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Brasil pode ganhar protagonismo em negociações climáticas com saída dos EUA do Acordo de Paris

A saída dos EUA do Acordo de Paris é um golpe para a diplomacia climática

O anúncio de retirada do Acordo de Paris feito pelo recém-empossado presidente Donald Trump marca a segunda tentativa dos EUA de se desvincular do pacto. A primeira ocorreu em junho de 2017, durante seu primeiro mandato, embora não pudesse ser formalizada até novembro de 2020 devido às próprias regras do Acordo, portanto, teve pouco impacto. O governo de Joe Biden reingressou em fevereiro de 2021. Desta vez, a saída será mais rápida, segundo os observadores.

A ausência dos Estados Unidos terá um “impacto significativo” na preparação da COP30 no Brasil, afirmou, nesta terça, André Corrêa do Lago, recém-nomeado presidente da Conferência do Clima da ONU, que será realizada em novembro em Belém do Pará.

O Acordo de Paris “ultrapassa os Estados Unidos”, diz Frances Colon, do Center for American Progress, um grupo de reflexão próximo aos democratas. Mas especialistas internacionais sugerem que outros países terão que aumentar seus esforços.

A China está “preocupada” com a nova saída dos Estados Unidos do acordo climático de Paris, disse um porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores nesta terça-feira. “A mudança climática é um desafio comum enfrentado por toda a humanidade e nenhum país pode permanecer insensível ou resolver o problema sozinho”, disse o porta-voz Guo Jiakun.

A China e o Brasil, que sediará o principal evento da diplomacia climática em novembro, a Conferência das Partes (COP30) em Belém, são dois dos principais parceiros do grupo Brics, o bloco de países emergentes que terá de enfrentar o desafio de Trump.

Atualmente, o Brasil preside o grupo. “O Brics vem para construir, não vem para piorar as coisas”, disse Eduardo Saboia, o diplomata brasileiro responsável pelo grupo, em uma entrevista recente à AFP. “Temos tantas coisas para fazer entre nós (…). Não há foco em outros países, outros líderes”, acrescentou.

O Brasil, no entanto, também defende o direito de continuar explorando seus recursos de hidrocarbonetos, uma medida que considera justificada, uma vez que sua geração de energia limpa, principalmente graças a seus recursos hídricos, mais do que compensa isso.

Uma atitude que também é defendida oficialmente pelo presidente Trump, que garante que não é contra as energias renováveis, mas quer manter todas as opções em aberto. “Este pode ser um ano de liderança para o Sul global”, diz Tim Sahay, codiretor do Net Zero Industrial Policy Lab da Universidade Johns Hopkins.

Uma posição semelhante é mantida pela Índia, cujo primeiro-ministro, Narendra Modi, defende a “liderança” de seu país em energia solar e eólica, ao mesmo tempo em que mantém a exploração de carvão e não esconde sua afinidade geopolítica com Trump.

Durante a primeira retirada dos EUA, os chineses mantiveram o acordo de Paris e não renegaram suas metas de longo prazo. Atualmente, a China produz mais da metade dos veículos elétricos do mundo, 70% das turbinas eólicas e 80% dos painéis solares, o que reduziu drasticamente o custo, mesmo para os países para os quais exporta.

“O desempenho da China na implantação de tecnologias verdes pode ser um salva-vidas”, disse Li Shuo, especialista do Asia Society Policy Institute. Nas COPs, Pequim é um negociador indispensável, liderando informalmente as negociações com os países ricos em nome de um bloco de países em desenvolvimento.

Liderança climática europeia

A União Europeia tem uma longa tradição de liderança climática e reduziu suas emissões em 7,5% entre 2022 e 2023, bem à frente de outros grandes países ricos. O bloco também é o principal financiador internacional na luta contra a mudança climática.

“O Acordo de Paris segue sendo a maior esperança da humanidade. A Europa manterá o rumo e continuará trabalhando com todas as nações que querem proteger a natureza e deter o aquecimento global”, afirmou, nesta terça, Ursula von der Leyen, chefe da Comissão Europeia.

Mas países como a Alemanha já pediram à Comissão Europeia para desacelerar a transição energética em setores como a indústria automobilística.

Outros pequenos atores estão demonstrando boa vontade, como a Colômbia, que está liderando os esforços internacionais para eliminar gradualmente o petróleo, o carvão e o gás, embora eles sejam sua principal fonte de receita externa.

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