Cem anos de festa sem perder o ritmo

Carnaval TradiçãoTribos, ursos, samba e muito frevo no pé. Os cem anos do carnaval de rua de João Pessoa não poderiam passar em branco, sem uma grande festa para marcar a data. Por isso, o Carnaval 2015 – João Pessoa de Todos os Ritmos, organizado pela Prefeitura Municipal de João Pessoa, está unindo Folia de Rua, Carnaval Tradição e os festejos de bairros

Este é o terceiro ano da festa unindo todos os grupos que fazem a festa em João Pessoa. O Folia de Rua contará com 45 blocos; o Carnaval Tradição, com agremiações, entre escolas de samba, tribos, clubes de orquestra, ursos e batucadas. O evento terá reforço nos bairros.

A comemoração será descentralizada para os polos, com duas atrações por noite na Praça da Amizade (no Rangel) e Cinco Bocas (em Mandacaru), nos dias 13 e 15 de fevereiro, contemplando estilos populares, a partir das 20h30, numa aproximação com as comunidades.

Tradição – Cem anos do carnaval de rua não podem passar em revisão sem a lembrança de um dos militantes mais aguerridos que, em 60 deles, respirou cultura popular. Em 19 de abril de 2014, João Pessoa perdia um dos seus brincantes definitivos: José Ferreira de Araújo, o Mestre Carboreto, comandante da Tribo Tupynambás, de Mandacaru. Vítima do terceiro infarto seguido, morreu aos 68 anos, ironicamente no Dia do Índio. Não sem antes deixar a agremiação amarela, vermelha, branca e verde ascender ao grupo especial do Carnaval Tradição.carnavaltradição_Airton_tribos_foto_dayseeuzebio (8)

“Não posso falar muito do meu pai e do vazio que nos deixou”, resigna-se a filha, Josilene Ferreira, que assumiu o posto de presidente com a morte do pai. Carboreto deixou seis filhos, mas somente Josilene, de 27 anos, e Josenilda, de 29, conseguem atualmente driblar as dificuldades para manter viva a agremiação. Antes de falecer, o ânimo do velho carnavalesco foi abatido pela perda da mulher e do genro.

“Eu não suspeitava da trágica situação familiar, quando Carboreto veio me pedir para tomar conta da tribo, no ano passado. Notava apenas que ele andava cansado e abatido”, lembra o mestre de pintura geral Airton de Moura, que à época trabalhava em Serra Talhada (PE). Há três meses, Moura, que havia tido uma passagem de oito anos pela tribo dos Guanabaras, assumiu como mestre e vice-presidente dos Tupynambás. Mais que isso, virou uma espécie de faz-tudo, como a maioria dos organizadores envolvidos no Carnaval Tradição, para correr contra o tempo e pôr os 80 componentes na avenida: “Costuro, faço as fantasias, os capacetese os estandartes, elaboro as coreografias e cuido para que todos estejam seguros quando voltem para casa”, enumera.

carnavaltradição_Airton_tribos_foto_dayseeuzebio (24)Nascido em João Pessoa, filho e neto de brincantes, Carboreto ganhou o apelido na infância por conta do temperamento, considerado difícil pelos amigos. Começou a se envolver com as tribos indígenas ainda criança (fazia o papel de espião, aos 8) – e desde então nunca mais parou: passou pela Ipiranga, Africanos, Guanabara e Tupi Guarany até assumir, por fim, a Tupynambás. Foi mestre por 30 anos. “Nós somos os verdadeiros defensores da cultura do Brasil”, reivindicava. De fato, rodou o País como representante da cultura popular, sendo até homenageado nesta condição em Brasília, por ocasião do Encontro Latino-Americano das Culturas Populares, em 2006.

Um dos seus últimos – e mais amargos – ressentimentos foi perder brincantes da comunidade para o álcool e as drogas. A tribo, uma homenagem aos índios originários da Bahia, foi fundada no bairro da Torre, em 1936. Após conquistar por seis vezes o título de campeã do Carnaval Tradição da capital, passou dez anos sem participar dos desfiles, até ser reativada em 2000. Após mais cinco anos sem desfilar, retornou em 2005, sob o seu comando.

