JOÃO PESSOA

Para sobreviver, cordelista vende suas histórias nos ônibus de João Pessoa

A lenda dos gatos da Universidade Federal da Paraíba, do Saci-Pererê, a vida de Luiz Gonzaga e até de Seu Lunga são algumas das histórias que inspiram o cordelista Robson Jampa a escrever sua literatura.

Os livretos são vendidos ao preço de R$ 1 nos transportes coletivos de João Pessoa e vêm conquistando os leitores. Aos 42 anos, o autor encontrou na literatura de cordel um novo jeito de viver e chega a percorrer 60 ônibus todos os dias para divulgar o trabalho.

Quando criança, Robson teve o primeiro contato com o cordel e, há cerca de dois anos, decidiu fazer do hobby sua profissão.

“Antigamente, eu já conhecia a literatura porque meus avós tinham várias gavetas cheias de cordéis antigos. Foi passando o tempo e eu comecei a me interessar por cultura popular “. Com dificuldades para conseguir emprego e poucas alternativas, ele decidiu apostar na arte. “É na fábrica do ‘eu mesmo’, monto a história toda, imprimo uma folha matriz, vou na copiadora, rodo os cordéis e consigo vender todos”, disse. São cerca de 1,5 mil livros quinzenalmente.

Foto: Sérgio Ricardo/DIÁRIOPB

Inicialmente, o cordelista vendia suas criações no comércio de João Pessoa e aos conhecidos, mas foi nos coletivos da capital paraibana que o investimento começou a crescer. “Comecei a vender onde eu passava, eu ainda não tinha aquela coragem de vender dentro do ônibus. Como as vendas ainda estavam poucas, não estava dando para suprir a demanda de contas e de responsabilidades que eu tinha para arcar”.

Nos transportes, é comum encontrarmos diversas pessoas vendendo os mais variados produtos, desde pipocas e doces até escovas de dente e gel de massagem. “Todo mundo vende alguma coisa dentro do ônibus. Por que eu não vou vender o cordel? Vou arriscar. E aí deu certo. Acabou pegando, eu vendo literatura popular e nada é mais popular do que o coletivo. É uma grande vitrine”.

Das histórias, a mais pedida pela população é a que conta a história de Seu Lunga, um morador de Juazeiro, no Ceará, conhecido pelo seu jeito áspero. Outra história muito famosa é “A lenda dos gatos da UFPB” sobre os alunos que são jubilados, ou seja, não concluem os cursos e acabam se transformando em gatos. “Lá tem essa historinha que se você não concluiu o curso você vira gato. Eu peguei, passei para o cordel e foi um sucesso danado! Já tem o volume dois explicando como surgiu a lenda, e o pessoal já está pedindo a sequência”, brincou.

A fama ultrapassou os corredores dos ônibus e chegou às escolas. Robson Jampa também ministra oficinas voluntariamente em colégios públicos da capital, ensinando aos mais novos os principais autores do segmento, como construir seu próprio cordel e suas regras e, acima de tudo, a importância de propagar essa cultura.

Além disso, o escritor já apresentou o show “Cordel com humor”, no Teatro Ednaldo do Egypto, em Manaíra. “Surgiu a ideia de montar um espetáculo baseado na literatura de cordel e, devagarinho, estou montando a ideia”.
O cordelista é grato por poder mostrar uma cultura que atravessa séculos, gerações e permanece viva em meio à era digital. “Eu consigo viver do cordel e usar a tecnologia a favor dele. A cultura popular não morre, o pessoal não deixa de ler o cordel porque tem toda a magia de ter o papel nas mãos. É uma via de mão dupla, estou sobrevivendo e levando a cultura popular por onde eu passo”, finalizou.]

Fonte: Op9

Redação DiárioPB

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