Torcedores lotam quadra da Beija-Flor cantando ‘a campeã voltou’
Aos gritos de “A campeã voltou”, os torcedores da Beija-Flor festejaram o 13º título da escola de Nilópolis pouco despois das 18h desta quarta-feira (18), antes mesmo de a vitória ser declarada oficialmente. Mas, pela contagem dos pontos, a azul-e-branca da baixada Fluminense não tinha mais chance de perder.
Por volta das 20h, quando chegaram à quadra Neguinho da Beija-Flor, que cantou o samba no desfile vitorioso, e o presidente de honra da escola Aniz Abraão David, o Anísio, a quadra já estava lotada.
O sétimo lugar de 2014 ficou entalado na garganta de Neguinho: “O sentimento é de dever cumprido porque ficou engasgado. Ganhou a escola que errou menos”.
O mau resultado de 2014 também abalou Selminha Sorriso: ”A gente trabalhou muito para pagar o ano passado, quando a Beija-Flor ficou fora do Desfile das Campeãs. Sem raiva e sem rancor. Só trabalho. Tenho oito títulos, mas a emoção é sempre a mesma”, disse a porta-bandeira da Beija-Flor, que já desfilou 20 carnavais pela escola.
Raíssa de Oliveira, a rainha de bateria, considerou o desfile da Beija-Flor muito bom. “Eu estava confiante porque fizemos um ótimo desfile”, disse.
Enzo Celulari, filho da musa da escola, a atriz Claudia Raia, com Edson Celulari, era só elogios: “Foi um desfile sensacional. A Beija-Flor tem um dos melhores sambas-enredo. Uma escola que acompanho desde pequenininho”, comemorou.
Para o carnavalesco Fran-Sérgio, colecionando seu oitavo título pela escola de Nilópolis, o desfile foi impecável. “Eu achava que o Salgueiro também tinha feito um desfile impecável, mas tivemos algo a mais. A briga acirrada foi justa. A Guiné Equatorial é um enredo maravilhoso”, disse.
Para Laíla, diretor da Comissão de Carnaval, a vitória veio acompanhada de desabafo: “A gente está sempre buscando fazer o melhor para a escola de samba. Eu amo a minha escola, mas o enredo foi tão questionado, até mesmo dentro da escola. Me questionaram muito”, disse, aos prantos.
Com o título de 2015, a Beija-Flor, com 13 campeonatos, se aproxima da Mangueira, que já venceu 17 vezes e é a segunda maior campeã do Grupo Especial, desde 1932. A Portela lidera com 21 títulos.
O título da escola de Nilópolis não era conquistado desde 2011. Os outros campeonatos vencidos foram em 1763 ,1977, 1978, 1980, 1983, 1998, 2003, 2004 , 2005, 2007 e 2008.
No sábado (21), seis escolas voltam à Sapucaí a partir das 21h30 para o Desfile das Campeãs. A ordem é inversa à da colocação. A sexta colocada, Imperatriz, abre a festa, seguida de Portela, Unidos da Tijuca, Grande Rio e Salgueiro, fechando com a campeã Beija-Flor.
Na quadra da Beija-Flor, às 21h já não cabia mais ninguém e o calor era forte. A festa se trasnformou em baile de carnaval, com os músicos tocando marchinhas e sambas. Os torcedores vestiam em sua maiora roupas com as cores da escola: azul e branco. E diziam que a festa não tinha hora para acabar.
O desfile
A escola mostrou o enredo: “Um Griô conta a história: um olhar sobre a África e o despontar da Guiné Equatorial. Caminhemos sobre a trilha de nossa felicidade”. A exaltação da cultura e da alma africana já havia dado à escola azul e branca da Baixada Fluminense vários campeonatos, que no total faturou 12 títulos no carnaval carioca.
Em 2015, a Beija-Flor voltou a abusar do luxo e da tradição. Foram poucas as inovações ou os recursos tecnológicos. A aposta maior foi na perfeição técnica e na empolgação dos integrantes, que na avenida esqueceram o sétimo lugar de 2014 para voltar a sonhar com um posto mais alto.
A voz única e marcante de Neguinho da Beija-Flor, que completa 40 anos de escola, fez do samba-enredo o ponto alto e manteve a empolgação dos 3.700 componentes, distribuídos em 42 alas, sete carros e um tripé.
Homenagem polêmica
A Beija-Flor recebeu patrocínio da Guiné Equatorial, o país africano homenageado no enredo, que é uma ditadura comandada há 35 anos por Teodoro Obiang Nguema Mbasogo e tem como base da economia a exploração do petróleo. O patrocínio gerou muita polêmica.
O presidente da Beija-Flor, Farid Abraão, negou que o governo da Guiné Equatorial tivesse investido R$ 10 milhões no carnaval da escola, mas admitiu ter recebido contribuição, sem, no entanto, informar o valor.
“A gente pegou um enredo para falar de um país africano, um país que até então muita gente não conhecia. Nossa questão aqui é carnaval. O regime não nos compete. Cuba era odiado pelo mundo democrático e hoje está sendo abraçado”, disse Farid.
G1