério Público informou que realizou a perícia no arquivo de áudio apreendido porque Ronnie Lessa não possui foro de prerrogativa de função.

O Jornal Nacional também perguntou ao MP como os peritos conseguiram responder às perguntas das promotoras em menos de três horas, já que havia três meses de conversas gravadas. O MP se limitou a responder que estas informações estão no processo.

G1

Redação DiárioPB

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