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Reforma tributária: Impostos sobre bebidas variam conforme teor alcoólico

Uma cerveja terá uma carga tributária mais baixa do que uma vodca ou uma cachaça, por exemplo

O texto que regulamenta a reforma tributária, aprovado na Câmara dos Deputados na semana passada, manteve a proposta do governo de pôr um imposto extra para bebidas alcóolicas.

Esta taxa vai ser proporcional ao teor de álcool do produto, ou seja, uma cerveja terá uma carga tributária mais baixa do que uma vodca ou uma cachaça, por exemplo.

A versão aprovada pelos deputados ainda vai para o Senado e, depois, passa pela sanção do presidente. Mesmo que o conteúdo integral da proposta seja aprovado, as medidas serão aplicadas de forma gradual, efetivando-se completamente apenas em 2032.

“O objetivo da reforma não é aumento de carga tributária, é uma reorganização do sistema tributário”, explica Paula Johns, diretora-executiva da ACT Promoção em Saúde, ao programa Bem Viver desta quarta-feira (17).

“No final das contas, se você paga muito pouco imposto para um produto que tem enormes custos à saúde pública e custos ambientais, lá na frente, todos nós estamos pagando essa conta consumindo ou não aquele produto”, complementa a especialista para defender a taxação extra de produtos como bebidas alcóolicas.

Embora comemore a primeira aprovação do texto, Johns pondera que só é possível ter certeza sobre a efetividade da medida depois que for definida qual será a taxa de imposto extra que vai incidir sobre as bebidas.

“A alíquota tem que ser adequada para a gente conseguir alcançar as metas de desincentivo ao consumo. O imposto se torna seletivo para isso.”

A especialista lembra que, na opinião pública, muitas pessoas têm criticado algumas taxações que estão surgindo na reforma tributária. Ela defende que o Congresso e o governo se juntem para explicar à população a importância destas medidas.

“Quando você fala de imposto seletivo para produtos nocivos à saúde é isso que se tenta corrigir, porque não é justo que você lá na frente esteja dividindo a conta de hospital de todo mundo que adoeceu pelo consumo daquele produto.”

Tabaco e ultraprocessados também entraram na lista do chamado imposto seletivo, que adiciona a carga extra. No entanto, agrotóxicos e armas ficaram de fora, o que foi criticado por Johns e outros especialistas que acompanham os debates.

Confira a entrevista na íntegra

O que ficou definido por ora a respeito das bebidas alcoólicas?

Em relação ao texto que foi apresentado pelo poder Executivo para o Legislativo, mudou pouca coisa em relação ao álcool. Segue sendo um modelo de imposto misto, que é o que defendemos, que significa ter o elemento imposto específico e o ad valorem, que é uma parte do imposto.

O que mudou é que, antes, a questão do teor alcoólico influenciar na alíquota se aplicava apenas ao imposto específico e, agora, você tem no ad valorem a mesma situação.

Na verdade pode ter, não é que tem que ter, pode ter essa questão do teor alcóolico como parte desse cálculo de quanto vai ser o ad valorem, que é pelo valor do produto.

Teve uma briga até interessante entre a indústria de destilados e a indústria de cerveja. Uma defendendo que álcool é tudo é igual. E [a indústria] da cerveja dizendo “não, tem que fazer um imposto por dose”.

Obviamente você não vai comparar o volume de uma dose de destilado e dizer que uma dose de cerveja do mesmo tamanho é a mesma coisa.

Você compara por unidade em relação ao que as pessoas consomem. Então assim, uma lata de cerveja equivalente a uma dose de destilado. É isso, quando a gente fala de fazer uma tributação que seja equivalente ao volume daquela bebida que você está tomando.

O que a cerveja conseguiu foi ter esse elemento também por dose nas duas partes do imposto.

Mas, na realidade, o que vai definir se isso vai ser bom ou não vai ser bom para a saúde pública vai ser o que vai acontecer daqui para frente, que vai ser justamente a definição da alíquota.

