MÍDIA E SOCIEDADE

A mídia e o animismo tecnológico

Mídia & Sociedade

Com o surgimento da Internet das Coisas ressurge a questão que tem intrigado desde tempos remotos a Filosofia ocidental: a relação entre o ser e as coisas.

A res-extensa(coisa) e o cogito (eu) voltam a polarizar as noções de tempo e espaço no mundo pluridimensional da pós-modernidade.

Desta vez, atributos do eu passam a ser amplamente dominados pelas coisas, como a fala, os movimentos cinéticos e as estratégias de seduções para a conquista de um objetivo.

Com o Animismo Tecnológico, os objetos falam, pensam e, o mais incrível, têm alma.

A internet das coisas em uma única ‘tacada’ resolveu o problema da distância filosófica entre o Ser e o Mundo tão caro ao filósofo alemão Heidegger (Meßkirch, 26 de setembro de 1889 – Friburgo em Brisgóvia, 26 de maio de 1976).

Assim, uma nova metafísica se impõe e o homem não é mais um ser para morte (como pensava Heidegger), porque ele agora é o Dasein (ser-ai) em cima da mesa, nas prateleiras, orientando a navegação de pedestres em corridas matinais.

Este Animismo Tecnológico que dá vida física e metafísica aos objetos eletrônicos não é novidade, pois traz a herança do Estruturalismo – círculo no qual os pesquisadores resolveram pensar o mundo a partir das novas ‘estruturas de linguagens”.

Nestas estruturas de linguagens, o importante era perceber novos significados além daqueles sentidos pelos homens, o que podemos chamar de percepto, conceito criado pelo filósofo francês Gilles Deleuze (Paris, 18 de janeiro de 1925 — Paris, 4 de novembro de 1995).

Os perceptos – com a licença de Gilles Deleuze – são sensações olfativas, virtuais, afetivas transpostas do ser humano aos objetos para que neste Animismo Tecnológico as coisas falem, se expressem em um processo de comunicação diária com os consumidores dos diversos nichos da sociedade de consumo.

A relação entre os seres humanos e os objetos na sociedade moderna se legitimou, primeiramente, como a autenticação do uso de sistema de controle, como bem nos ensinou Michel Foucault (Poitiers, 15 de outubro de 1926 — Paris, 25 de junho de 1984) em seu livro, Vigiar e Punir.

O objetivo desses sistemas de controle era dominar através da disciplina imposta às manifestações humanas consideradas desregradas, capazes de ameaçar a ordem pública e o modelo de poder baseado no Monarca Absoluto.

Com o Animismo Tecnológico, são as ‘coisas’ que passam a reger as ações do homem, pois criam a ilusão que cada gesto humano é uma extensão natural do estruturalismo tecnológico aplicado à indústria ou à vida doméstica.

Antropologicamente, neste Animismo Tecnológico, estaríamos condenados a pensar que a corrente que prendia o escravo no sistema latifundiário era uma extensão da organização do trabalho, a tornozeleira eletrônica usada por criminosos um símbolo de justiça.

Este é o problema do Animismo Tecnológico: esconde as formas de poder e punição da sociedade midiática.

 

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Redação DiárioPB

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