POLÍTICA

Xenófobo e bolsonarista: quem é o brasileiro eleito deputado pela extrema direita de Portugal

Ex-lutador de MMA, Marcus Santos defende "valores" da pátria, família e liberdade. "Volta para a sua terra", declarou ele, que é imigrante no país há 15 anos

O brasileiro Marcus Santos, de 45 anos, integra a lista de deputados eleitos pelo Chega, partido de extrema direita em Portugal. Natural do Rio de Janeiro (RJ), concorreu na região de Porto como candidato envolto em acusações de xenofobia e espelhado em pautas caras ao bolsonarismo.

Nas eleições, que ocorreram neste domingo (10), a coligação Aliança Democrática, de partidos de centro-direita, saiu vitoriosa. No entanto, o Chega, legenda liderada por André Ventura, teve o maior crescimento, saltando de 12 para 48 parlamentares.

Em seu perfil no Instagram, Santos publicou um agradecimento aos seus eleitores pelos votos angariados e foi parabenizado pelo deputado estadual Eduardo Bolsonaro (PL-SP): “Parabéns Marcus. Está a fazer história. Agora é fazer um bom trabalho e levantar Portugal”, comentoO deputado, de extrema direita, utilizou de sua eleição para atacar a oposição, formada, sobretudo, pelo Partido Socialista (PS): “Agora não tem jeito… A extrema esquerda racista, fascista e a comunicação social mentirosa vão ter que levar com o negão do CHEGA”, escreveu.
Quem é Marcus Santos

Marcus Santos é ex-atleta profissional de artes marciais mistas (MMA, em inglês) e dono de uma rede de academia de artes marciais, onde dá aulas. Como militante do Chega, ele ocupa a vice-presidência do partido em Porto e é conselheiro nacional da legenda.

Filho de pai militar e mãe doméstica, deixou o Brasil aos 18 anos com o objetivo de morar nos Estados Unidos. Desde 2009, se mudou para Portugal e se casou com uma portuguesa, com quem teve um filho.

Sua principal bandeira na campanha eleitoral é a de proteção à família, semelhante a de outros políticos de extrema direita, que aproveitam-se da ideologia conservadora para aproximar o eleitorado. “O Chega é um partido de patriotas, de nacionalistas, com prioridade para os portugueses. Esse é o motivo de colocarmos a família à frente de tudo”, apontou.

O brasileiro afirma que o discurso conservador do partido tem atraído os compatriotas que residem em Portugal, principalmente a parcela evangélica dos votantes. Santos se reconhece como cristão e entende que “homem é homem e mulher é mulher”.

Segundo ele, o Chega representa o acolhimento que ele e demais brasileiros receberam no país: “Revejo no Chega os meus valores: a defesa da família, da pátria e da propriedade privada. E pátria, para mim, é também o País que me recebeu e a quem devo muito”, relatou ao VISÃO, em 2023.
“Volta para a sua terra”

Em janeiro deste ano, Santos discursou em defesa da legenda, alinhada aos grupos neonazistas europeus, de acordo com o relatório do Projeto Global Contra o Ódio e do Extremismo. O Chega aproveitou-se do militante brasileiro para rebater as acusações de xenofobia.

“Todos os dias, o Chega é bombardeado pela comunicação (…) Destruo o que dizem, que somos racistas, xenófobos. Eles viram a câmara ao contrário, não pode filmar o ‘negão’ porque corre risco de desmontar a falácia”, declarou.

Para ele, o discurso era direcionado para “os imigrantes que encontram em Portugal um refúgio, que fugiram do socialismo de países como o Brasil […]”. Portugal foi governado por um primeiro-ministro do Partido Socialista – António Costa – desde 2015.

Simultaneamente, na ocasião, André Ventura defendeu o retorno do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), órgão de concessão de permanência de cidadãos estrangeiros em Portugal, e alterações na Lei da Nacionalidade, que regulamenta a imigração.

“Se vencermos as eleições, o Chega vai reverter a extinção do SEF levada a cabo pelo PS. (…) E vamos reverter esta Lei da Nacionalidade para que ninguém possa entrar, estar ou ser português sem saber falar a língua e conhecer a cultura portuguesa”, garantiu.

Santos, porém, também usa o palanque eleitoral para atacar a imigração em Portugal. “O Chega quer apenas um controle maior na entrada de imigrantes no país. Devem ser permitidos apenas aqueles com habilidades que Portugal precisa, mão de obra qualificada. Não se trata de xenofobia”, argumenta.

Ainda assim, o deputado-eleito afirma que o movimento imigratório “está trazendo violência”, sobrecarrega os sistemas públicos de educação e saúde, e promove a escassez de moradias. Em sua opinião, a resposta destas questões é o controle de imigração.

Em março de 2023, Marcus reagiu à uma notícia do jornal brasileiro Diário do Centro do Mundo, que usou um vídeo dele para exemplificar um “fenômenos mais sinistros advindos da ascensão da extrema-direita”, que são os “negros racistas”.

Na ocasião, ele se manifestou a favor do controle das fronteiras e da seleção do que classifica como “bons imigrantes”. Em seguida, questionou qual seria o problema da declaração, visto que “a Europa é branca, assim como a África é negra”, reforçando estereótipos supremacistas que ignoram a pluralidade étnico-cultural dos continentes.

“Não estou na política portuguesa para defender o direito de brasileiros, indianos ou qualquer outro imigrante, como eu, que vive em Portugal. Estou em Portugal para defender os direitos dos portugueses, porque Portugal pertence aos portugueses. Se você não consegue se adaptar, volta para a sua terra”, clamou.

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