E aí tem vários outros elementos importantes da gente levar em consideração. Se você pensa em termos de Brasil, a cerveja é altamente consumida por uma parcela muito expressiva da população. E a pessoa não vai tomar uma dosezinha de cerveja, né? Normalmente você toma várias cervejas

A alíquota tem que ser adequada para a gente conseguir alcançar as metas de desincentivo ao consumo. O imposto se torna seletivo para isso, né?

Aí eu vou só fazer um parênteses, porque imposto é o tipo da palavra que todo mundo tem pavor. Sai correndo, tudo menos imposto.

A quantidade de meme que está rolando agora por conta da reforma a tributária, todo mundo apavorado. O objetivo da reforma não é aumento de carga tributária, é uma reorganização do sistema tributário.

No final das contas, se você paga muito pouco imposto para um produto que tem enormes custos à saúde pública, à saúde das pessoas, custos ambientais, lá na frente todos nós estamos pagando essa conta consumindo ou não aquele produto.

Não é justo que você lá na frente esteja dividindo a conta de hospital de todo mundo que adoeceu pelo consumo daquele produto.

O imposto seletivo nada mais é do que isso. Ele tenta corrigir problemas que a gente tem com o custo daquele produto que é artificial em relação ao que ele custa para a sociedade.

Você sente que a sociedade está entendendo essa mensagem?

A gente não pode mentir para a população. É importante falar que o objetivo final é que aumente o preço desses produtos.

Mas aí a gente precisa esclarecer também que está falando de uma categoria de produtos que não são essenciais à nossa vida, produtos que são supérfluos, que não são necessários.

Ninguém está dizendo que é proibido nem nada, mas eles têm que pagar o preço do que custam.

O que a gente defende é que o imposto seletivo esteja para álcool, para tabaco, para alimentos ultraprocessados, para armas e para agrotóxicos – que ficaram de fora do imposto seletivo.

A gente justamente quer que os produtos que são bons pra saúde fiquem mais acessíveis, então, de novo, você tem que dosar esse custo do quanto que cada produto paga de imposto.

E sobre a carne, devemos comemorar a isenção?

Importante dizer que carne a gente precisa separar a in natura da ultraprocessada. A carne ultraprocessada não tem que ter isenção de maneira alguma.

Agora, para a gente conseguir dar exceção para a carne, sem encarecer todos os demais produtos que você compra, é preciso onerar mais em algum lugar.

Porque, se a gente só botar isenção para a carne, a gente vai aumentar aquilo que chamam de alíquota de referência, que hoje está em 26,5%.

O ideal seria incluir alimentos ultraprocessados e alto em açúcar, por exemplo.

Se você colocar só coisas bem supérfluas, como biscoito recheado, guloseimas, balas, caramelos e bebidas açucaradas, você consegue [incluir na isenção] as carnes in natura, tanto bovina, suína, aves, e ainda diminuir a alíquota de referência.

Se você só colocar as carnes todas do jeito que colocaram agora, vai aumentar a alíquota de referência.

Outra parte da discussão que a gente considera importante é que a carne não é só o elemento da saúde ou de quanto que isso vai impactar na alíquota de referência.

Tem toda a questão ambiental, a gente não deveria estar estimulando o consumo diário de carne, né?

É importante a gente debater e problematizar um pouco também, né? Não ficar só achando maravilhoso, porque, em linhas gerais, todo mundo acha maravilhoso porque zerou um imposto, mas isso tem um custo, custo de desmatamento e outros custos associados que precisam ser considerados também.

E como vocês viram a questão das armas que passaram ilesas?

A gente lamenta profundamente. Inclusive a gente está aí na parceria junto com todas as organizações que estão na linha de frente nessa discussão sobre o imposto de arma, que, na verdade, está tendo uma redução absurda.

É completamente absurdo, é uma narrativa que vai na linha daquela de quem está defendendo da Bancada da Bala dentro do Congresso.

Aquele discurso absurdo achando que com uma pessoa com arma para se defender, a gente vai ter mais segurança pública. A gente sabe que isso é uma grande falácia,

É exatamente o contrário disso. Na verdade, quanto mais arma em circulação, mais vítimas morrendo por conta de armas de fogo e piora a situação da segurança pública.

Lucas Weber, Brasil de Fato 

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