INTERNACIONAL

Em seminário na China, presidente da Apex fala em priorizar agricultura familiar

O presidente da Apex, Jorge Viana, durante sua fala na abertura do seminário

Como parte das agendas mantidas após o adiamento da visita do presidente Lula à China, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) organizou um seminário com a participação de mais de 450 empresários chineses e brasileiros, nesta quarta-feira (29), em Pequim.

A tônica do Seminário Econômico Brasil-China foi dada pela “sustentabilidade”. Executivos de algumas das maiores empresas brasileiras, como Suzano, Vale, JBS e Marfrig participaram. Termos que até pouco tempo eram quase exclusivos de espaços de debate sobre mudanças climáticas, como  “net zero”, “descarbonização” e “carbono neutro”  estavam nas falas de executivos das maiores empresas brasileiras.

Esse giro pode ser entendido à luz da intensificação da China em relação às suas metas climáticas. O país asiático é o mercado mais importante para todas as empresas mencionadas. Em 2022, a Vale exportou para lá 190 das pouco mais de 307 milhões de toneladas de minério de ferro produzidas no ano, quase 62%. Já segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), no ano passado a China foi o principal destino das exportações do agronegócio brasileiro, respondendo por 31,9% das vendas, o que representou US$ 50,8 bilhões.

Ao mesmo tempo, o desenvolvimento de uma economia de baixo carbono vem sendo cada vez mais priorizado nas principais instâncias políticas do Estado e do Partido Comunista da China (PCCh). No 20° Congresso do Partido, em outubro do ano passado, o secretário-geral Xi Jinping, afirmou que a China deve “acelerar a transformação verde, implementar estratégias abrangentes de conservação, desenvolver indústrias verdes e de baixo carbono, defender o consumo verde e promover métodos de produção e estilos de vida verdes e de baixo carbono”.

O plano quinquenal de 2021-2025 estipulou a meta de reduzir em 18% as emissões de CO² por unidade do PIB. Nas recentes Duas Sessões deste ano, foi inaugurado um setor de “meio ambiente e recursos naturais“, que fará parte do principal órgão consultivo do Estado.

A questão ambiental marcou também uma apresentação feita pelo presidente da Apex, Jorge Viana, em um outro seminário realizado em Pequim, no Centro para China e Globalização (CCG), na segunda-feira (27). “84 milhões de hectares foram desmatados. Para quê essas áreas estão sendo usadas? 67 milhões de hectares para a pecuária, seis milhões para agricultura de grãos, e 15 milhões para floresta secundária”, disse Viana. A fala foi criticada pela bancada ruralista, o que fez Viana abrir o seminário afirmando que foi mal-interpretado e frisando que seu foco era a preocupação pelo aumento do desmatamento nos últimos anos.

Embora a China seja o principal destino das exportações brasileiras, especialistas têm apontado insuficiências nesse modelo que, atualmente, tem garantido o superávit da balança comercial brasileira. A principal contradição é que ao passo que o país asiático se reposiciona no sentido de se tornar uma líder na construção de soluções sustentáveis, o Brasil assume o lugar de zona de sacrifício na garantia da soberania alimentar chinesa.

“China foi tratada de maneira inaceitável”

Tanto Viana, quanto o ministro de Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, que também participou do evento, lamentaram a atuação do governo Bolsonaro em relação à China. “Nossas relações, reconhecemos, não foram as melhores nos últimos quatro anos, por equívocos do governo brasileiro, mas com a chegada do presidente Lula e do vice Alckmin, certamente esses laços fraternais serão cada vez mais fortes e indestrutíveis.”

Ao Brasil de Fato, o presidente da Apex afirmou: “Temos um número enorme de empresárias e empresários chineses e brasileiros retomando uma relação que tinha sido praticamente rompida pelo governo passado, e que tratou o maior parceiro comercial do Brasil, que é a China, com desdém de uma maneira inaceitável”.

“E agora o governo do presidente Lula quer um trabalho diferente, quer a China como um parceiro estratégico. Isso vai ser bom pro agricultor familiar, vai ser bom pro agronegócio, pra todo o aparato industrial”, disse ainda Viana.

Fortalecimento da agricultura familiar

Na conversa com o Brasil de Fato, o presidente da Apex afirmou que a entidade passará a priorizar a agricultura familiar. “Vamos ter certamente um foco especial nas cooperativas, na agricultura familiar pra que possam pôr os seus produtos inclusive no mercado internacional”.

Censo Agropecuário de 2017 apontou que dos mais de 5 milhões de estabelecimentos rurais existentes no Brasil, 77% são da agricultura familiar. Censo Agropecuário ainda identifica que a agricultura familiar produz 70% do feijão nacional, 34% do arroz, 87% da mandioca, 46% do milho, 38% do café e 21% do trigo.

Durante o governo Bolsonaro, os movimentos do campo, questionaram o Plano Safra lançado no início da pandemia por não contemplar a agricultura familiar. Bolsonaro também havia vetado o auxílio emergencial para o setor, que só foi garantido pelo Congresso no final de 2021.

A diretora da área de mercado de capitais e finanças sustentáveis do BNDES, afirmou durante a atividade em Pequim que uma das áreas em que a parceria entre Brasil e China precisa ser aprofundada é o investimento em toda a cadeia do agro. “A possibilidade de produção de equipamentos para pequenos produtores rurais é algo que a gente gostaria de explorar também, assim como a necessidade de instalação de plantas chinesas no Brasil pra produção desses equipamentos.”

Brasil de Fato

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