CRÔNICAS DO COTIDIANO

Quarta-feira de cinzas fora de época

Tentaram incutir na cabeça do povo brasileiro de que seriam capazes de dar um golpe, na reedição do que aconteceu em 1964. Anunciaram até a data do acontecimento: sete de setembro de 2021. Preocupados com a baixa popularidade do governo, estão apostando no “espetáculo do confronto”, como alternativa derradeira para se manterem no poder. Elevam o tom de ameaça, no exercício da “pedagogia do medo”, explorando o sistema da intimidação e dando força ao tom falacioso do golpismo palaciano.

Alimentam a fantasia do retorno à ditadura militar, embora comecem a perceber que, é cada vez menor, o engajamento dos quartéis às suas pretensões de ruptura institucional. Está faltando apoio político, social e econômico para fazer valer o propósito golpista. Daí a razão do retumbante fracasso do movimento antidemocrático organizado para marcar oficialmente a deflagração do projeto de impor o “poder absoluto”.

O que me impressiona é o atual presidente acreditar que os militares estariam dispostos a patrocinar um golpe e transformar um ex-capitão em ditador. Não embarcariam na aventura que os converteria em algozes da democracia para entregar o poder a alguém que na hierarquia das Forças Armadas não se posiciona na elite do oficialato.

Alardeavam que no movimento de ontem estariam presentes, em bom número, integrantes das policias militares. O que se viu é que eles, majoritariamente, não estão influenciados pelo radicalismo bolsonarista, o que revelou mais uma balela propagada como fortalecimento na possibilidade do golpe. As lideranças das instituições policiais se negaram, igualmente, a dar efetividade aos arroubos autoritários do presidente.

Apesar do abusivo uso da estrutura do governo, da propaganda do evento há mais de dois meses, das redes sociais turbinadas com robôs para divulgar o “dia do basta”, do financiamento explícito de “caravanas” para permitir a participação dos seus apoiadores, as manifestações se constituíram num grande fiasco. Tanto porque não apresentou a quantidade de pessoas que esperavam, quanto pela frustração em tornarem efetivas as promessas proclamadas. Não houve invasão do STF, nem do Congresso. Não destituíram os ministros dos tribunais superiores. O dia de hoje transformou-se numa quarta-feira de cinzas, marcada por uma forte ressaca da embriaguez do falso golpe.

O barulho que fizeram não foi suficiente para mudar o curso da nossa história política. Tudo continua como “dantes no quartel de Abrantes”, como diz o velho ditado popular. De uma coisa tenho certeza, não há clima para os déspotas vencerem. DITADURA NUNCA MAIS. Eu cantei essa pedra na véspera do evento.

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Rui Leitao

Rui Leitão nasceu em Patos e é radicado em João Pessoa. Jornalista, já foi responsável pela superintendência da Rádio Tabajara. Atualmente é Diretor de Rádio e Tv da EPC - Empresa Paraibana de Comunicação.

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