JUSTIÇA

Vaza Jato: Mensagens provam influência de Deltan sobre Barroso e Fachin

O procurador Deltan Dallagnol usou o prestígio obtido como coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba para tentar emplacar nos bastidores o procurador regional da República Vladimir Aras, seu aliado no MPF (Ministério Público Federal), como o novo comandante da PGR (Procuradoria-Geral da República). Para isso, fez lobby com ministros do governo Jair Bolsonaro (PSL), senadores e ao menos três ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

É o que mostram conversas privadas enviadas por fonte anônima ao site The Intercept Brasil e analisadas em parceria com o UOL. Os diálogos entre Deltan e Aras revelam que o coordenador da Lava Jato se engajou pessoalmente na campanha do aliado, articulando diariamente com ele estratégias para que fosse recebido por autoridades. Deltan mostra, em diversos momentos, receio de que sua interferência na disputa viesse a público: “bom ficamros [sic] na sombra”, disse a Aras em diálogo pelo aplicativo Telegram no dia 21 de fevereiro.

Vladimir Aras já ocupou postos-chave: foi secretário de Cooperação Jurídica Internacional da PGR na gestão do ex-PGR Rodrigo Janot e fez parte dos GTs (Grupos de Trabalho) de Crime Organizado e de Lavagem de Dinheiro e Crimes Financeiros da PGR. Atualmente, é coordenador do Grupo de Apoio ao Tribunal do Júri Federal da 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF.

Os diálogos mostram que os dois começaram a articular a candidatura ainda durante o período eleitoral. Assim que Bolsonaro teve uma votação expressiva no primeiro turno da disputa, no qual obteve 46% dos votos válidos, os dois passaram a planejar abordagens ao entorno do então candidato.

Sergio Moro, que ainda era juiz federal àquela altura, já é tachado como alguém próximo do grupo de Bolsonaro. “Fala com Moro sobre minha candidatura a PGR”, escreveu Vladimir Aras às 13h22 de 11 de outubro de 2018 –quatro dias após o primeiro turno da eleição presidencial. “Com bolsonaro eleito, vou me candidatar”, completou às 13h23.

Após o encontro, Deltan deu sinais de que manteve contato com Eduardo Girão com o intuito de traçar uma estratégia para angariar novos apoios no Senado.

Em 4 de março, Deltan envia para Aras uma lista de senadores em postos de liderança que deveriam ser procurados em busca de apoio. “Olha o plano de conversas que o Eduardo propôs”, avisou às 16h37.

Foram listados 20 parlamentares, vários citados em delações da Lava Jato. É o caso de Eduardo Braga (MDB-AM); Humberto Costa (PT-PE); Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE); e Alvaro Dias (Podemos-PR). Também figurava na lista de senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) – ele participou de uma articulação de Deltan para usar a Rede Sustentabilidade como uma espécie de laranja para uma ação de interesse da Lava Jato no STF.

Deltan se mostra empolgado com a ideia: “nesse colégio, a metade vai aderir bem. Alguns talvez nem compense a visita…Mas é aquele coisa; fechar o cerco! Creio que as visitas individuais aos outros 60 e poucos Senadores fará a diferença, pois como diz Martim Luther King Jr ” O que me incomoda não é o grito dos maus (que muitas vezes tomam a liderança ) mas o silêncio dos bons “. Mas os tímidos podem surpreender dessa vez….Na eleição da Presidência da casa fizeram a diferença”, disse às 16h38.

Outro lado

Procurada pela reportagem, a força-tarefa da Lava Jato disse, por meio da assessoria de imprensa do MPF do Paraná, que é permitido aos procuradores “incentivar colegas a se candidatarem”, “fazer contatos” e “encampar iniciativas para a escolha dos melhores candidatos”. Destacou, porém, que tem “reiteradamente defendido” a lista tríplice “sem manifestar apoio a determinado candidato”.

“A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba não reconhece as mensagens que lhe têm sido atribuídas. O material é oriundo de crime cibernético e sujeito a distorções, manipulações e descontextualizações. É legal, legítimo e recomendável que procuradores busquem o aperfeiçoamento institucional. Isso

engloba a participação no processo de escolha do novo procurador-geral. Procuradores podem incentivar colegas a se candidatarem, assim como fazer contatos e encampar iniciativas para a escolha dos melhores candidatos pelos colegas e pelo presidente. Diversas vezes, iniciativas cogitadas não se realizaram após reflexão e ponderações internas. Os integrantes da força-tarefa da Lava Jato têm reiteradamente defendido que a escolha do novo procurador-geral seja feita a partir da lista tríplice, sem manifestar apoio a determinado candidato.”

O ministro Sergio Moro, Eduardo Girão e Vladimir Aras, foi procurado mas eles ainda não se manifestaram. As informações são do UOL.

Redação DiárioPB

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