“Se não fossem as metáforas a gente não voltaria para casa”.
A frase do cineasta francês Jean-Luc Godard contribui para o entendimento do uso da metáfora na vida cotidiana.
Metáforas são transportes que aproximam ideias de sensações imediatas.
As metáforas são pontes de significação que regem os signos de nossa imaginação.
Na vida cotidiana, a metáfora é uma ferramenta segura para evitar o peso conceitual das linguagens totalitárias, porque o uso metafórico está ligado diretamente ao imaginário de cada grupo cultural.
O manejo de metáforas na literatura ajuda a compreensão entre os tempos verbais, retorno do presente ao passado, tanto no caso da sonora lembrança das madeleines (bolinhos) de Proust, como nas sensações de assimetria dos olhos de Capitu, a grande metáfora de Machado de Assis.
Na sociedade pós-moderna, a mídia é a grande produtora de metáforas, principalmente no campo comercial, mas sobretudo no uso dos gadgets eletrônicos.
No recente livro do sociólogo polonês, Zygmunt Bauman publicado no Brasil, O Elogio da Literatura – um diálogo com Riccardo Mazzeo – no capítulo 8 – os dois discutem quais são as principais metáforas do séc. XXI.
Mazzeo fomenta a discussão sobre as metáforas do século XXI a parti da afirmação de outro escritor italiano, Stefano Tani, professor de Literatura, que as define: 1) as telas, 2) o mal de Alzheimer,3) o zumbi.
A discussão provocada por Mazzeo, de acordo com a assertiva do professor Stefano Tani, gera uma bela reflexão por parte de Bauman. Mas o que nos interessa não são as respostas do sociólogo polonês e sim como podemos interpretar a interferência dessas metáforas na vida cotidiana.
Do ponto de vista midiático, a metáfora das telas é um dos exemplos de mudança de comportamento do homem pós-moderno urbano.
A tela de qualquer aparelho eletrônico, principalmente dos celulares, se constitui em novos oráculos – desta vez não mais respondendo a enigmas, mas interferindo nas ações cotidianas.
O telos do Homo Eletronicus é a tela.
O Homo Eletronicus vive em tela e para a tela, gerando diálogos e prazeres em telas.
Um dos telos da tela é a selfie.
Em selfies, homens e mulheres querem se mostrar ao mundo; tornando suas aparências e ideias públicas – provocando o surgimento de uma ágora sensual na qual a luta retórica se dá contra o esvaziamento mental e existencial.
O telos da tela é a condução do olhar para o mundo a parti do Ego.
A segunda metáfora, o mal de Alzheimer representa a falência dos circuitos do Homo Eletronicus, a morte das sinapses, a perda da memória – como se um vírus construído por programadores sofisticados separasse – no sentindo cartesiano – alma e corpo.
O mal de Alzheimer mostra que nossos circuitos mentais (softwares) nem sempre estão integrados, em harmonia com a parte mecânica do nosso corpo – o hardware.
Mas a terceira metáfora, o zumbi – representa, à mon avis – mais do que a discussão sobre as perdas da noção físico-biológica. Ela espelha, em sentido amplo, a morte das subjetividades, a falta de solidariedade, o desconhecimento do outro na busca desenfreada por selfies sociais.
Como cada um poder eleger suas metáforas do século XXI, com respeito aos renomados cientistas sociais, gostaria de eleger as minhas: 1) descriminação antropológica; 2) violência econômica; 3) narcisismo político-midiático.