Qualquer semelhança não é mera coincidência
A melhor seleção brasileira de futebol de todos os tempos foi preparada por João Saldanha, enquanto seu técnico. O comentarista esportivo fez com que o Brasil fizesse a mais vitoriosa campanha das eliminatórias para a Copa do Mundo em toda a sua história. O time estava pronto para disputar o campeonato mundial previsto para junho de 1970. A expectativa de que teríamos uma boa participação era muito grande.
Entretanto, havia uma pedra no meio do caminho. O Presidente Médici queria vincular essa conquista ao seu governo. Pretendia se aproveitar politicamente das glórias da seleção, de forma a anestesiar o povo brasileiro, fazendo-o esquecer do regime ditatorial a que estava sendo submetido, alienando-o o quanto possível das questões sociais e econômicas do país.
O temor do governo era que seu técnico, João Saldanha, com a taça Jules Rimet na mão, encontrasse palco para emitir opiniões e pensamentos que contrariassem o sistema, pondo em risco a estratégia do ditador em usufruir ao máximo o sucesso que se prenunciava. O técnico da seleção era um histórico militante do Partido Comunista, portanto, um inimigo da “revolução”, como costumavam chamar o golpe militar.
Buscando encontrar uma justificativa para afastá-lo do comando da equipe, Médici afirmando-se um apaixonado pelo futebol (o que não sabemos se era só encenação, jogada de marketing político), decidiu interferir na escalação do time. Insistiu publicamente que, entre os titulares, deveria figurar o jogador Dario, conhecido como “Dadá Maravilha”. A provocação parece que alcançou o resultado que desejava. Saldanha, de temperamento forte, mordeu a isca e reagiu ao seu estilo: “O Presidente escala seus ministros e eu escalo o meu time”. Foi o bastante para que isso fosse entendido como uma ofensa ao principal mandatário do país. Estava, então, sacramentada, a sua demissão do cargo de técnico da seleção, sendo substituído por Zagallo.
Tudo aconteceu como o governo queria: a seleção tricampeã, o país em festa, e o sistema faturando popularidade em cima disso. Médici apresentou-se para todos nós brasileiros, como um dos grandes estimuladores para que a seleção canarinha conseguisse a consagração. E ninguém teria a ousadia de contestar essa verdade que nos foi empurrada de goela abaixo.
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Rui Leitão