Entre picaretas e achacadores rondam hienas
Nos anos noventa (1993), o então deputado federal Lula disse que o Congresso Nacional tinha 300 picaretas. Foi um “Deus nos acuda”. Muita gente choramingou. Agora, o então Ministro da Educação, Cid Gomes, afirmou ter lá 400 achacadores, foi um rebu: e a bancada da bala, que se traveste de religiosa e não passa de um “mói” sanguessugas, exigiu incontinenti a cabeça do ministro, o que foi atendido, para salvar a já combalida relação entre Planalto e Congresso Nacional.
Mesmo que o Ex-Ministro tenha lá seus pecados, e tem! findou por entrar para a história política do país e angariar a simpatia dos brasileiros honestos, pois é isso que todos nós dizemos, mas não o podemos fazer na grande mídia. Ele o fez num grande gesto vicário.
Na verdade, os dois disseram a mesma coisa. O achacador e o picareta é o extorsor, que não pestaneja em usar de qualquer expediente para obter o que pretende. Ora, todos sabem e não é segredo, que aquela gente nunca foi santa. Não me digam que é honestidade alguém que ganha um escandaloso salário, apenas para brigar em plenário e votar as matérias que lhe interessam, por cima instituir bonificações, gratificações, verbas de gabinete, ajudas de custo de toda ordem, que somam mais de noventa mil reais mensais. Para se ter uma ideia, só o auxílio-moradia é mais de quatro mil reais (precisamente R$ 4.253,00). Por favor, respeitem a minha inteligência e não me venha dizer que nisso há sombra de honestidade; num país em que um indivíduo que se estaza trinta dias, trabalhando duro, suportando o peso do dia e um boçal patrão, recebe exatos R$ 788,00. Para semelhante gente, achacadores e picaretas são títulos honoríficos. Na verdade, são um misto de hienas e monstros. É o limite do cinismo: fazer tudo que é mau e obrigar às pessoas a beijarem-lhes a mão, chamando-os de querubins.
Só a título de informação, ao final de 2014, um deputado federal passou a ganhar R$ 33.763,00, mas já estão querendo aumentar para 35.900,00. Ao passo que a presidenta, com toda a responsabilidade que pesa aos ombros, sobretudo a de responder diante da população, quando algo não dá certo, recebe de salário R$ 30.900,00.
É como diz Fernando Pessoa, em “Tabacaria”: “Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me./ Quando quis tirar a máscara,/ Estava pegada à cara”. Essa gente dorme e amanhece protegida por uma máscara, para tentar afetar honestidade e decência. Mas essa máscara tem o mesmo efeito de uma peneira tapando o sol. Todos sabemos quem são. Punguistas que se aproveitam do título de representante do povo para fazer o que bem entendem. Nenhuma ação em beneficio do povo é feita (mostrem-me uma só). Nem fazem nada nem deixam outros fazerem: trancam a pauta de votação, pressionam a presidenta, para assim forçarem-na a ceder o que eles querem. Não a deixam agir para assim enfraquecerem-na ainda mais, e mais fraca ficar mais exposta à ganância deles, que, como hienas, estraçalham um país-cadáver que jaz a cinco séculos, qual Prometeu se restabelece à noite para ao dia refestelar a parasitária.