Processo de asilo à jovem saudita que fugiu de seu país levará dias, diz ONU
O processo para dar status de refugiada à jovem saudita Rahaf Mohammed al Qunun, que fugiu de sua família após renunciar ao islã e rejeitar um casamento arranjado, levará dias, informou nesta terça-feira o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), que acrescentou que um possível destino para ela será analisado mais tarde.
“O processo para atender à sua solicitação de asilo acaba de começar e não há um tempo limite, pode levar vários dias segundo o procedimento normal”, destacou em entrevista coletiva em Genebra o porta-voz do Acnur, Babar Baloch.
Se Rahaf conseguir obter a condição de refugiada, “serão buscadas soluções para ela, baseadas no apoio que o Acnur recebeu de outros países”, destacou o porta-voz, que afirmou que é cedo “para especular” se a jovem ficará na Tailândia ou irá para outro lugar que lhe ofereça asilo.
A jovem chegou no sábado ao aeroporto internacional Suvarnabhumi de Bangcoc em um voo vindo do Kuwait, com a intenção de viajar para a Austrália, mas, segundo a jovem, um funcionário da companhia aérea Kuwait Airways confiscou seu passaporte e lhe comunicou que seria obrigada a embarcar em um voo de volta ao emirado.
“Sua viagem foi interrompida no Aeroporto de Bangcoc, onde foi retida e acabou em um quarto de hotel, no qual deu início a seu pedido de ajuda”, relatou hoje o porta-voz do Acnur, que destacou que o este órgão das Nações Unidas agiu logo em seguida, fazendo contato com as autoridades tailandesas.
“Rapidamente pedimos (aos tailandeses) que não deportassem a jovem, nem a levassem para uma situação onde poderia estar em perigo”, afirmou Baloch, que acrescentou que o Acnur agradece as demonstrações internacionais de apoio para a jovem no mundo todo, depois que os tweets de Rahaf pedindo ajuda se tornaram virais.
O porta-voz do Alto Comissariado assinalou hoje que a Tailândia não é signatária da Convenção sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951, mas assegurou que isto não é um empecilho para que o país dê asilo a pessoas como Rahaf, já que há mais de 100 mil refugiados em território tailandês, principalmente procedentes da vizinha Mianmar.
Sobre a situação atual da jovem, a fonte oficial ressaltou que ela passou por “uma dura experiência” e está “angustiada”, mas reiterou que Rahaf está “em um lugar seguro em Bangcoc” e em contato com funcionários do Acnur, que ontem e hoje falaram com ela.
Sobre a possibilidade de familiares da jovem saudita viajarem para a Tailândia para tentar convencê-la a voltar, Baloch afirmou: “temos que cumprir seus desejos sobre quem quer ou não ver”.
Rahaf garantiu hoje através do Twitter que pediu asilo ao Canadá, enquanto espera a confirmação da Austrália, o país para o qual se dirigia originalmente antes de ficar retida na Tailândia, se cancelou ou não seu visto.
A embaixada da Arábia Saudita na Tailândia afirmou em comunicado que não tem qualquer envolvimento na retenção da jovem em Bangcoc ou no suposto confisco de seu passaporte.
A ONG Human Rights Watch documentou muitos casos de mulheres sauditas que tentam fugir da opressão de seu país, onde a população feminina precisa de permissão de seus “guardiões masculinos” para viajar, se casar e, em algumas ocasiões, para trabalhar.
Agência EFE