
Reportagem publicada nesta segunda-feira (12) pelo jornal norte-americano The New York Times revela o esforço da China para consolidar sua presença na América Latina, utilizando a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Pequim como momento simbólico de sua estratégia. Paralelamente, o presidente chinês Xi Jinping também se reúne com autoridades de outros países da região, incluindo representantes do Caribe, numa demonstração clara de que o gigante asiático pretende manter e expandir sua influência no hemisfério.
A movimentação ocorre em um contexto de crescente pressão dos Estados Unidos sob o governo do presidente Donald Trump, que busca reaproximar os países latino-americanos da esfera de influência de Washington. Em sua retórica, Trump resgata os ecos da Doutrina Monroe — a política adotada em 1823 segundo a qual o continente americano seria zona de domínio exclusivo dos EUA. A nova disputa geopolítica, contudo, tem características distintas: em vez de tanques, trata-se de investimentos, infraestrutura e parcerias comerciais.
“O que os povos da América Latina e do Caribe desejam é independência e autodeterminação” – a declaração foi feita pelo vice-ministro das Relações Exteriores da China, Miao Deyu, durante coletiva de imprensa em Pequim no domingo (11), conforme destacado pelo People’s Daily, jornal oficial do Partido Comunista Chinês. A fala de Miao é uma crítica direta à retomada da lógica monroísta pelos Estados Unidos, em especial após o secretário de Estado Marco Rubio afirmar que a gestão Trump está “colocando as Américas em primeiro lugar”. A primeira viagem oficial de Rubio ao exterior como chanceler, aliás, incluiu visitas ao Panamá, Guatemala e outros países do entorno.
Mas as ações concretas de Washington têm provocado insegurança. A imposição de tarifas generalizadas e até ameaças de retomar o controle do Canal do Panamá alarmaram diversas lideranças políticas na região, principalmente aquelas que já viam com desconfiança a atuação norte-americana.
Lula em Pequim – De acordo com Matias Spektor, professor de política internacional da Fundação Getulio Vargas, “Lula vê a China como uma parceira para reequilibrar o poder global, não apenas como um parceiro comercial, mas como um contrapeso geopolítico à hegemonia dos EUA”.
Ainda segundo Spektor, a estratégia brasileira é clara: “diversificar as alianças do país, reduzir a dependência de Washington e posicionar o Brasil como ator relevante num mundo cada vez mais multipolar”.
Neste cenário, o papel de Lula na engrenagem diplomática do Sul Global ganha dimensão inédita. Ao abraçar uma parceria sólida com a China e manter-se aberto a outras alianças estratégicas, o Brasil de Lula se projeta como ponte entre diferentes polos de poder, rompendo com a lógica de alinhamento automático aos interesses norte-americanos.
Com Brasil 247