Tem dias em que a vida resolve nos lembrar que, por mais que estejamos imersos em telas, notificações e projetos, o mundo real ainda é o melhor palco das histórias mais inacreditáveis. Hoje, por exemplo, vivi uma cena digna de cordel, ali num boteco perto de casa, no bairro do São Bento, na cidade de Bayeux, na Paraíba.
Depois de uma semana inteira trabalhando em casa, entre artes gráficas, vídeos e reuniões para futuros projetos, decidi dar um tempo. Fui ao “Barraca da Teté”, aquele boteco raiz, para tomar umas doses de cachaça e lavar a alma com uma cervejinha gelada. Era de noite, céu cor de chumbo e o som da cidade dando lugar ao burburinho dos bares.
Foi quando a cena começou.
Do nada, apareceu um senhor montado… num burro. Sim, num burro. Chegou tranquilo, desceu do animal com elegância de quem faz isso a vida toda e disse ao dono do bar: Deixa ele descansar. Dá uma água aí.
O burro, obediente como um cão bem treinado, bebeu do balde e ficou parado, em silêncio, como se também estivesse curtindo a noite. O senhor não falou muito. Apenas montou novamente, como um vaqueiro de novela sertaneja, e partiu. E partiu rápido. Tão rápido que o burro parecia um cavalo de corrida. Sumiram na esquina como se fossem parte de uma cena mágica. Por sorte, eu estava com o celular na mão e gravei tudo. Ninguém ia acreditar sem prova.
Mas o melhor ainda estava por vir.
Pouco depois, chegou um travesti em cima de um patinete, acompanhado de uma cabrita de estimação, dessas que a gente só vê em meme de internet. Ela caminhava tranquila ao lado, como se fosse um poodle. A dona do cabrita pediu uma bebida, ficou por ali, e eu, ainda no batente do boteco, com meu copo de cachaça no chão e um cigarro na mão, observava tudo com aquele prazer de quem vê a vida acontecer fora do Instagram.
Foi então que a cabrita, num movimento delicado e preciso, se agachou… e mijou dentro do meu copo. Isso mesmo: dentro do meu copo de cachaça.
Eu, incrédulo, fotografei. Não dava para não registrar. As gargalhadas ao redor foram imediatas. Uma mulher quase caiu da cadeira. Três cachorros começaram a brigar ali do lado, como se também fizessem parte da comédia.
Ficamos falando da cena por um bom tempo, rindo como crianças. E eu fiquei pensando: será que esses bichos não estavam tentando nos dizer alguma coisa? Talvez nos lembrando que ainda existe vida fora das redes sociais. Que ainda há histórias para viver, e não só para compartilhar.
No fim, voltei pra casa com um vídeo, um foto da cabrita, um copo vazio, e uma lição inusitada. Como diria Chicó, em O Auto da Compadecida: “Só sei que foi assim.”
Crônica baseada em fato real
Por Sérgio Ricardo