Um enorme país operado como um autorama
Se há duas características que mostram a fisionomia da polititica nacional é o interesse pessoal, via de regra, escuso e a total irresponsabilidade para com a sociedade. Nada neste país é levado a sério. Toda e qualquer coisa criada ou adotada na administração pública ou é criada com o intuito de tirar vantagens e desviar verbas ou é deturpada logo depois ou as duas coisas ao mesmo tempo, o que é bem pior. Faça um esforço, caro leitor, e tente lembrar algum ato do Congresso Nacional, da Assembleia estadual ou da Câmara de sua cidade que de fato beneficiou o cidadão comum. Melhor dizendo, uma lei ou decreto que fez com que você percebesse o aumento de comida em sua mesa ou de dinheiro no seu bolso ou bem-estar social, como melhoria na saúde. Difícil, não?
Pois sim. Tudo é pensado e feito no maior amadorismo inconsequente de que se pode ter notícia. Assim foi com a reeleição que agora revogaram. A preocupação com a extensão do mandato sempre turbou o sono de todos os que passaram pelo Planalto. O Bigode apenas conseguiu adicional um ano a mais; o Fernandinho tinha outras preocupações, bem mais interessantes!; o conquistador teve que se contentar apenas com o resto do Banquete. O Luís XIV dos trópicos, esse, logrou êxito e conseguiu quase tudo o que queria, não foi um mandato vitalício nem hereditário, como desejava, mas pelo menos conseguiu dobrar o tempo: duplo mandato!; O Inocente pegou a carona e está certo, quem herda não furta!; A Titia continuou na direção da locomotiva, mas os portadores dos preconceitos nacionais se irritaram com a possibilidade de mandato duplo para ela, na eleição passada e juraram, qual Jefté, banir a reeleição com o fito de esperar menos a chance da (re)tomada do poder: o Planalto. Então, PT em dose dupla, nunca mais. E a direita raivosa promete e faz (o que lhe beneficia, lógico!).
Não venho aqui defender a reeleição ou o mandato único. Para mim, como diz o francês, Ça m’est égal (tanto faz). O que eu gostaria de ver neste país, mas sei que isso nunca existirá popr aqui, era um legislativo humano, eficiente e moralizado, e um executivo voltado para o bem comum e a resolução dos problemas sociais, e mais ainda (mas acho que isso é querer demais) gostaria de ver um povo aguerrido, canalizando a força que explode em violência nas ruas, contra aqueles que o exploram. Um país só muda se seu povo muda e o faz mudar. A história está aí, vejam o exemplo da França.
Aqui eu volto a insistir, o problema não está na organização dos mandatos. Mas em quem o exerce com todo seu aparato, mais o legislativo e judiciário. Nos Estado Unidos existe a reeleição desde 1946, antes disso a constituição daquele país permitia reeleição ad infinitum, isto é, ilimitada. E ninguém me diga que os problemas que lá existem é por conta da reeleição. Em termo de administração pública, apesar de todos os problemas que lá existem, o EUA se mostra um país de vergonha, no que concerne atenção ao seu povo. E olhe que a reeleição por aqui é obra do PSDB. Com certeza, se o PSDB estivesse no poder continuaria tudo como dantes. Ninguém me dissuade de que a extinção da reeleição é mais um golpe da direita raivosa que quer de todas as formas castrar a possibilidade de pobres darem um passo à frente socialmente. Isso ela quer extirpar até dos sonhos. Mas alguém pode objetar que apenas 19 deputados votaram contra. E eu digo, e daí? A esquerda festiva quer é festa! Ela também nunca esteve preocupada com os destinos do país nem com a sorte dos pobres e miseráveis, senão, não teria ajudado a aprovar a lei da terceirização.
Povo brasileiro, cuidado! Ultimamente os golpes que temos sofrido são piores que o de 1964. Sem metralhadora, sem blindados nas ruas, sem tortura física. Mas com armas torturantes e letais, muito mais perigosas: as leis. Essas sim, vão colocar todos de joelhos sem direito a protestos. Lembre-se de que as armas já foram confiscadas à população e foi a esquerda quem o fez. Bem verdade é o que diz Slavoj Zizek: Não precisamos de direita com esta esquerda que aí está! E é bom que acordemos para uma frase de Siviano Santiago. Na fiação do tecido social brasileiro não há fio solto. Quem tiver ouvido que ouça!