“Ou isto ou aquilo”. Qual a marina de verdade a que defendia o verde das matas ou a que apoia o verde do dólar?
Se existe algo numa pessoa que me deixa cético é a contradição interna no seu discurso. Isso ocorre, sobretudo quando sentenças performativas entram em colisões prática ou teoricamente no interior de um discurso, que se arvora coeso, coerente, tributário do bem e que se apresenta como o único que irá construir o melhor dos mundos possíveis, humana e socialmente falando. A mim, soam-me estarrecedoras as mudanças de opinião e as tentativas de equacionamento de elementos heterogêneos e contraditórios num programa de governo que se afirma popular e em prol da vida. Escreveu (Sto) Inácio de Loyola, nos seus Exercícios Espirituais, no século XVI, que para sabermos se uma coisa será (ou foi) boa, temos que analisar seu começo, meio e fim e ver se estão de acordo com e a serviço do bem. Se sim, pode-se reputar esse ato de bom. A julgar por esse critério, a campanha à presidência da senhora Marina Silva começa muito mal.
Para início de conversa não sei direito por onde começar este apontamento, sim, porque há muitos pontos sensíveis, como dizem os franceses, que merecem menção no programa da candidata. A princípio, meu receio com a Marina era o problema da religião de cunho fundamentalista. Também algo que foi noticiado sobre o envolvimento de seu marido, Fábio Vaz de Lima, com transações não muito ortodoxas, inclusive seu nome aparece acusado, em processo do STF, ao lado de Roseana Sarney. Vejamos, do lado de quem seu nome figura, subtende-se que ele não é amador. Mas quando eu assistir a sua performance no debate da Band, caí das nuvens, e olhem que não sou anjo! Naquele debate, para quem pensa, observa, capta o que há nas entrelinhas e no subsequente, ela deixou claro que, se eleita for, sua gestão será catastrófica. Direi por que.
Findou por dar uma saraivada de destempero político, com equívocos que não enganam mais a ninguém.Rendeu homenagem a FHC, dizendo que o convidará, caso seja eleita, para administrar com ela; disse que vai governar com os melhores, isto é, a elite que, no atual entender dela, ou não existe no Brasil ou todos o são, (isso já comentei no texto anterior). Voltemos aos “seus melhores”: quem são os melhores para ela? A partir de quais paradigmas serão classificados como tais? Quais critérios serão usados para dentre os melhores, escolher os seus melhores? A priori isso parece uma incógnita, mas não o é. O discurso atual da candidata Marina soa igual ao sórdido discurso do governo FHC, ou seja, agressivamente neoliberal. Para os desavisados, o neoliberalismo, em rápidas pinceladas, é a plutocracia; governo dos ricos.Neste tipo de governo, mais do que o atual, quem pode mais chora menos; as instituições financeiras decidem a política, esta não interfere na economia nem no comércio nem nas relações trabalhistas (lembrem-se de que no famigerado governo FHC, vários direitos trabalhistas conquistados foram completamente relativizados). Num sistema neoliberal, o Estado só é chamado quando as instituições financeiras falem, por dolo ou imperícia, para pagar a conta, e assim recuperar o patrimônio particular como dinheiro do contribuinte, como ocorreu várias vezes no governo FHC e também quando da crise financeira de 2009. Assim, pode o Estado participar. Mas para regulamentar e salvaguardar direitos dos mais fracos ou o bem-estar social o Estado é rechaçado. É por isso que no seu plano de governo a candidata apregoa a independência do Banco Central. Alguém está com saudade do FHC? (talvez “os melhores” da Marina estejam saudosos!!!). Vai um “repeteco” aí? Se o original não prestou o que dizer do decalque? Minha mãe dizia que café requentado costuma fazer mal.
Vale lembrar que a atual equipe de Marina é capitaneada por André Lara Resende, ex-presidente do BNDES no governo FHC, e o seu vice o Beto Albuquerque, foi responsável pelo projeto de lei que volta a liberar o uso indiscriminado de inibidores de apetite, isto é, emagrecedores, à base de anfetaminas, substância muito nociva à saúde, não por acaso proibida em vários países da Europa. Então, na visão de um parlamentar que toma tal atitude, inclusive passando por cima da resolução proibitiva da Anvisa, ocorrida em 2011, o que conta é o lucro dos ricos, donos de laboratórios.
Só mais um lembrete: os melhores, em grego se diz “aristós” é daí que vem o conceito e a prática da Aristocracia, que significa “o governo dos melhores”, trocando em miúdos, “os poderosos”. O povo, se quiser dias melhores, tem de abrir os olhos.E se não há ninguém bom, isto é fato, escolha o menos pior; como dizia Inácio de Loyola, se não se pode alcançar o bem maior, esforce-se para fazer o mal menor. Isso é o que se chama de voto estratégico. Pois, sempre é possível piorar.
É esta a nova política da candidata Marina Silva?! Como vimos esse modelo político vem dos antigos, tão velho quanto à opressão! Fiquemos por aqui.