TOCA DO LEÃO

Costumes sexuais dos povos ameríndios

“Acender a curiosidade dos meus eventuais leitores, essa a razão do título impactante desta croniqueta. Seguindo o raciocínio de um leitor, vou acreditando que sou bom em autopromoção, por isso busco o maior número de leitores possível, usando até mesmo esse recurso um tanto desprezível e ordinário. Advertência em um desses blogs de desocupados: ‘Prostituir’ o blog pode aumentar seu tráfego, mas gera consequências inesperadas.

É que li na internet que, se você pretende ser lido por um grande número de internautas, deve titular a matéria de forma um tanto sensacionalista. Minha experiência indica que religião e sexo são os dois assuntos que mais podem ‘bombar’ um post na internet. Em meio à assustadora onda de informações no mundo da grande rede, cedo talvez à vaidade de só tratar do meu universo, da minha aldeia. Por isso os raros acessos, mas de leitores qualificados, a maioria meus conterrâneos.

Sobre os ameríndios, li que, por não terem a mais leve noção de culpa, os costumes sexuais daquele povo eram liberais. Para esquentar a relação, rolavam bacanais e outros “recursos” entre os índios. É só o que sei.

Meu blog é coisa séria. Não tenho o intuito de agradar aos leitores, é só onda. Postei uma matéria, toda citação, a respeito da religião Vudu do Haiti, país que está na crista da mídia por conta do terremoto. Recebi uma carrada de mensagens. Posteriormente publicarei as mais contundentes e inquietantes. Creiam: a maioria das pessoas acredita mesmo que Deus castigou aquele país por causa da religião dos haitianos. O tempo não modifica nossa essência, se é que temos alguma.

Uma senhora chamada Miriam Padilha Moraes escreveu: “Acredito no sofrimento como uma forma de libertação. Aqueles que se curvaram e viram os escombros, vislumbraram a força do poder de Deus, mostrando que não devemos nos aliar a Satanás nem a bruxarias. Os que não comungam com o Diabo se mantêm vivos no poder de Deus. Vou contribuir para salvar mais gente de lá, e para que os sobreviventes sirvam a um só Deus”. Não parece um fundamentalista islâmico falando sobre o atentado às Torres Gêmeas? Esses religiosos conservadores tornam o argumento impossível. Os senhores da Inquisição manejavam lógica semelhante.

No Haiti desabaram igrejas católicas, evangélicas, mesquitas, sinagogas e tendas de Vudu. A catástrofe é democrática. Desastres naturais ocorriam muito antes dos humanos habitarem o planeta, desde quando isso aqui era uma bola de fogo. As forças da natureza só não conseguem desobstruir as mentes dos extremistas, fanáticos e intolerantes.

Eu particularmente tenho meu próprio anticristo, causador dos males do Haiti. Os Estados Unidos invadiu o Haiti em 1915 e governou o país até 1934. Justificando a feroz ocupação, o Secretário de Estado norte-americano Robert Lansing explicou que a raça negra é incapaz de governar-se a si mesma, que tem “uma tendência à vida selvagem e uma incapacidade física de civilização”. William Philips, um dos invasores ianques, afirmou: “É um povo inferior, incapaz de conservar a civilização herdada dos franceses”. Os racistas de toda espécie, essa escória colonialista é, para mim, o diabo que inferniza o mundo”.

Esta crônica foi publicada no meu blog Toca do Leão em 2010, após o terremoto que matou mais de 300 mil pessoas no Haiti. Atualmente, lideranças religiosas fundamentalistas continuam fazendo das suas perante a crise sanitária da pandemia. A maioria plantando desconfiança entre a razão e o pensamento religioso. Outros vendem descaradamente a fé no mercado aberto da picaretagem. Certo pastor chegou a ofertar sementes de feijão ao preço de mil reais. As “sementes abençoadas” seriam a cura para a COVID-19. Tenho para mim que a leitura distorcida da Bíblia provoca tantos males quanto a interpretação deturpada da Constituição. Os dois grupos defensores desses conceitos estão no poder. “Só Jesus na causa”, diria a irmã Zuleide.

Fábio Mozart

Fábio Mozart transita por várias artes. No jornalismo, fundou em 1970 o “Jornal Alvorada” em Itabaiana, com o slogan: “Aqui vendem-se espaço, não ideias”. Depois de prisões e processos por contestar o status quo vigente no regime de exceção, ainda fundou os jornais “Folha de Sapé”, “O Monitor Maçônico” e “Tribuna do Vale”, este último que circulou em 12 cidades do Vale do Paraíba. Autor teatral, militante do movimento de rádios livres e comunitária, poeta e cronista. Atualmente assina coluna no jornal “A União” e ancora de programa semanal na Rádio Tabajara da Paraíba.

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