Pesquisadores afirmam ter encontrado antepassado mais antigo do homem
Paris – O primeiro parente conhecido dos seres humanos era provavelmente uma criatura em forma de saco que ingeria e expelia pelo mesmo grande orifício, e que viveu há cerca de 540 milhões de anos, segundo um estudo publicado nesta segunda-feira na revista científica Nature.
Fósseis surpreendentemente bem preservados da minúscula criatura aquática, conhecida como Saccorhytus, foram descobertos na província de Shaanxi, no centro da China, informaram os pesquisadores. Vários ramos importantes da evolução começaram a partir deste organismo discreto, e um deles levou eventualmente aos seres humanos, especulam os cientistas.
“Isso pode representar o início primitivo de uma gama muito diversificada de espécies, incluindo nós mesmos”, disse o coautor do estudo Simon Conway Morris, professor da Universidade de Cambridge, na Grã-Bretanha. O Saccorhytus pertence a uma ampla categoria de organismos chamados deuterostômios, e é o mais antigo espécime desenterrado até agora.
Os pesquisadores acreditam que todos os deuterostômios – que incluem vertebrados (como os humanos), equinodermos (estrelas do mar e ouriços do mar) e outros grupos distintos – derivaram deste antepassado comum, segundo o estudo. A olho nu, os fósseis parecem grãos pretos de areia, “mas sob o microscópio, o nível de detalhe é impressionante”, disse Morris.
A característica mais distinta desse animal em forma de saco é uma grande (em relação ao resto de seu corpo) boca rodeada por uma série de pregas. O animal provavelmente engolia partículas de alimento e criaturas microscópicas.
Curiosamente, os pesquisadores não encontraram nada correspondente a um ânus, levando-os a concluir que os resíduos eram expelidos através do mesmo buraco pelo qual eram ingeridos. O corpo da minúscula criatura também contava com oito aberturas em forma de cone, que talvez permitissem a evacuação da água ingerida. Estes orifícios podem ter sido os “precursores das fendas branquiais”, disse Morris.
Os pesquisadores não excluem que o animal tivesse receptores sensoriais, mas não encontraram evidências da presença de olhos. Para os cientistas, por trás desse mini-monstro, o Saccorhytus escondia um “nível notável de complexidade orgânica para um estágio tão precoce da evolução animal”.
Os fósseis datam do início do período Cambriano, de 53 milhões de anos, que testemunhou uma explosão dramática de evolução e diversidade biológica. O período terminou com o primeiro de cinco grandes eventos de extinção que ocorreram ao longo dos 500 milhões de anos seguintes. Cientistas dizem que atualmente a Terra está experimentando uma sexta extinção em massa, causada por impactos humanos, como as mudanças climáticas.
AFP