“Vai matar só velhinho e gente doente”: a desumanidade de Justus jamais será esquecida. Por Nathalí
DCM – O senso comum aposta que a pandemia COVID-19 igualou as pessoas: rico ou pobre, empregado ou patrão, preto ou branco, agora todos precisam ficar em casa.
Feliz em saber que SEMPRE odiei o Roberto Justus, nojo desse tipo de gente. pic.twitter.com/3C0EdetoHx
— Haddad Debochado (@HaddadDebochado) March 22, 2020
Mas quem está um pouco mais atento sabe: esses tempos sombrios só aumentam os abismos entre as pessoas.
Há quem não tem direito a trabalhar de casa na quarentena. Há quem não tem trabalho. Há quem não tem casa. O vírus agora sobe os morros e as favelas e o pobre, que sempre fora marginalizado, será atirado em desgraça.
A crueldade do neoliberalismo nunca foi tão óbvia – a pandemia é uma refutação prática do sistema neoliberal no mundo – e do mesmo modo que há muito tempo não vivemos uma dor tão pungente, também há tempos não tínhamos uma oportunidade tão providencial de conhecermos verdadeiramente as intenções sórdidas dos poderosos.
Roberto Justus, empresário milionário e desumano, em áudio enviado ao apresentador Marcos Mion, chama o coronavírus de “gripezinha” e ironiza as milhares de mortes ao redor do mundo. “Um milhão de mortos é a piada mais sem graça que eu já ouvi na vida. Foram 12 mil mortos”, diz, rindo.
Hoje, aliás, o total já está em mais de 15 mil.
“Na favela não vai acontecer porra nenhuma se entrar o vírus, muito pelo contrário (?). Grave é o que vai acontecer com a economia agora, uma grande recessão.”
É isso que importa pra eles: o dia em que suas ações despencarem, o dia em que não houver mais funcionários para explorar, o iminente colapso da economia. Seres humanos não estão em seu espectro de preocupação.
Luciano Hang, o véio da Havan, chamou de “histeria” a decisão dos governos de parar as cidades. Claro, é só uma pandemia, há motivos para pararmos de explorar os pobres?
É este o abismo que agora se agiganta entre nós e eles: nós não sabemos se trabalharemos e se comeremos nos próximos meses, eles computam os milhões que perderão, ainda que restem outros tantos.
Nós nos desesperamos porque não haverá leitos para todos, eles se preocupam com a recessão econômica que lhes fará um pouco menos ricos. Nós olhamos com pesar para os que vivem na rua, os que estão vulneráveis, os que não têm alternativa a não ser contar com um Estado que simplesmente não se importa, eles buscam encontrar um jeito de continuar faturando no apocalipse.
Que nunca nos deixemos esquecer a desumanidade desses poderosos, que reflete a desumanidade do sistema que lhes privilegia.