As manguinhas de fora
Dentre as mitigadas certezas que eu tenho na vida, uma é que nunca vou chamar o chefe desse governo interino de presidente, porque de fato ele não o é. Mas o chamarei sempre de usurpador, e com minúscula, pois até para usurpar este senhor foi mofino.
Só usurpando é que o senhor Michel Temer chegou à presidência dá República deste triste e carcomido país chamado Brasil, pois por votação própria, para cargo majoritário, ele nunca logrou êxito em se eleger nem para prefeito de vila de pescador, à beira do mangue.
Coisa triste é ser traidor, é almoçar à mesma mesa, oficialmente comungando do mesmo discurso e após a conversa informal tramar a queda de quem se diz aliado. Dizem que Lampião não o suportava; sangrava a todos (os traidores) que lhe caíssem às mãos… Mas este texto não é para tratar desse nefasto fato. Quero abordar aqui, em traços ligeiros, a realidade dos fatos do governo deste impostor e sua corja, que mentirosamente diz ser para o bem do Brasil.
Para início de conversa acho que nenhum governo, já tido no Brasil, stricto sensu se preocupou com o Brasil. Uns mais outros menos, mas todos usaram do país para se promover, viajar à vontade, se esbaldar dando festinhas e festões, desviar dinheiro para manter amante e filho bastardo no exterior, e usufruir à larga do ritual de chefe de Estado que o cargo proporciona. FHC mesmo além de entregar o país inteiro ao estrangeiro mais do que qualquer outro, ia para Londres dar entrevista à BBC in english. Só gaguejou; pois tanto lhe faltava fluência no idioma de Shakespeare, quanto o entrevistador não lhe deu colher de chá, mas o prensou à parede, questionando seu péssimo governo, inclusive citando o fato de seu Procurador Geral da República ser chamado de “Engavetador Geral”, pois o tal presidente não lhe permitia investigar ninguém de seu governo. Trata-se de Geraldo Brindeiro que durante seu período de Procurador Geral, 28/06/1995 – 28/06/2003, dos 626 inquéritos criminais que recebeu, engavetou 242 e arquivou outros 217. Somente 60 denúncias, das que lhe enviaram, foram aceitas. As acusações recaíam sobre 194 deputados, 33 senadores, 11 ministros e quatro ao próprio presidente FHC. Uma das denúncias a ser engavetada foi o caso da compra de votos para a aprovação da reeleição, contra FHC. Assim é fácil ter um governo sem nenhum membro investigado tampouco julgado e condenado, como se vangloria o ex-presidente FHC. Mas isso ninguém da direita vê.
O que eu quero aqui é chamar a atenção dos que não querem ver o óbvio, desse governo de direita, fingido, hipócrita, corrupto e abertamente privilegiador da elite e explorador do povo. Dois de seus ministros nem bem assumiram o cargo já caíram por envolvimento com coisas muito suspeitas, em apenas 18 dias. O primeiro a ser defenestrado, em 12 dias, foi o senador Romero Jucá, aliado de Temer de primeira hora, feito Ministro do Planejamento, flagrado em gravações contra as investigações do juiz Sérgio Moro. E seis dias depois foi a vez de Fabiano Silveira deixar de ser ministro de Temer, logo da Transparência… Ele caiu depois de também enredar-se em gravações nas quais orienta Renan Calheiros a driblar as investigações da Lava-jato. Então se pode perguntar onde está a honestidade polichinelo que envolve a direita e seu governo? Na verdade, a direita não faz segredo algum da própria desonestidade, ela apenas fala arrogante e hipocritamente que é honesta, mas rouba e dilapida o patrimônio público à vista de todos e se diz coberta de direito de agir assim. Por isso que esses dois lapin foram flagrados na boca da botija, tentando melar as investigações da Laja-jato. Deveriam corar de vergonha, se vergonha tivessem, todos aqueles que armaram o golpe contra a presidenta afastada, mesmo sem conseguirem provar um só crime da mesma, para tomarem-na o poder e poder distribuírem à mancheia o dinheiro público aos seus apaniguados.
Mas saindo dos seus indicados e girando os holofotes para os atos iniciais do próprio chefe, a certeza da canalização dos já combalidos recursos públicos para os cofres dos ricos se cristalizam. Primeiro ele passou a tesoura na Controladoria Geral da República-CGU, colocou no seu lugar o recém-criado Ministério da Transparência, em cuja cadeira assentou o belo Fabiano Silveira, o mesmo flagrado dando “aulas” ao já mestre-escolado em malandragem corruptivas e outras modalidades Renan Calheiros, como escapar da investigação da Lava-jato. Muito transparente e honesto este ex-quase-ministro, não? Contudo, sabemos que ministros e ministérios fazem apenas o que manda o chefe do governo central, não tem a mínima Liberdade que tinha a CGU. Isso significa a pavimentação do caminho que vai dar num outro “Engavetador Geral” deste governo, mas não se espantem outros desmandos virão aí!
E o segundo ato “exemplar” que revelou de pronto a face desse governo, que já nasceu espúrio, foi o aumento dado aos sanguessugas, aliás, funcionários federais. Aumento este, vetado pela presidenta afastada, em sua tentativa de melhorar as finanças da união, que ela mesma havia arruinado, diga-se de passagem. Mas o senhor Temer, que lá foi empossado para sanar a economia, começou por aumentar o rombo. Autorizou a Câmara num rito sumário, pois é assim que age sempre que vota matéria em beneficio próprio, a aprovar o reajuste dos parasitas, digo, funcionários públicos federais dos três poderes. Para se ter uma ideia do tamanho da irresponsabilidade, apenas o aumento dado aos do Judiciário e do Executivo terá um impacto de 56 bilhões de reais até 2019. Claro que malandramente eles não publicaram o impacto que causará o aumento dado ao Legislativo, tanto porque esses comem o dinheiro público de acordo com a vontade, e isso é o que não lhes falta. Mas o cinismo aparece sem máscara numa afirmação do deputado peemedebista de São Paulo, Baleia Rossi: “A votação desses reajustes foi uma sinalização do governo do presidente Michel Temer da importância que ele dá aos servidores do funcionalismo público”. Só uma correção: neste país funcionário público não é nem nunca foi servidor, sempre foi e continua sendo parasita arrogante, com raras exceções. Quem já precisou ser atendido por um deles, sabe disso muito bem.
E agora leio na internet que a Câmara simplesmente criou, de uma tacada só, 14.419 cargos federais. Eu me pergunto mais uma vez: então, os 4.000 cargos que o usurpador se comprometeu suprimir, inclusive cortando ou unificando ministérios tornaram-se em aumento de quase quatro vezes mais? Esse “benéfico” à sociedade, vindo do órgão que queria a todo custo moralizar o Executivo, estava embutido no projeto de lei que concedeu aumento aos papa-dinheiro que integram a Suframa. Essa matemática eu não conhecia ainda. Talvez seja uma nova concepção científica desse novo governo.
E não se engane quem apoiou este golpe. Os ricos e alguns da classe média serão muito bem recompensados, mas ao resto sobrará o aperto ao cinto: aos da classe média restam só o prazer de não ver no poder quem em parte defendia os pobres e dava-lhes alguma esperança, e, claro, pagar impostos escorchantes; já aos pobres, que imbecilmente apoiaram este malfadado golpe e também aos outros que não apoiaram, restarão o trabalho quase escravo, a fome e o vilipêndio aos direitos. Quem viver, verá!