MÚSICA

Trio de forró pé de serra pode virar identidade cultural de João Pessoa

O parlamentar criticou a determinação do Ministério Público da Paraíba que limita o horário de apresentações com música ao vivo até 23h, nas barracas e quiosques da orla pessoense, devendo-se à meia-noite encerrar todas as atividades dos restaurantes. “Gostaria de fazer um apelo, de forma direta. Como a gente vai falar de cultura, tradição, São João, da existência de um povo, se a gente tira das nossas praias o sanfoneiro, o zabumbeiro e o triangueiro, e faz com que esses homens fiquem impedidos de receber seus recursos para sustentar sua família por meio da cultura?”, indagou Carlão.

E continuou: “Como vou tirar essa cultura do nosso principal cartão postal, que são as praias? De onde veio o raciocínio de que tirar isso da orla vai trazer a ordem social ou local? Não vai trazer, vai matar a cultura e a essência do povo nordestino”, enfatizou Carlão, salientando que é necessária a mobilização de vereadores, deputados e gestores para mudar essa situação, a fim de não deixar morrer a tradição cultural, nem o turismo da cidade.

“Aqui não tem direita ou esquerda, tem a tentativa de resgatar e falar um pouco dos problemas que a cultura popular, de uma maneira geral, tem. Sabe quanto ganha um trio pé de serra em Campina Grande? R$ 800. É muito pouco. Em João Pessoa, através de uma parceria e das emendas que a gente tem, todo sábado tem um grupo de forró, um grupo de cultura popular, cordel e cantoria, na praça. Nosso cachê para eles é R$ 3 mil. É pouco ainda, mas é um cachê que dificilmente se paga, por não reconhecerem o forró. A Funjope também equiparou. Precisa-se ter iniciativa para a valorização”, defendeu Marcos Henriques (PT).

Sobre as restrições de música ao vivo na orla, Marcos Henriques ainda destacou: “O turismo está perdendo, porque quando o turista vem para cá, vem para ver o forró, mas não vê. Se ele chega às 23h, não tem mais nada para ver. Perde o turista, perde o empresário, a cultura e os pais de família que precisam subsistir. A gente só tem a lamentar com isso, mas não vamos desistir”.

A cantora Patrícia Cunha deu seu testemunho como ‘convertida’ em forrozeira, e falou sobre sua vida como mulher negra pessoense, de pais naturais de Catolé do Rocha, no interior da Paraíba. “Minha avó me inspirou a dançar forró e carimbó. Eu já cantava desde criança no ritmo da zabumba. Todos na minha casa tocam violão, cresci com a musicalidade dentro da minha casa. Parti para a MPB, mas, dentro de mim, pulsava o forró, e sempre achei linda a cultura do meu Nordeste. Aos poucos fui me aproximando dos forrozeiros e levei meu estilo musical para o ritmo do forró. Junto com meu esposo, Geovani Cunha, já compus alguns forrós. Canto forró, mesmo sem ter uma voz tão potente como de outras forrozeiras”, revelou. Na ocasião, ela cantou a música‘Estrada de Canindé’, de Luiz Gonzaga, que, segundo ela, a converteu. “Temos que manter viva nossa cultura para garantir a existência das nossas raízes. Temos voz e voz forte para conseguirmos isto”, asseverou.

O presidente da Associação dos Forrozeiros da Paraíba (Asforró-PB), Alexandre Pé de Serra, caracterizou como maldade a decisão do MPPB de limitar as apresentações na orla. “O que estão fazendo com o nosso forró e com nossos atores culturais forrozeiros, forrozeiras, percussionistas, na orla de Cabo Branco, é uma coisa desumana. É ser maldoso e primitivo querer tirar o pão da boca dos forrozeiros e forrozeiras, que estão ali para levar para casa o seu sustento a partir do dom que Deus deu. É uma maldade muito grande”, enfatizou, pedindo a sensibilidade do MPPB, da Prefeitura e dos técnicos da Funjope.

A presidente da Associação Cristã Conservadora do Amanhã (ACCA), Suellen Regina, anunciou que, conjuntamente com outras entidades ligadas ao forró, pretende organizar concursos de forrozeiros pelos bairros de João Pessoa. “O forró tem que prevalecer o ano todo, e não apenas no mês de junho. Eu não toco nada, mas danço a alegria do forró, que é música e dança. Precisamos evitar a morte desta cultura. Não queremos desvalorizar outros ritmos, queremos tão somente valorizar e perpetuar a cultura do forró pé de serra. Vamos trazer pavilhões para os bairros o ano todo, para proliferar a cultura do forró pé de serra pela Capital paraibana”, explicou.

Nilda Passoni, que preside o Instituto Paraíba Nossa Terra, afirmou: “Se o forró não dançar forró, forró ele não é. Então, em cada local que a gente chegar, temos que dançar forró. Aos 62 anos, não conheço outra forma de preservar nossa vida e nossa cultura se não for através da cultura popular. Nós não podemos ser cópias de ninguém”. Nilda pediu a valorização dos forrozeiros de bairro, movimentos culturais e quadrilhas juninas, que, segundo ela, fomentavam a geração de renda nos entornos em que ocorriam. “Hoje estamos tendo dificuldade de montar o espetáculo da cultura popular, que agora só temos no período de junho e julho. Tirando esse período, o que acontece na cidade de João Pessoa? Nada. Nós não temos o turista que vai todos os dias ou em qualquer momento de suas férias procurar um lugar para ver a cultura popular. O que falta?”, indagou.

O presidente da Associação Cultural Eita Paraíba, Lourival Junior, cobrou um espaço público reservado para o forró, assim como tem para o chorinho com o projeto ‘Sabadinho Bom’. Ele cobrou também fomento ao forró e à capacitação dos artistas. “Como a gente vai poder melhorar se não tem nenhum programa de fomento?”, indagou Lourival, enaltecendo o trabalho realizado pela Asforró, mas cobrando das autoridades responsáveis.

Redação DiárioPB

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