Chiquinho Bezerra e os bares que não voltam mais
O poeta Chiquinho Bezerra canta a sua terra-berço com singelos versos de cordel. No livreto, Chiquinho lembra vultos populares que já foram para o andar de cima, e outros que ainda por aqui vivem. No poema, ele lembra o Bar Ponto Certo, o Teve Jeito e a Gruta Azul, famosos botequins no centro da cidade. O livro se chama “Memórias de Itabaiana”. Chico vai citando desde Barata, o campeão de sinuca, até o mestre Daciano Alves, que foi presidente de quase tudo na velha Itabaiana, desde a banda de música até a União dos Artistas e Operários. Daciano era cunhado de Zé da Luz, o poeta matuto.
Antes da pandemia estive em Itabaiana com o compadre Marcos Veloso, e foi decepcionante constatar que hoje não temos nenhum bar de respeito na cidade. Procurei um bar para tomar um uísque honesto, não encontrei. Fui ao Café Sivuca, na Praça Epitácio Pessoa, e o garçom informou que ali não se vendia bebida alcoólica. Lei seca na terra de Nazário, Bertoldo e outros farristas eméritos.
O que causa tristeza é o caos em que foi transformada a Praça 24 de Maio. Parece uma favela. Deveria ser mais cuidada, para impressionar bem aos que nos visitam. Lá senti falta do poeta Eliel José Francisco tomando uma brejeira com o professor Luiz Paraíba. Lula não podia me ver que logo declamava um poema de Zé da Luz.
Voltando ao Chiquinho Bezerra, devo informar aos meus seis leitores que Francisco Bezerra de Lima nasceu em 1944. Estudou no Grupo Escolar Professor Maciel, Ginásio Estadual de Itabaiana (atualmente Colégio Estadual Dr. Antonio Santiago) e Colégio Comercial Dom Bosco. Em 1966 ingressou no Banco do Brasil em Itabaiana, transferindo-se em 1981 para João Pessoa, onde se aposentou.
Formado em Ciências Contábeis pela Universidade Federal da Paraíba, passou a dedicar-se ao mundo das artes, como grande incentivador do Clube do Choro da Paraíba onde se apresentava como intérprete e compositor da MPB. Nesta atividade, ganhou o festival BANCARTE, em 2004, como melhor intérprete.
Como escritor, lançou o livro “Memórias de Itabaiana”, onde narra sua infância, adolescência e juventude na terra do poeta Sander Lee, através da simplicidade da poesia de cordel. Chico Bezerra será um dos escritores nativos a ocupar uma galeria especial na nossa cordelteca da Academia de Cordel do Vale do Paraíba, quando tivermos uma sede. Por enquanto, as reuniões têm lugar em qualquer birosca da Praça 24 de Maio, na presença de meia dúzia de três ou quatro avinhados senhores da velha guarda, devidamente afetados pela gravidade, a lei da gravitação universal que faz seus velhos corpos tombarem um pouco, e a gravidade propriamente dita de circunspectos cidadãos pinguços de outras eras, chapados da adrenalina que só os versos fornecem. Com o vago desconforto de beber em meio a sanduíche de mortadela suspeita, lama, raparigas velhas e cenário de uma praça aviltada, degradada pela incúria dos alcaides.
Mas, é o que temos. A clientela vale o chope mal tirado e pior gelado. A Santa Nossa Senhora da Conceição se destaca na praça viciosa, perante o sacristão Bebé Chorão que não respira nem mais derrama seu pranto de alcoolista neste mundo, ele que foi guardião da Santa, das putas e dos cachaceiros naquele mundo boêmio que vai trocando as pernas até parar.