“Carboreto foi mestre de lapinha, quadrilha junina, boi de reis e da Barca Santa Maria, na Torre”, cita o amigo Emilson Ribeiro, coordenador da Divisão de Cultura Popular da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), autor de uma homenagem póstuma proposta na Câmara Municipal. “Tive a oportunidade de conhecer Carboreto em pesquisa sobre transmissão musical nas tribos. Pessoa mansa e batalhadora, sempre no final dos ensaios distribuía sopa em frente de casa para todos. Uma pena que dessa vez o feiticeiro da tribo não possa ressuscitar o nosso mestre”, lamenta o pesquisador Alexandre Milne.

carnaval_tradicao_alaursa_foto_dayseeuzebio_263Apoio municipal – A Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), através da Funjope, contemplou as agremiações do Folia de Rua e Carnaval Tradição com três editais específicos neste ano: um no valor de R$ 419,6 mil para apoiar as 40 agremiações que desfilam no Carnaval Tradição,um segundo, de R$ 250 mil, para as 44 orquestras e bandas de pau e corda selecionadas e um terceiro, de R$ 200 mil, para os 53 blocos alternativos de bairros da programação.

A estrutura que a Funjope preparou na Epitácio Pessoa para o Folia de Rua neste ano contará com uma tenda de acessibilidade (montada na calçada de frente ao supermercado Pão de Açúcar, no Miramar) e 100 banheiros químicos (sendo dez adaptados) espalhados por toda a avenida. Um pórtico de nove metros de altura, cortando os dois sentidos da via, fará também parte da ornamentação. A montagem do camarote, com capacidade para 3 mil foliões, começou nesta quarta (28).

Já para o Carnaval Tradição, a estrutura contempla duas arquibancadas com capacidade para 12 mil pessoas, dispostas dos dois lados da Beira Rio, camarotes para jurados, imprensa e portadores de deficiência, um pórtico e um painel de led, que fará a contagem do tempo para a passagem das agremiações. Cinquenta banheiros (dez desses adaptados) também serão instalados.

“O Carnaval deste ano une a preocupação em preservar a grandeza central da festa às tradições dos festejos de bairro. Por isso, a Prefeitura planeja distribuir esta, que é a nossa maior festa popular, por recantos espalhados da cidade, com o apoio não só das agremiações, como escolas de samba, tribos indígenas, orquestras, ursos e batucadas que desfilam pela Avenida Duarte da Silveira, mas aos blocos do Folia e alternativos que movimentam o restante da cidade”, diz Maurício Burity, diretor-executivo da fundação.

Velhos carnavais – A ideia inicial dos organizadores do Folia de Rua, que era abordar o primeiro século do Carnaval Tradição, se converteu para os 100 anos da folia comemorada nas ruas – mas até nisso há divergência histórica. Baseado em extensa documentação iconográfica lançada na obra “No Tempo do Lança-Perfume” (1994), o jornalista e historiador Wills Lealdefende que não há um marco inaugural dos carnavais na cidade: “Ainda em 1896, já havia os entrudos eosmela-mela, uma espécie de carnaval agressivo que chegava a ser reprimido pela polícia”, conta. Há registros de tribos em 1908 e de eleição de rei e rainha Momo em 1901, por exemplo.

A festa popular, que atravessou uma evolução em diferentes fases marcada pela divergência de classes sociais, consolidou-seem João Pessoa sobretudo nos anos1920,com a ida dos foliões para os clubes, onde eram promovidos bailes chamados “partida de fantasia” regados a polca, valsa e maxixe.Já a configuração mais aproximada do Carnaval Tradição do jeito como o conhecemos, com desfiles saindo dos bairros e indo para a avenida, é herança dos últimos 30 anos, segundo atesta Leal.

Secom/JP

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Redação DiárioPB

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