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Talibãs fecham cerco a Cabul e crise humanitária se agrava no Afeganistão

Sonia Ghezali e Heike Schmidt, da RFI Como em um efeito dominó, o governo do Afeganistão perde um a um o controle de suas províncias para os talibãs. Nesta sexta-feira (13), os insurgentes tomaram o poder de mais quatro capitais e estão cada vez mais próximos de Cabul. Diante do avanço rápido e implacável e da retirada das tropas norte-americanas e britânicas, a OTAN fez uma reunião de emergência e diz que apoiará “tanto quanto possível’ o exército afegão.

Pela manhã, o Talibã anunciou que havia tomado a cidade de Pul-e-Alam, capital da província de Logar, ao sul de Cabul, e depois Chaghcharan, a maior cidade da província de Ghor, no centro do Afeganistão. A bandeira branca do Emirado Islâmico do Afeganistão também está hasteada na capital provincial de Badghis.

O certo está se apertando em torno de Cabul. Os insurgentes estão presentes na província vizinha de Parwan, a apenas 50 quilômetros da capital.

Os representantes do Estado Islâmico também tomaram duas das três maiores cidades do país, Herat e Kandahar, e agora controlam cerca de dois terços do país.

Crise humanitária

Enquanto os talibãs avançam, uma onda de refugiados ruma em direção a Cabul, considerado o último lugar seguro.

“Em Cabul, há milhares de pessoas refugiadas que chegaram e estão acampadas em diferentes regiões da cidade. Mas há pouca coordenação do governo, que poderia colocar à disposição dessas pessoas alguns prédios públicos”, contou por telefone Thomas Nobre, um dos diretores da missão Ação contra a Fome no Afeganistão.

Segundo Nobre, a população tem feito doações de comidas e tentado ajudar a massa de deslocados, mas ainda não há coordenação pública para atender o grupo.

“Eles precisam de acesso a água, comida, um lugar para dormir, saúde. Fora todos os deslocados que viram os conflitos armados em sua província e precisam de apoio [psicológico] para construir uma resiliência em uma situação tão frágil quanto a deste momento no Afeganistão”, conclui.

A ONU estima que cerca de 400.000 pessoas tenham sido deslocadas no país este ano e o número não para de crescer.

Diante da grave crise humanitária, muitos afegãos tentam se organizar para deixar o país, mas enfrentam todo tipo de dificuldade, explica a pesquisadora Nassim Majidi, fundadora do centro de pesquisas Samuel Hall, em Cabul.

“Os afegãos estão novamente abandonados e presos em seu próprio pais. As notícias que circulam são sobre voos comerciais sendo paralisados, emissão de passaportes paralisada. A mensagem de que não vão poder sair, pelo menos de forma legal, é muito clara, principalmente para a classe média e para os jovens, que tentaram acreditar no governo nos últimos anos”, conta Majidi.

“A Europa precisa criar corredores humanitários e se preparar para acolher os refugiados afegãos”, defende a pesquisadora.

Próximos passos

Os Talibãs parecem encontrar ainda menos resistência neste momento do que no início de sua ofensiva lançada em maio passado. As forças afegãs estão fugindo mesmo antes da chegada dos insurgentes. Na parte ocidental do país, o antigo senhor da guerra Ismail Khan, apelidado de “Emir do Ocidente”, que lutou contra o Talibã nos anos 90 e criou uma milícia vigilante nas últimas semanas, está agora nas mãos dos insurgentes.

Os rebeldes prenderam vários membros das forças de segurança afegãs e estão usando-os para pressionar o governo em Cabul. Todos os olhares estão voltados para o palácio presidencial. Ashraf Ghani irá capitular para os fundamentalistas religiosos? Alguns esperam que sim, a fim de evitar um banho de sangue.

Após o anúncio do envio de tropas dos Estados Unidos e do Reino Unido para garantir a retirada de todos os cidadãos desses países do território afegão, inclusive os soldados que estavam ao lado do governo afegão, a OTAN realizou nesta sexta uma reunião de crise em Bruxelas.

Na pauta da reunião, presidida pelo secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, estavam a retirada de estrangeiros e a segurança de Cabul, principalmente de seu aeroporto internacional. Ao final da tarde, Stoltenberg afirmou que a OTAN ajudaria “tanto quanto possível” o exército afegão, mas não detalhou de que maneira.

A situação no Afeganistão, com o avanço dos talibãs após uma longa ocupação por exércitos dos Estados Unidos e outros membros da OTAN, tem sido comparada ao final da Guerra do Vietnã, quando os insurgentes tomaram Saigon logo após a retirada norte-americana.

Redação DiárioPB

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