Violência no campo bate recordes em 2023; Indígenas são as principais vítimas
Dos 2203 casos catalogados pela Comissão Pastoral da Terra, mais de 70% tiveram disputas por território como motivação
A Comissão Pastoral da Terra divulgou nesta segunda-feira (22) o seu relatório anual sobre violência no campo. De acordo com as informações do levantamento, o ano de 2023 registrou a maior quantidade de conflitos desde 1985, quando a CPT começou a fazer produzir o relatório. Sobre as vítimas fatais desses conflitos, os povos indígenas são os principais alvos.
Ao todo foram registrados 2203 casos de conflitos no campo. Disputas por terra correspondem a 71,8% desses casos e são seguidas por disputas por água (11,4%) e ocorrências trabalhistas (10,4%).
Em 359 casos, a motivação para o conflito foram invasões de terras. Episódios de pistolagem correspondem a outros 264 casos e 101 se referem à destruição de pertences e infraestrutura de fazendas e comunidades.Nos últimos 10 anos, os índices mais baixos registrados pela CPT ocorreram em 2014 e 2015, com média de 1360 conflitos por ano. Em 2016 foi registrada uma alta, e os casos subiram para 1636. Em 2017 e 2018 os casos diminuíram e ficaram na casa dos 1500 conflitos anuais, mas durante os anos de Jair Bolsonaro (PL) na presidência, voltaram a bater recordes.
Com 1963 casos, o ano 2019 tinha sido, até então, o mais violento. 2020 o superou com 2130 casos. Em 2021 o índice caiu para 1838, mas voltou a subir no ano seguinte. 2022 registrou 2050 conflitos e 2023, com a extrema direita empoderada socialmente – mesmo com a derrota de Bolsonaro – chegamos ao novo recorde: 2203 casos.
Ao todo, são mais de 950 mil pessoas de 187 mil famílias atingidas por esses 2203 casos de violência no campo. Os povos indígenas e comunidades tradicionais são os principais alvos das ações violentas registradas: são as vítimas em 1394 casos.
Logo na sequência vêm os trabalhadores rurais sem terra, alvos de 388 episódios violentos, seguidos de trabalhadores rurais (254), assentados (121) e pequenos proprietários (34). Há outros 8 casos que englobam vítimas de diferentes perfis e um caso em que carecem tais informações.
A Bahia registrou 249 casos, sendo o estado mais violento. Na sequência vieram Pará (227 casos) e Maranhão (206). Norte (810 casos) e Nordeste (665) são as regiões com a maior quantidade de casos registrados. A seguir vêm Centro-Oeste (353), Sul (207) e Sudeste (168).
Já em relação aos assassinatos no campo, o ano de 2023 registrou 31, dos quais 14, ou 45,17%, vitimaram indígenas. Sem terras (9), posseiros (4), quilombolas (3) e um funcionário público completam o quadro.
O número de assassinatos caiu em relação a 2022, quando foram registrados 47 casos. Nos últimos dez anos, 2017 foi o mais letal no campo, com 72 mortes violentas; seguido por 2016 (64) e 2015 (50).
Fazendeiros são os principais agressores
Fazendeiros, empresário e grileiros são, juntos, os principais agressores. O setor responde a quase 60% dos conflitos registrados pela CPT em 2023. 495 desses casos foram causados por fazendeiros, 313 por empresários e 144 por grileiros.
Na sequência aparecem os governos estaduais, que se em 2022 foram responsáveis por 63 episódios, em 2023 mais do que dobraram a participação na violência que ocorre no campo brasileiro. Foram 132 episódios e os estados de Goiás e da Bahia lideram a lista, seguidos por Mato Grosso do Sul, Tocantins, Maranhão e Rondônia.
Já as violências causadas por ação ou omissão do governo federal caíram 27% no primeiro ano do novo mandato de Lula. Foram 175 ocorrências contra 240 do ano anterior, ainda sob Bolsonaro.
Ainda na comparação com 2022, os despejos judiciais no campo subiram 194%. A ameaças de despejo saíram de 138 para 183 e os despejos concretizados subiram de 17 em 2022 para 50 em 2023.
Revista Fórum