Teatro de Arena celebra a arte e resistência de Pedro Osmar com o show ‘Eu Canto Música de Amor’
por Dalmo Oliveira*
Faltou muita gente, mas quem pode estar ontem no Teatro de Arena do Espaço Cultural percebeu que a cena cultural de João Pessoa tem sido construída nas últimas décadas por um motor propulsor chamado Pedro Osmar.
Logo no início da noite ele chegou com os filhos, sentado numa cadeira de rodas, alpercatas de couro, bermudão e um boné do MST. Ele me disse que estava bem. Eu fiquei aliviado, porque como não havia encontrado com ele há vários meses, não sabia como estava a saúde pós-AVC.
Mas Pedro é rocha! E me pareceu bem contente com toda aquela movimentação. Ele assistiu tudo até o final, na plateia, com parcimônia, sem estrelismo. A tietagem foi grande, como se poderia prever.
Defronte pro palco, em cima da arquibancada, foi montada uma espécie de feirinha para que diversos artesãos, escritores e artistas visuais pudessem expor o material trazido que foi vendo em prol do tratamento de saúde de Osmar.
Ali o povo ia se encontrando, se abraçando e diminuindo a saudade uns dos outros. A plateia era composta, majoritariamente, por “coroas” acima dos 40 anos. E eu fiquei imaginando “como temos gente talentosa por aqui”. E de como eu sou sortudo de conhecer essa gente, alguns amigos, como Paulo Ró, Adeildo Vieira, Mário Sergio, Sergio Ricardo, Braguinha, Águia Mendes, Merlânio Maia, Fernando Moura, maestro Luiz Carlos, Fabiana Veloso, Escurinho, Lu Maia, Zuma Nunes, Tânia Freitas, Mana Sousa, Fuba, Carmélio Reinaldo, Lúcia Guerra, William Costa, Gilson Renato, Jorge Negão, Kennedy Costa, Milton Dornellas, Gláucia Lima, Naldinho Freire, Sílvia Patriota, Sandra Belê, Titá Moura entre tantos outros.
Mais do que uma simples “campanha de arrecadação, o show serviu para mostrar a potência desse “movimento”, que Pedro ajudou a erguer desde a década dos 70. Havia aquele clima de conforto social, de cumplicidade e de solidariedade mútuos.
Em mais de duas horas de música, quem subiu ao palco tocou algo que Pedro compôs com sua visão diferenciada das coisas, seja em tempos de guerrilha, seja em períodos de paz. E a plateia se deliciou com versões nova executadas ali, aos vivos e às cores.
É uma daquelas noites que você sente também que quem já foi embora voltou para ver e ouvir, mais uma vez, como a arte corta nossa carne, dá bússola para navegarmos os rios caudalosos ou pedreguentos da vida, traduzindo angústias, amores e superações.
* Dalmo Oliveira é jornalista. Dedica esse texto a Gerimaldo Nunes, que nos abriu os olhos e ouvidos e a João de Deus, que com seu carinho e amizade guiou nossa trupe até o final,