ENTRETENIMENTO

Vídeo do Porta dos Fundos viraliza nas redes ao brincar com estereótipos

ARQUIVO 21/07/2021 CADERNO2 / CADERNO 2 / C2 / USO EDITORIAL RESTRITO – Cena da esquete Sudestino, do Portal do Fundos. Foto Reprodução Portal dos Fundos

Podem procurar no dicionário Michaelis, referência em pesquisa. A palavra ‘sudestino’ não está nele. Tampouco no Aulete ou Aurélio. O verbete ‘nordestino’, sim. E, de forma geral, está descrito como algo que pertence à região Nordeste. O Michaelis usa como sinônimos de nordestinos os substantivos ‘paraíba’ e ‘baiano’. Esses dois últimos termos quase sempre utilizados de forma preconceituosa e homogênea.

Entretanto, o termo ‘sudestino’ entrou em discussão quando, nesta segunda-feira, 19, o grupo Porta dos Fundos publicou a esquete de humor ‘Sudestino’ em seu canal do YouTube. Nela, há uma inversão dessa questão. Os moradores do Sul/Sudeste são tratados de forma estereotipada.

Na história, o paulistano Bruno, interpretado pelo ator Gregório Duvivier, está em uma videoconferência com a recifense Júlia, papel da atriz e jornalista pernambucana Ademara Barros. Ela é encarregada de dar as boas-vindas a Bruno, que está começando na empresa. Quando o iniciante revela que é de São Paulo, Júlia solta ‘ê trem bão, meu’, misturando gírias de Minas Gerais e da capital paulista. Ela ainda fala em pão de queijo com chimarrão.

“Olha, vai se acostumando. Desceu do Espírito Santo é tudo Sudeste. Um monte de branco comedor de pinhão”, diz a personagem. Ela também ressalta a prosódia de Bruno. Outro personagem, vivido pelo humorista baiano João Pimenta, diz ‘o cara tem uma cara de sudestino da porra’.

A certa altura, já irritado, Bruno diz ‘vocês estão falando como se toda pessoa fosse igual no Sudeste. O Sudeste tem vários lugares diferentes’.

A temática, de certa forma, já havia sido abordada no filme Bacurau, dos diretores Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, lançado em 2019. No longa, dois matadores contratados por uma organização criminosa estrangeira que atua no Nordeste respondem aos ser questionados se eram amigos da vítima. “A gente não é dessa região. A gente é do Sul do Brasil. Uma região muito rica. Com colônias alemãs e italianas. Somos mais como vocês.”

O roteirista do vídeo, o potiguar Edu Araújo, que trabalha no Porta dos Fundos há 1 ano e meio, diz que a ideia da esquete o acompanha há algum tempo. “Quando entrei no Porta, a Márcia Zanelatto, que era chefe da sala de roteiro, me disse: onde te dói? Acesse sua dor. O humor vem disso. A gente pega um pouco da raiva que sente do mundo e joga nele. Ele é uma crônica. A esquete nasceu justamente desse incômodo com a naturalização dessa generalização. Resolvi abordá-la com leveza e deboche “, diz.

Além do livro A Invenção do Nordeste e Outras Artes, do historiador Durval Muniz de Albuquerque Jr, um papo com uma amiga sobre a dificuldade das pessoas identificarem sotaques foi uma das “lamparinas” para o tema, segundo Araújo. “Parece que as pessoas entram em um Uber e falam ‘me deixa no Nordeste’. Que Nordeste é esse que está na cabeça delas? Eu tenho que carregar o peso de 9 Estados nas costas? Tenho muito orgulho dos signos, comediantes, atores, escritores que me trouxeram até aqui. Mas queremos mais. Queremos contar um outro Nordeste”, diz Araújo, que também cita a vencedora do BBB 21, Juliette Freire, como uma importante voz nesse debate.

Estadão

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