PM prende Boulos em reintegração de posse em São Paulo
Com bombas, balas de borracha, gás lacrimogênio e muita violência, a tropa de choque da Polícia Militar executou na manhã de hoje (17) ação de reintegração de posse da Ocupação Colonial, na região de São Mateus, zona leste de São Paulo. No local, cerca de 700 famílias ocupavam uma área composta por dois terrenos particulares e um terreno da prefeitura e que agora não tem para onde ir.
Dezenas de policiais do batalhão de choque, além de caminhões blindados, estavam concentrados desde o início da manhã. A Justiça de São Paulo decidiu pela reintegração há cinco dias. Os moradores da ocupação tentaram negociar o adiamento da desocupação para que, ao menos, as famílias fossem devidamente cadastradas em programas de habitação da prefeitura.
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) também chegou a entrar com ação pedindo a suspensão da reintegração. Ainda assim, a reintegração foi executada, antes mesmo que a Justiça pudesse julgar o pedido do MP.
Lideranças do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) pediam que os policiais aguardassem algumas horas até o horário de abertura do Fórum, quando o recurso poderia ser julgado. “Se o juiz acata esse pedido de adiamento, olha a situação que vai se criar”, apelava Guilherme Boulos, líder do movimento.
“Um terreno abandonado há mais de quarenta anos. Ninguém nunca fez nada. Agora que a gente fez alguma coisa para sair do aluguel, eles vêm tomar”, reclamou outro morador.
Os moradores chegaram a esboçar resistência, com uma barricada na rua de acesso à ocupação. Há relatos de moradores feridos, repórteres que sofreram asfixia devido ao uso de gás lacrimogênio pelos policiais, e até animais de estimação machucados pela ação policial. A repórter da Rádio Brasil Atual, Anelize Moreira, também passou mal, por efeitos das bombas de gás.
É a primeira reintegração de posse executada na gestão do prefeito João Dória (PSDB), que afirmou diversas vezes que não iria tolerar ocupações.
Até às 9h30, os moradores ainda acompanhavam a desocupação e tentavam retirar seus pertences. Eles deverão rumar para um novo acampamento, ainda sem local definido. “Não tenho lugar. Não sei o que vou fazer. Vou por as minhas coisas na garagem de uma amiga, e não tenho para onde ir. Sou sozinha, tenho 70 anos. Não sei o que fazer da minha vida”, relatou uma moradora da ocupação. Os moradores da Ocupação Colonial encontravam-se dispersos pela região, abrigados da chuva por vizinhos. As crianças foram abrigadas em uma igreja também nas proximidades.
Em sua página no Facebook, o MTST comunicou que Guilherme Boulos, havia sido preso pela PM de São Paulo. Em nota, o movimento classifica a prisão como “absurda” e ressalta que Boulos esteve o tempo todo procurando uma mediação para o conflito. Boulous foi preso por desobediência, e conduzido ao 49º DP, onde presta depoimento.
Leia a nota na íntegra:
“Prisão absurda de Guilherme Boulos
O companheiro Guilherme Boulos, membro da coordenação nacional do MTST, que estava acompanhando a reintegração de posse da ocupação Colonial, visando garantir uma desfecho favorável para as mais de 3000 pessoas da ocupação, acaba de ser preso pela PM de São Paulo sob a acusação de desobediência civil.
Um verdadeiro absurdo, uma vez que Guilherme Boulos esteve o tempo todo procurando uma mediação para o conflito.
Neste momento, o companheiro Guilherme está detido no 49ª DP de São Mateus.
Não aceitaremos calados que além de massacrem o povo da ocupação Colonial, jogando-os nas ruas, ainda querem prender quem tentou o tempo todo e de forma pacífica ajuda-los.
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto”
Brasil 247